sexta-feira, 17 de junho de 2011

DIAS DE FÚRIA, NOITES DE ASSOMBRAÇÃO


“Não é apenas o calote da Grécia que assombra os mercados mundiais. A incerteza sopra também na esquina do mundo que deveria ser o ponto de encontro entre capitais ariscos e a segurança, em última instância, para a desordem financeira por eles engendrada: ou seja, a economia norte-americana.

Se as ruas da Grécia e da Espanha ardem em protestos pelo custo de uma convalescença que, ao final e ao cabo, materializa-se na supressão de direitos e deslocamento de riquezas das nações para os credores, a verdade é que o ‘bunker’ norte-americano não inspira mais a confiança absoluta que dele se espera.

Os investidores que se deslocavam ontem em busca de um porto seguro para assistir de longe ao incêndio grego, colidiram com o tráfego em sentido contrário de más notícias vindas dos EUA. O que as buzinas anunciavam era o fantasma da estagflação: a inflação americana foi além do que se previa; a economia ficou aquém do que precisava crescer para acalmar os espíritos da incerteza e da obsessão mórbida pela liquidez, como diria Keynes. A variação dos preços na meca capitalista atingiu 3,6% nos últimos 12 meses. É o maior nível desde outubro de 2008.

O problema se agrava no contraste com a curva do crescimento, que desliza para baixo. O indicador da produção industrial da região de Nova York, em junho, está negativo em 7,79. Sugere ruptura na já lenta, frágil, recuperação esboçada desde o final de 2010.

Esses são os fundamentos da notícia comemorada na quarta-feira (15) no Brasil, de que o risco-país, pela primeira vez na história, ficou abaixo daquele atribuído à principal cidadela capitalista do planeta.

Por fim, cresce a percepção de que corda política da crise esticou ao máximo. De agora em diante, será cada vez mais difícil descarregar o ônus da convalescença nas costas de povos e nações endividados. O cenário é de um ‘corner’, com janelas que se fecham e pontos de fuga que se estreitam.

Um dado resume todos os demais: o PIB mundial é da ordem de US$ 60 trilhões; o volume de capitais em busca de refúgio -capitais fictícios em grande parte-, ultrapassa US$ 900 trilhões. Essa espuma busca, desesperadamente, uma contrapartida (inexistente) na riqueza real que se estreita por conta da recessão e dos calotes em marcha.

É a partir dessa dança das cadeiras que o Brasil deve analisar o passo seguinte do seu crescimento e a estratégia diante da invasão de fluxos especulativos na economia. Em artigo recente 'Nuvens Negras no Horizonte', o economista da FGV, Amir Khair advertia: 'O melhor para o Brasil é apostar as fichas da saúde econômica e financeira naquilo em que somos bons: alto potencial de mercado interno inexplorado. É bom repensar as políticas do pé no freio, que podem fragilizar o País aos trancos de fora'.”

FONTE: cabeçalho do site “Carta Maior” 5ª feira, 16/06 (http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm) [imagem do Google adicionada por este blog].

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