domingo, 12 de setembro de 2010

A ECONOMIA ARRUMADA E A SURRA DOS FATOS

Rodrigo Vianna

“Nos anos 70, o Brasil crescia num ritmo que hoje qualificaríamos como “chinês”. Só que não distribuía renda. Sob ditadura militar, os czares da economia (como o professor Delfim Neto) diziam que era preciso “fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”. Na oposição, a turma de economistas do MDB (Maria Conceição Tavares e Celso Furtado eram as bússolas dessa turma) dizia que era possível, sim, crescer e distribuir renda – ao mesmo tempo. Não foram ouvidos.

O modelo de concentração dos militares deixou o Brasil mais injusto, e ainda nos legou a hiperinflação, que explodiu no colo de Sarney.

Quando o MDB chegou ao poder, a casa estava tão desarrumada que eles não conseguiram dar jeito: Planos Cruzado 1 e 2, Bresser… E nada. O caldo entornou, e o liberalismo à moda Margareth Tatcher parecia a única receita à mão.

Nos anos 90, sob FHC, o Brasil controlou a inflação, mas esqueceu de crescer. Limitações estruturais, diziam os tucanos, impediam o país de ter uma economia equilibrada e forte ao mesmo tempo. Parecia maldição.

Sob Lula, finalmente, a equação fechou. Hoje, temos crescimento semelhante ao da época da ditadura, distribuição de renda e inflação sob controle. Não é à toa que Conceição Tavares (que também foi professora de Serra) escolheu votar em Dilma.

O governo petista botou em prática a receita dos economistas do MDB. Lula expandiu o mercado interno, transformou o capitalismo para poucos (marca brasileira) num capitalismo para muitos. É um governo social-democrata, com tinturas brasileiras. Mercado relativamente livre, mas com a mão do Estado sempre pronta para agir. Estado democrático, aberto e plural – diga-se, nesse momento em que os tucanos desesperados apelam e tentam vender a imagem de que o país caminha para a ditadura. Só rindo muito…

O Banco Central acaba de sinalizar que os juros devem voltar a cair no Brasil. O “Estadão” até deu um tempo nas manchetes sobre o “escândalo” da receita, para reconhecer o óbvio. E por que os juros caem? Porque a inflação voltou pra perto de zero (pelo terceiro mês seguido). No acumulado de 12 meses, a taxa está abaixo da meta de 4,5%. Ao mesmo tempo, a economia cresce em torno de 7% a 8%. E a miséria se reduz.

Ah, o Lula tem sorte, diziam meus amigos tucanos durante o primeiro mandato. “Ele não pegou crises bravas, como o FHC”.

Aí veio 2008, os EUA desmancharam (a tal ponto que brasileiros compram até o Burger King), e a Europa ameaçou ruir…

E o Brasil?

O Brasil cresce, com inflação sob controle e distribuição de renda. Isso é sorte? Ou é escolha e ação?

Quando a crise veio, há dois anos, os “consultores” liberais diziam que Mantega/Lula estavam errados por expandir o gasto público e usar os bancos estatais na reação ao tumulto financeiro mundial. A velha receita dos consultores e economistas atucanados era: apertar o cinto, reduzir gastos. Isso teria lançado o Brasil numa espiral invertida, de estagnação e desemprego.

Lula/Mantega fizeram a escolha oposta: gastar, e colocar os bancos estatais pra emprestar. Ajudaram a economia a reagir, não com dinheiro público a fundo perdido na mão de banqueiros e empresário privados (como fizeram Obama e Merkel, por exemplo). Mas com empréstimos, que serão pagos.

Por que o Brasil pode reagir à crise? Porque não privatizou seus bancos públicos. Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e BNDES cumpriram um papel decisivo. O programa tucano incluía privatizar tudo, como se fez na Argentina – sob Menem.

O desafio de Dilma é manter tudo isso, e recuperar a capacidade de inovação da Indústria brasileira. O país não pode mais assistir sua balança comercial ser engordada quase que apenas com produtos primários. O Brasil precisa escolher alguns setores-chave e fortalecer sua indústria nessas áreas. O Brasil precisa ter montadora nacional de carros, fábricas de computadores (ou, ao menos, de componentes para computadores). Esse é o desafio. Não podemos andar pra trás e virar uma fazenda pra alimentar chinês!

Poucos países no Mundo possuem a estrutura pública para crédito que o Brasil conseguiu manter. Os EUA não têm um BNDES. A China tem ferramentas parecidas com as brasileiras. Mas sob partido único, e sem liberdade.

Não se trata de discurso de “jornalista petralha”, como dizem por aí blogueiros (eles, sim) apedeutas e sujos.

Não é à toa que economistas não-alinhados com os velhos liberais brazucas reconhecem os avanços. Como fez o italiano Pier Carlo Padoan, em entrevista à BBC.

E não é à toa que a Ana – a moça que faz a limpeza e a arrumação lá em casa – chegou outro dia para trabalhar dirigindo o carro que comprou – financiado.

Perguntei para a Ana o que ela acha das denúncias contra o Lula. “No meu bairro, lá na periferia da zona leste, ou na minha terra, lá na Bahia, se o sujeito falar mal do Lula e da turma do Lula, ele corre o risco de apanhar.”

Bem, de certa forma, é o que os tucanos estão aprendendo agora. Estão levando uma surra. Quanto mais usam a velha mídia para bater no PT e em Lula, maior é a pancada que lhes volta na testa.

É uma surra dos fatos, dos números da economia. E vai virar uma surra de votos.”

FONTE: escrito pelo jornalista Rodrigo Vianna em seu blog “Escrivinhador” (http://www.rodrigovianna.com.br/forca-da-grana/a-economia-arumada-e-a-surra-dos-fatos.html#more-3441).

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