"Programas sociais e bom desempenho econômico elevam popularidade de Lula, mas progresso não deve ser superestimado
Luiz Inácio Lula da Silva entra no último ano de seu segundo mandato ostentando a maior popularidade já obtida por um presidente da República desde que o Datafolha começou a fazer essa avaliação do governo federal, em 1990.
Conforme os números da pesquisa realizada entre os dias 14 e 18 de dezembro, Lula atingiu 72% de aprovação (ótimo/bom), contra apenas 6% que avaliaram seu governo como ruim ou péssimo. O percentual dos que consideram seu desempenho regular é o menor já verificado -21%.
O significado do fenômeno Lula fica ainda mais evidente quando contrastado, por exemplo, com a popularidade de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, em dezembro de 2001, decorridos também sete anos de governo tucano. FHC tinha então uma aprovação de 24%, contra 35% que avaliavam sua gestão como ruim ou péssima.
O ano de 2002, último de FHC, foi marcado por agudas incertezas na economia, em parte derivadas da perspectiva de vitória de Lula. [quadro negativo propagandeado por FHC/PSDB/PFL-DEM/Grande mídia, para incutir medo no eleitor; estratégia que se demonstrou ineficaz].
Ninguém pode prever que surpresas nos reservará a política, mas o cenário para a economia em 2010 é favorável, com estimativas de crescimento em torno de 5%. Há, pois, condições para Lula encerrar o mandato com aceitação expressiva.
Vale lembrar que, no momento mais crítico da passagem de Lula pelo poder, em meados de 2005, sua popularidade sofreu abalo significativo. Em agosto daquele ano, dois meses após esta Folha ter revelado o escândalo do mensalão, a aprovação do presidente atingiu o menor nível: 31%, contra 26% que qualificavam a gestão de ruim ou péssima. Na ocasião, 83% dos eleitores diziam acreditar que havia corrupção no governo federal [os mensalões do PSDB e do DEM foram minimizados ou omitidos pela grande mídia, empenhada na volta da direita ao poder].
A curva da aprovação de Lula ao longo do segundo mandato é ascendente, com leve recuo em março deste ano, que se pode atribuir à crise mundial. A maneira como o Brasil atravessou a tormenta global acabou consolidando o apoio popular ao governo num ano que, de resto, foi marcado por vários eventos de grande impacto simbólico -do pré-sal até a escolha do Rio como sede olímpica em 2016.
Dos programas sociais à alta no salário mínimo, passando pela retomada do emprego, há razões que ajudam a explicar a percepção popular do governo. Não se pode, porém, perder o sentido de continuidade dos avanços do país desde a conquista da estabilidade monetária. Tampouco se devem, em contrapartida, superestimar os efeitos do progresso numa sociedade ainda muito desigual, que nem sequer universalizou saneamento e habitação e apresenta índices medíocres de qualidade em saúde e educação.
Em si mesma um dado positivo, como termômetro de satisfação social, a popularidade de Lula tem servido de pretexto ou de ocasião para "investidas autoritárias" [a mídia quer criar essa imagem negativa de Lula, sem sucesso], muitas vezes mais manifestas nos áulicos que o rodeiam do que no próprio presidente.
Lula alimenta o culto à sua personalidade e dele se serve, mas percebeu que a sociedade e as instituições não permitiriam que especulações sobre um terceiro mandato prosperassem. É uma pena que o presidente não tenha aproveitado sua legitimidade para oxigenar a política. Seu governo desde o início fez a opção pela fisiologia e renovou o pacto com o atraso em troca da comodidade no poder."
FONTE: editorial de hoje (01/01/2010) do jornal Folha de São Paulo, dedicado à volta da direita ao poder, com Serra/PSDB/DEM/PPS, mas que não consegue esconder méritos de Lula/PT [trechos entre colchetes colocados por este blog].
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