“OS ARNS: O VIRTUOSO E O SANDEU
O PT é um partido sem mídia
O PSDB é uma mídia com partido
Conheci o virtuoso pessoalmente, na década de 70. Eu era clandestino aqui e fingia ser ninguém na Itália.
Eu tinha muito nomes, utilizados para manter a integridade numa época em que eletrochoques, afogamentos e assassinatos faziam parte da disputa política.
Dom Paulo Evaristo Arns me pareceu um sujeito prático, menos místico do que eu imaginava. Resolvia as coisas com rapidez, movido por um evoluído senso de “redução de danos”.
Quanto menos gente morresse, melhor.
Arns, o virtuoso, aprendera muito com o Concílio Vaticano II e com o altruísmo pragmático de João XXIII.
Meu interesse, à época, era jornalístico. Procurava divulgar no Exterior a resistência à Ditadura na América Latina.
Nas duas entrevistas, acabamos por falar muito sobre nossa paixão comum, o Corinthians, que nos Anos de Chumbo simplesmente não ganhava nada.
Arns, o virtuoso, tinha uma paixão pelo povo sofrido, que ele via erguer a bandeira do clube dos operários, imigrantes e migrantes.
Nessas ocasiões, convenci-me de que o bom Arns era um homem de valores, ético de verdade. Nem de longe, todavia, me pareceu um moralista.
Por meio da Comissão Justiça e Paz e de outros movimentos, entabulou inúmeras conversações com os cafajestes que mantinham o regime de exceção.
Para poupar vidas, o arcebispo ofereceu mais que absolvição. Prometeu aos verdugos até mesmo o silêncio estratégico.
Como bom negociador, tirou muitas almas das garras do implacável general Milton Tavares de Souza, o Miltinho, homem forte do Centro de Informações do Exército (CIE) e Comandante do II Exército.
O Arns virtuoso (e inteligente) soube negociar com o general Golbery do Couto e Silva. Obviamente, efetuou trocas necessárias, táticas e que certamente seriam aprovadas pelo insurreto de Nazaré.
Ora, mas temos agora outro Arns na cena política. Este, o sandeu, já demonstrou inúmeras vezes que pouco conhece da história do tio.
Politicamente, o parlamentar paranaense, camarada de Álvaro Dias, mistura a vaidade e a ingenuidade. Adora o elogio fácil e a confetaria midiática.
Ao contrário do parente nobre, o discurso de Arns sandeu é ralo, pobre e tem como alicerces os clichês da ética ongolóide.
O Arns sandeu pouco conhece de estratégia política e pratica o moralismo hipócrita dos carolas pré-conciliares.
Não é à toa que esse Arns menor aninhou-se logo entre os rapineiros tucanos. Sua mísera cultura política obteve ali.
Um de seus grandes amigos é o bandalho Arthur Virgílio, o mais imundo dos representantes da Câmara Alta, que costuma santificar em seus discursos de sintaxe torta.
O sandeu moralista faz de conta que seu “chapa” nunca meteu a mão no bolso do contribuinte. Ao mesmo tempo, recusa-se a comentar a intervenção de Virgílio para salvar o comparsa Omar Aziz na CPI da exploração sexual de crianças e adolescentes.
Em Julho, pelos serviços prestados ao anti-lulismo, o Arns sandeu chegou a ser indicado pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra, para ocupar o lugar de Sarney na presidência do Senado, episódio decisivo para convertê-lo em um dos protagonistas do movimento golpista.
Arns, o sandeu, faz de conta que Lina não é pau-mandado, que Agripinos e Tassos são vestais e que a fonte de todos os males do Brasil é o partido (mudo) do operário.
Talvez, o Arns duas caras não seja apenas sandeu, mas também cínico. Saudações à crise, que nos revela o melhor e o pior das pessoas. Saudações ao Arns virtuoso, e que este reserve uma oração ao sandeu”
FONTE: artigo de Mauro Carrara, publicado em 21/08/2009 no site “Vi o mundo”, do jornalista Luiz Carlos Azenha. O autor é jornalista, nascido em 1939, no Brás, em São Paulo. Em Firenze, Itália, estudou arte, ciências sociais e comunicação. Na década de 80, prestou serviços para a ONU em países como China, Iraque e Marrocos. Atua na área de comunicação e relações internacionais.
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