Por Brizola Neto
“Talvez muita gente não saiba, mas o nome do movimento de extrema-direita nos Estados Unidos é “Tea Party” por conta de um episódio ocorrido no processo de independência daquele país, conhecido como “Festa do Chá de Boston”, quando um grupo de colonos americanos, protestando contra os impostos exigidos pela Coroa inglesa, usaram roupas de índios e atacaram um navio da Companhia da Índias Orientais carregado de folhas de chá.
Foi justamente por causa dos impostos –e não por causa da independência– que o movimento, agora, apropriou-se deste nome. O programa deste setor do Partido republicano –e, de certa forma, de todo o partido– se resume em cortes de impostos.
Ninguém, é claro, seria contra qualquer corte de imposto se isso não comprometesse aquele mínimo de equilíbrio para merecer o nome de civilizado.
Mas não é assim. Aqui, a imprensa brasileira, sempre desejosa de mostrar que seu “modelo” mundial é um território paradisíaco de baixos impostos, noticiou que o presidente Barack Obama anunciou um plano para combater o desemprego que corta impostos. Verdade. Corta impostos sobre folha de pagamento e pequenas empresas, além de aumentar benefícios sociais aos desempregados e propor um programa de obras públicas e de construção civil para minorar a desocupação que levou o país a um recorde de pobreza, anunciado oficialmente terça-feira (13).
Se você refletir, vai ver que não há nada de muito diferente do que se fez aqui, com a ampliação do “Simples”, desonerando as micro, pequenas e médias empresas, e com os programas integrantes do PAC, destacadamente o “Minha Casa, Minha Vida”.
Mas o programa de Obama também prevê aumento de impostos, uma vez que não há mágica que faça dinheiro aparecer do nada. Segundo a “Agência Reuters”, “o plano de Obama levantará 400 bilhões de dólares nos próximos 10 anos ao colocar novos limites sobre deduções para pessoa física com renda superior a 200 mil dólares por ano e para famílias com renda de mais de 250 mil dólares.O restante do dinheiro virá de outros impostos, incluindo taxas sobre donos de jatos corporativos e sobre a indústria de gás e petróleo.”
Em resumo, aumento do Imposto de Renda, sobre propriedade e sobre atividades excepcionalmente rentáveis.
Nos EUA, quem ganha acima de US$ 200 mil (R$ 340 mil) por ano pagava uma alíquota entre 33 e 35%, antes do aumento. Aqui, paga 27,5%.
O desemprego americano reflete-se diretamente nos serviços de saúde. Cerca de 50 milhões de americanos estão por conta de um sistema privado de saúde, baseado em planos de saúde empresariais. Por conta do desemprego, estão sem qualquer cobertura médica. Não tem SUS por lá.
Todos querem recursos para a saúde. Mas não podemos fazer aumentos de impostos, porque isso sufocaria nossa economia. Verdade, se esses impostos forem criados sobre a cadeia produtiva. Mas não se forem aplicados sobre a renda e sobre transações que não estimulem nossa economia.
A classe média alta e a elite brasileira não estão afogadas em impostos. O sistema tributário brasileiro castiga os pobres: 53,9% dos rendimentos daqueles que ganham até dois salários mínimos é consumido em tributos indiretos. Já entre os mais ricos, com renda acima de 30 salários mínimos –R$ 16,35 mil mensais- a carga tributária é de 29% dos rendimentos. Tanto não é desesperadora a situação de nossa classe média alta que o número de turistas brasileiros que visitaram os Estados Unidos no primeiro semestre de 2011 cresceu 28,1%, em comparação com o mesmo período de 2010. Só no mês de junho o crescimento foi de 33,8%. E cada um deles deixa lá, em média, R$ 10 mil.
A presidenta Dilma tem razão. A CPMF desmoralizou-se pelo fato de sua renda ter sido destinada a outras despesas que não às do sistema de Saúde. Mais ainda, porque teve o erro de origem de não incidir sobre aqueles que movimentavam a partir de certo valor em suas contas, o que poderia ter sido limitado a, por exemplo, dez salários mínimos. Isso foi o que Lula tentou fazer, mas as pressões já eram grandes demais para que isso fosse viável.
Nos Estados Unidos, Obama tem pouca chance de aprovar seu plano para gerar empregos, porque nem a oposição nem a grande mídia –salvo exceções– apoiará elevações de imposto. Aqui, da mesma forma, não existem condições políticas de recriar a CPMF.
Mas existe, se começarmos a discussão, a possibilidade de taxarem-se as altíssimas rendas e as grandes fortunas. Nossos problemas fiscais têm sido resolvidos, até agora, com o crescimento e a formalização da economia, não com a elevação de taxas, que só ocorreu para regular fluxos de capitais –caso do IOF– e não para resolver problemas de arrecadação.
Se podemos e devemos financiar uma saúde pública de alta qualidade, precisaremos, como diz o Dr. Adib Jatene, pagar por isso. Até porque já pagamos: os planos de saúde que todos, com boas razões, querem fazer cobram bem mais dos clientes em um mês do que lhes custaria a CPMF em um ano.
Como exemplo, quem tem renda familiar de 10 mil reais por mês recolheria de CPMF, com a movimentação no banco, com aquela alíquota de 0,38%, mesmo sem isenção até um certo patamar da renda, somente R$ 38 reais mensais. Ou R$ 1,26 por dia.
Esse é o valor que faz nossa elite gritar, em lugar de discutir com seriedade as fontes possíveis e justas de financiamento para uma elevação da saúde pública a nível adequado, onde ela própria possa, querendo, utilizar-se dela.
E não as compras em Miami, como alguns de seus porta-vozes.”
FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com/o-tea-partybrasileiro-e-seu-precioso-r126/).
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Um comentário:
O que eu teria a dizer contra a CPMF não seria quanto à alíquota, mas quanto ao fato dela realmente ser gasta no que dizem que será a sua finalidade, a Saúde.Se todo esse dinheiro arrecadado, desde a sua criação até a sua extinção, tivesse sido usado, cada centavo, naquilo que era o seu objetivo, a Saúde, estaríamos do jeito que estamos?
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