"O linguista e teórico americano Noam Chomsky criticou "a mentalidade imperial" dos Estados Unidos, país ao qual acusou de "exacerbar tensões nos países latino-americanos". Durante palestra, nesta segunda-feira (24), em Caracas, ele afrmou que as bases norte-americanas na Colômbia são parte de um esforço mais amplo para recuperar a capacidade de Washington para a intervenção no continente.
"Anteriormente,(os EUA) ajudavam golpes de Estado ou intervenções militares: esta capacidade diminuiu, mas não desapareceu",advertiu Chomsky, um dos intelectuais mais prestigiosos da esquerda internacional.
Perguntado sobre a utilização de território colombiano como base de operações americana, após o acordo de colaboração militar entre EUA e Colômbia, o acadêmico afirmou que a "Venezuela sozinha não pode ter uma resposta às bases".
"Deve ser um resposta total por parte da comunidade latino-americana, na reunião da Unasul (na sexta-feira em Bariloche, Argentina) deveria ser liberado um comunicado enérgico que se oponha à instalação de bases americanas na América Latina", disse o ativista político. Em um elogio ä Unasul, ele afirmou que é um mecanismo que permite aos países da América do Sul "decidir sobre seu próprio futuro".
Chomsky disse ainda que as bases geram um ambiente extremamente perigoso na região, uma vez que qualquer provocação ou incitação que ocorra até a fronteira de outros países poderia desatar uma guerra. E avaliou que a associação da Colômbia à maior potência armamentista é, por si só, já uma provocação.
O filósofo recordou que, durante muito tempo, na América Latina, as invasões norte-americanas deixaram os países sob governos brutaisde guardas nacionais ou militares. E, segundo ele, o pretexto de combater o narcotráfico na região é para mascarar uma atitude de intervencionismo clara.
Ele informou que a ajuda militar dos Estados Unidos ultrapassa a ajuda econômica e social no hemisfério. "Esse é um novo fenômeno que não ocorreu na Segunda Guerra. Esses programas têm fortalecido as forças militares na região em detrimento de autoridades civis, têm agravado os problemas de direitos humanos e têm gerado conflitos sociais muito importantes e instabilidade política, de acordo com um estudo realizado pelo Escritório de Washington para a América Latina",precisou Chomsky.
Falou também sobre o golpe de Estado de Honduras, que tirou do poder o presidente Manuel Zelaya, e o qual qualificou "de peculiar, porque os EUA não o apoiaram e o criticaram fracamente (...). Mas não fizeram uso de sua enorme influência econômica ou política".
Segundo ele, apesar de Obama não apoiar verbalmente o golpe, os Estados Unidos continuam treinando cadetes deste país na Escola das Américas.
Chomsky se reuniu também com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, que em várias ocasiões elogiou o pensamento e a obra do filósofo e ativista americano. Ao chegar à Venezuela, o filósofo assinalou que o "mais emocionante em estar neste país é ver como aqui se está construindo esse novo mundo possível e estar com um dos homens que o inspirou".
Liberdade de expressão
Chomsky disse ainda que se a liberdade de expressão foi uma conquista dos estadunidenses nos anos 60, hoje ela está sob o controle das grande corporações midiáticas, que pertencem apenas a quem ostenta o poder econômico.
"Nos EUA, o sistema socioeconômico está desenhado para que o controle dos meios esteja nas mãos de uma minoria, dona de grandes corporações (...) e o resultado disso é que debaixo da "liberdade de expressão"estão sempre os interesses financeiros desses grupos", colocou.
Segundo ele, os veículos são experientes em desviar a atençã dos grandes temas para centrar a opinião pública em questões como a moda e o espetáculo em momentos importantes da conjuntura.
Ele falou também do presidente americano, Barack Obama, sobre quem disse não estar desapontado."Obama não é (George W.) Bush. Mas pensar que Obama está operando de maneira diferente da esperada é por causa da inocência de confiar na retórica de Obama", defendeu Chomsky a uma plateia de estudantes e membros do Governo venezuelano.
O ensaísta ressaltou ainda que os meios foram responsáveis pela vitória do atual chefe de Estado, Barack Obama. "Essa decepção com Obama era previsível. Seu lema de campanha foi 'mudança e esperança', porém ele nunca especificou em que sentido e isso é o que eles sabem fazer: vender campanhas políticas como quem vende uma marca de pasta de dentes", colocou.
Nesse sentido, Chomsky avaliou que os Estados Unidos, para poder falar de liberdade de expressào - uma cobrança sempre feita a países como Cuba e Venezuela -, devem permitir o uso dos meios de comunicação sem que essas corporações manipulem o conteúdo dos discursos.
"Falar da paz é, de alguma maneira, fácil (...), o difícil é criar um novo mundo, um mundo diferente", acrescentou o intelectual americano".
FONTE: portal "VERMELHO", em 25/08/2009.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário