sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O APAGÃO DE ENGENHEIROS


Por José A. Matelli, do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia

“A falta de profissionais das áreas de engenharia e tecnologia pode ameaçar a escalada do crescimento econômico do país. O sinal vermelho foi aceso no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Em parceria com o Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura (CONFEA), o MDIC vai fazer um censo específico nos estados para identificar a quantidade e o perfil dos profissionais de tecnologia. A ideia é montar um banco de dados que poderá ser consultado pelas empresas de acordo com a demanda de pessoal especializado. As entidades de classe querem garantir a oferta de mão de obra local, para evitar a invasão de estrangeiros no mercado de trabalho.

Os estrangeiros vêm dos países europeus, como a Espanha, dos Estados Unidos, da Ásia e da Argentina. A crise econômica freou os investimentos e provocou uma onda de desemprego nos outros continentes. Como o Brasil tem forte demanda de mão de obra e faltam profissionais no mercado, o MDIC tem recebido oferta de profissionais qualificados do exterior. ´A carência de mão de obra ultrapassa a disponibilidade do mercado nacional e não há expectativa para formar profissionais em curto prazo`, confirma Marcos Túlio Melo, presidente do CONFEA.

Ele adianta que a proposta encaminhada ao MDIC tem como objetivo fazer um censo dos profissionais de engenharia e tecnologia, aproveitando a estrutura do CONFEA, dos Conselhos Regionais de Engenharia (CREAS), do IBGE e do IPEA. O mapeamento vai permitir montar um perfil dos engenheiros com registro nos conselhos. Serão levantados dados como: formação profissional, prática de exercício da profissão, experiência, nível de especialização e se trabalha atualmente na área.

A partir do censo será identificada a carência de mão de obra e como podem ser supridas as necessidades do mercado. ´Hoje, assistimos a entrada de profissionais estrangeiros porque nos países de origem não têm emprego`, diz Melo. Segundo dados do CONFEA, em 2010 triplicou o registro de profissionais estrangeiros no país, de 115 processos anuais para cerca de 400.

Além da demanda quantitativa existe a falta de qualificação da mão de obra local. O presidente do CONFEA defende que o censo sirva de base para montar cursos de capacitação e atualização dos profissionais da área de tecnologia com a participação das universidades, escolas técnicas e das empresas. Em sua opinião, o governo deveria firmar convênios de mão dupla com esses países, para trazer cérebros que possam melhorar o nível de conhecimento.”

Comentário, por Pedro.Nardelli:

“Formei-me em engenharia elétrica na Unicamp, onde fiz meu mestrado e faço meu doutorado em regime de cotutela com a Universidade de Oulu (Finlândia).

Gostaria de adicionar pontos à postagem anterior.

1) Os salários de engenheiro em empresas, comparados aos bancos e consultorias, é muito menor (a pressão e quantidade de trabalho, que para mim são excessivas, são similares). A grande maioria dos meus colegas de turma está trabalhando em instituições financeiras e consultorias estratégicas (normalmente multinacionais). Ou seja, tirando os poucos convictos pela sua escolha profissional técnica, eles vão trabalhar onde paga mais e onde tem mais status. Sempre melhor ser um engravatado a ser um cara de camisa pólo com caneta no bolso. Os bancos e consultorias sabem do potencial dos alunos de engenharia e vão atrás deles mostrando o "ouro". Isso com certeza não ocorre só na Unicamp, mas também em muitas outras escolas pelo Brasil (e pelo mundo também). "MBA is the real dream!"

2) E agora falando de pesquisa científica e inovação (minha área). Aí tudo piora. Os salários são bem inferiores aos dos engenheiros (a diferença da minha bolsa de mestrado com o salário inicial de um cara de consulturia é de 6 vezes, sem contar os benefícios desse.). Quem escolhe a pesquisa tem duas razões: falta de opção ou convicção muito forte na carreira acadêmica. Com isso, posso citar:

2.1) Baixo nível (em média) das publicações dos brasileiros. Quem faz por falta de opção, tem probabilidade alta de não fazer bem feito. Isso também é o nosso complexo de vira-lata. Pegue uma publicação do IEEE e veja o nível das pesquisas. Muito chavão e pouco resultado. Porém, nós preferimos deixar de enfrentar os revisores internacionais e submeter para revistas com menos prestígio do que as do IEEE. Conferências (nacionais e internacionais) então publicam qualquer coisa bem escrita.

2.2) Quem segue a carreira por convicção normalmente faz o doutorado (totalmente ou em cotutela ou sanduiche) fora do país. Daí, para encontrar oportunidades fora é um passo. Poucos voltam para ficar.

2.3) Falta de plano de carreira e oportunidades para uma vida acadêmica, incluindo inovação e carreira de pesquisador/professor. Cada um que se vire para saber as oportunidades. Enquanto isso, a iniciativa privada vai caçando os melhores alunos (possíveis cientistas/inovadores).

2.4) Embora com muito apoio e financiamento, trabalhar em empresa própria de inovação é muito arriscado. E de retorno duvidoso. E de expectativas de ganhos muito nebulosas. E de trabalho quase escravo.

Poderia me estender muito mais, mas paro por aqui.”

FONTE: escrito por José A. Matelli, do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (publicado por Rosa Falcão, no Diário de Pernambuco, em 03 de fevereiro) e comentado por Pedro.Nardelli. Publicado no blog do jornalista Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-apagao-de-engenheiros#more)[imagem do google adicionada por este blog].

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