domingo, 20 de setembro de 2009

"CHUVA DE DÓLARES" VITAMINA O REAL

Especialistas preveem entrada de bilhões de dólares em ofertas de ações e investimentos até o fim do ano

"As boas perspectivas para a economia brasileira vão atrair um “caminhão” de dólares para o País nos próximos meses e - provavelmente - anos. É isso que, segundo analistas, explica a forte alta do real em 2009.

Com ganhos de quase 30%, o real é a moeda que apresenta a segunda maior valorização ante o dólar no mundo este ano, atrás apenas do rand da África do Sul. Na sexta-feira, o dólar subiu 0,11% e fechou cotado a R$ 1,809. Mas, como já havia ocorrido quarta a moeda chegou a ser negociada a R$ 1,79.

A valorização do real preocupa o governo, que já estuda medidas para estimular as exportações. Entre elas, estaria a desoneração de empresas exportadoras, além de financiamentos especiais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Para se ter uma ideia, daqui para o fim do ano, espera-se que operações como aberturas de capital (IPOs, na sigla em inglês) e emissões de empresas que já têm papéis em bolsa movimentem até R$ 20 bilhões. Como os investidores estrangeiros têm comprado, em média, de 60% a 70% dos ativos oferecidos, só por esse canal devem entrar no País mais de US$ 5 bilhões até dezembro. A conta é da diretora da Fator Gestão de Recursos, Roseli Machado.

Cientes do grande interesse por ativos brasileiros, várias empresas já anunciaram a intenção de captar no mercado de capitais nos próximos meses: Santander (que, segundo estimativas, pode chegar a R$ 8 bilhões), Cetip (R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões), Gol (R$ 1 bilhão) e Tivit (R$ 750 milhões).

O Investimento Estrangeiro Direito (IED) é outra fonte que tem contribuído para a valorização do real. Entre janeiro e julho, esses investimentos somaram US$ 14 bilhões. A expectativa do mercado, expressa no mais recente boletim Focus do Banco Central (BC), é de que, no ano, o IED alcance US$ 25 bilhões. Para 2010, as perspectivas são ainda mais positivas.

Por fim, as captações de empresas no exterior por meio de bônus dispararam nas últimas semanas. Segundo a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), essas emissões somavam quase US$ 8,4 bilhões até o fim de julho. Mas os números vão engordar bastante por causa de operações como a da Votorantim, que, sexta-feira, captou US$ 1 bilhão nos Estados Unidos. Segundo a companhia, a demanda foi seis vezes maior do que a oferta do papel.

Tanto o IED quanto os recursos para emissões de empresas são explicados pela situação privilegiada do País. “O Brasil é uma das primeiras economias a sair da crise, tem bons fundamentos e reservas internacionais elevadas. Isso favorece tanto o investimento direto quanto o de portfólio”, afirmou o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.

Hoje, a projeção média do mercado para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010 está entre 4% e 4,5%, mas já começa a convergir para 5% ou mais. Algumas casas, como a Quest Investimentos, já trabalham com um avanço do PIB de até 6% no ano que vem. “É uma expansão muito superior à média mundial”, observou Rosa.

O analista de mercados emergentes da corretora Icap Brasil, Felipe Brandão, explicou que, nesse cenário, os investidores “antecipam o fluxo (de dólares) esperado para o País”. A posição dos investidores estrangeiros na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) dá uma dimensão do que fala Brandão.

No início do ano, os fundos estrangeiros apostavam fortemente na valorização do dólar - em janeiro, a posição líquida deles em contratos futuros de câmbio era de US$ 13,3 bilhões a favor do dólar. Essa posição começou a mudar em março e, na semana passada, chegou a US$ 900 milhões ainda a favor do dólar. Mesmo assim, nesse período, a mudança de posição envolveu mais de US$ 12 bilhões. Esse valor é duas vezes maior do que o fluxo físico de dólares.

Há, ainda, outro movimento que favorece o real neste momento: a alta das commodities. O Brasil é o maior exportador de soja, carne e minério de ferro do mundo. De janeiro até a última sexta-feira, o índice CRB (síntese da variação de preços de várias commodities) acumulava valorização de 13,2%. O petróleo, sozinho, subia quase 26% no mesmo período. Se tudo correr como se espera hoje, em alguns anos, o País se tornará também um dos maiores exportadores globais de petróleo."

FONTE: reportagem de Leandro Modé publicada no "O Estado de São Paulo" de hoje (20/09) e postada no blog de Luis Favre.

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