“Uma enxurrada de críticas caiu sobre o governo de Sarkozy por sua decisão de expulsar os ciganos da França, exposta em uma circular de 5 de agosto, que tem sido descrita como "a circular de vergonha." A alta comissária para Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, condenou, na última segunda-feira, "a nova política da França para os ciganos, o desmantelamento de seus acampamentos e as deportações coletivas para seus países de origem".
Por Niko Schvarz, em "La República"
O Parlamento Europeu colocou no pelourinho a França e Nicolas Sarkozy, pela repatriação de ciganos romenos e húngaros em um tenso debate, no qual classificou essas decisões como ilegais e contrárias ao direito comunitário. O mesmo acaba de fazer a Comissão Europeia, para quem as expulsões em massa de ciganos são vergonhosas e não deveriam ter lugar na Europa.
Esta atitude é assumida pelo governo de Sarkozy, ao mesmo tempo em que lança um ataque concentrado contra a legislação social do seu país, expressa em primeira instância em seu projeto de aumentar a idade mínima de aposentadoria, contra o qual houve uma greve geral de milhões de trabalhadores, que será seguida por outra jornada com características semelhantes.
O povo cigano sofreu duríssimas perseguições ao longo da história, e, no último período, nas mãos dos nazistas. Chegaram à Europa a partir do norte da Índia, da região do Punjab e do Sinth, fugindo das conquistas muçulmanas e das invasões mongóis. Ao cruzar a Pérsia, os imigrantes de várias tribos casaram-se e uniram-se, dando origem aos povos Dom e Rom, que se tornaram um povo nômade e, um belo dia, cruzaram o Bósforo indo para a Grécia e o Egito.
Na Península Ibérica, chegaram a partir deste último país; Afonso V de Aragão outorgou-lhes um salvo-conduto para cruzar seu reino e começou a chamá-los de egiptanos, de onde derivou a palavra gitanos (ciganos). Na Andaluzia, se integraram de tal maneira que grande parte de sua música e de sua tradição literária tornou-se reconhecida como a essência da Andaluzia.
Basta pensar em Federico García Lorca. Há palavras que decorrem diretamente da língua romani, como eles chamam. Mas depois toda a Europa começou a olhá-los com desagrado e passaram a ser bode expiatório para todos os atentados cometidos em seu entorno. Disso se podem recolher inúmeros relatos na literatura (em um sentido ou outro), desde Notre Dame de Paris, de Victor Hugo, até uma novela Conan Doyle, com Sherlock Holmes como protagonista.
Na Alemanha nazista, os teóricos do racismo promoveram a perseguição dos ciganos no mesmo nível que a dos judeus, sugerindo que eles eram submetidos a trabalhos forçados e à esterilização em massa, porque "colocavam em perigo o sangue puro" dos alemães. Os ciganos foram presos em grandes números e, a partir de 1938, eles foram internados em blocos especiais nos campos de concentração de Buchenwald, Mauthausen, Gusen, Dautmergen, Natzweiler e Flossenburg.
O tenebroso líder da SS de Hitler, Heinrich Himmler, criou um espaço especial em um campo na sua propriedade em Ravensbrück para sacrificar mulheres ciganas que era submetidos a experiências médicas. Foram esterilizadas 120 meninas ciganas. No hospital em Duesseldorf-Lierenfeld foram esterilizadas ciganas casadas com não-ciganos. Milhares de ciganos foram deportados da Bélgica, Holanda e França, para o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia.
No gueto de Lodz, também na Polônia, nenhum dos cinco mil ciganos sobreviveu. Na Iugoslávia, se executava tanto ciganos quanto judeus no bosque de Jajnice. Os agricultores recordam ainda os gritos das crianças ciganas levadas aos lugares de execução.
Estes dados foram publicados pelo La Jornada, do México, e reproduzidos por Fidel Castro em sua Reflexão "A infinita hipocrisia do ocidente". Lá, se agrega: "Nos campos de extermínio, apenas o amor dos ciganos pela música foi, às vezes, um conforto. Em Auschwitz, com fome e cheio de piolhos, se reuniam para tocar e alentavam as crianças a dançar. Mas também era lendária a coragem dos guerrilheiros ciganos que militavam na resistência polonesa na região de Nieswiez".
Somente na Iugoslávia socialista de Tito os ciganos foram reconhecidos com os mesmos direitos das minorias croatas, albanesas e macedônias. Após os julgamentos de Nuremberg (1945), os ciganos foram totalmente esquecidos.
É a esta luz que deve ser julgado o comportamento racista do governo Sarkozy, condenado em manifestações na França e em frente a embaixadas em várias capitais europeias.
Um dado final: o gênio do cinema Charlie Chaplin era cigano, filho de uma cantora de cabaré cigana e de um ator da mesma etnia.”
FONTE: reportagem de Niko Schvarz, em “La República”. Transcrito no portal “Vermelho” (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=137155&id_secao=9).
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