“Conforme eu previ neste mesmo espaço, em coluna anterior, a direita estava em “xeque”. A depender da evolução poderia sofrer um “mate”. Ela optou por “oferecer” um empate e desistir do jogo para não levar o “xeque mate”.
O xadrez é um jogo extraordinário porque guarda enorme semelhança com a vida real. E nem poderia ser diferente, uma vez que desenvolvido para dar conta de táticas militares. No xadrez, recomenda o bom senso, não se deve jogar sem ter presente três regras essenciais: determinação em enfrentar a batalha, não fazer movimentos (ações) aleatórios, impensados e não subestimar o adversário.
Cada uma dessas premissas exige, naturalmente, condições objetivas concretas sem o que o enunciado não passará de retórica. Na questão política tais premissas são o equivalente a efetivamente querer investigar algo ilegal e imoral; não fazer bravatas políticas que não se possa sustentar e ter a necessária correlação de forças para deflagrar a ação.
O desfecho da última (mas não final) tentativa da direita em tomar de assalto o senado da república e a partir dali tentar inviabilizar o governo Lula e – por que não? – tentar um impeachment do presidente é um belo exemplo para esse exercício prático.
No atual entrevero o “escolhido” foi Sarney. Poderia ser qualquer um que lá estivesse. A revelação de que os tais “atos secretos” existem há mais de 10 anos evidencia que o real motivo da ação da direita não é, lamentavelmente, a busca da moralidade e sim a perpetuação da imoralidade e da chantagem como instrumento de ação política.
Mas a direita não tinha presente as regras do apaixonante e intrincado jogo de xadrez.
A começar pela determinação. Jamais poderia levar adiante sua ação contra Sarney sem ver o mandato de alguns dos seus serem degolados, dentre os quais o do líder do PSDB (Artur Neto). Afinal as acusações contra o líder tucano – aliás, assumidas por ele como verdadeiras – são bem mais graves do que as levantadas contra o presidente do Senado.
As ações, os movimentos até que foram bem coordenados. Mas lhes faltava legitimidade. Assim, tal qual no xadrez, quando se move uma pedra intempestivamente e se é obrigado a recuar - perdendo tempo e objetividade – a direita foi obrigada a recuar de vários movimentos para não levar cair no “mate louco”, quando o xeque é aplicado no início do jogo.
E, finalmente, ela não considerou a correta correlação de forças. Imaginou que bastava o apoio incondicional da chamada grande mídia - a mesma que tentou depor Hugo Chaves na Venezuela, chama de “terroristas” os combatentes das FARC e ataca a todos os lideres de esquerda em cargos de comando presidencial – para viabilizar seu intento. Não ponderou que a correlação de forças não é apenas numérica. Há, também, aspectos subjetivos a serem considerados como, por exemplo, a real capacidade de atacar sem ser atacado. Tudo que a direita jamais, em algum, foi capaz de ostentar.
Acuada e desmoralizada diante de quem tem bom senso – e a maioria do povo tem – foi obrigada a recuar e oferecer “empate” para não sofrer um “xeque mate”. No xadrez o “empate” é concedido pela generosidade do adversário. Resta saber se as forças democráticas serão generosas a ponto de conceder sobrevida a quem perdeu a batalha.
Como parte dessas forças democráticas tem conteúdo de classe semelhante ao deles, é provável que esse seja o desfecho final. Todos eles se confraternizarão e, momentaneamente, esquecerão os atos secretos do senado. Eles não podem se auto investigar.
Desde o episódio “Severino” a direita não ousava tanto. Como todos recordam a direita imaginava eleger alguém que pudesse manipular dentro desse propósito. Como o eleito se alinhou com o presidente Lula ela tramou a sua deposição. As forças democráticas elegeram Aldo Rebelo (PCdoB) e ela perdeu novamente. Mas não desistiu e não desistirá. Faz parte da natureza golpista e da essência de classe da direita brasileira e mundial”.
FONTE: texto de Eron Bezerra publicado no site “Vermelho” em 19/08/2009.
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