“Há menos de um mês alguns parlamentares ingleses estavam passando para seus eleitores e simpatizantes os resultados de uma votação legislativa ignorando o papel da imprensa como mediador entre tomadores de decisões e o público. As sessões do parlamento já são transmitidas ao vivo pelo rádio que é onde a imprensa monitora o trabalho legislativo. Mas o Twitter atropelou esta mediação ao estabelecer contato direto entre a fonte da notícia e o consumidor de informações.
Aqui no Brasil, quase ao mesmo tempo, o presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo, anunciou pela sua página no Twitter o fim das negociações para contratar Muricy Ramalho como técnico do clube paulista. Belluzzo passou a se comunicar com a torcida palmeirense sem passar pela imprensa. A moda deve pegar porque os tomadores de decisões têm agora um canal direto com a opinião pública, sem terem que enfrentar os questionamentos e as idiossincrasias da imprensa.
Aqui no Brasil já temos 17 senadores e 47 deputados federais inscritos pelo Twitter. Isto pode aproximar o público dos tomadores de decisões, em especial os membros do poder legislativo, do seu público alvo. Trata-se de uma aproximação de mão dupla porque os eleitores também estão criando os seus canais de cobrança e monitoramento da atividade parlamentar, o que pode contribuir para o saneamento tanto do Senado como da Câmara de Deputados.
Mas também vão surgir problemas. No caso dos parlamentares britânicos Tom Watson e Jim Knight, na pressa de avisar seus eleitores, eles acabaram passando resultados equivocados da votação e tiveram que voltar atrás. Outra possibilidade real é o surgimento de uma cacofonia informativa pelo Twitter, tornando necessária uma depuração e contextualização das notícias transmitidas pelo sistema de micro-mensagens.
Para os repórteres e editores, a ampliação do uso do Twitter marca mais um passo na direção do fim da era do furo jornalístico. É também um novo empurrão no sentido da transformação dos profissionais em orientadores e contextualizadores das informações passadas ao público pelos tomadores de decisões e formadores de opiniões.
A grande diferença é que o foco dos jornalistas deixa de ser a simbiose com o poder político e econômico para voltar-se cada vez mais para o público, reconstituindo aquilo que está na origem do jornalismo, o caráter social da atividade informativa.
FONTE: texto de Carlos Castilho, publicado no “Observatório da Imprensa” e no site “Vermelho” em 17/07/2009.
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