quinta-feira, 8 de setembro de 2011

VEM AÍ UM PROTETORADO COLONIAL DA OTAN


Por Mário Augusto Jakobskind

“A Líbia segue na ordem do dia. Em Paris, emissários de 60 países, inclusive o Brasil, se reuniram [na semana passada] para discutir o futuro da Líbia e, sobretudo, a questão da reconstrução. Trocando em miúdos, o que aconteceu por lá foi o próprio “quero o meu”. Ou seja, a quem caberá ficar com as riquezas da região e que empresas ficarão encarregadas de reconstruir a terra arrasada pelos mais de 60 mil bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte [OTAN]. Países como o Brasil, a Rússia e a China, que defendiam a realização dos trabalhos na Organização das Nações Unidas [dentro da paz e diplomacia], foram lá para tentar garantir que os contratos anteriores com o governo de Muammar Khadafi continuarão em vigor.

Parte do dinheiro nas contas congeladas de Khadafi será utilizado para, exatamente, fechar contratos com os governos que lideraram a ofensiva da OTAN. Ou seja, quem destruiu a Líbia vai lucrar com a reconstrução, exatamente como aconteceu no Iraque. E se alguém ainda acredita que os destruidores e vencedores vão estabelecer uma “democracia” é realmente ingênuo e se deixa enganar facilmente pela lábia de Nicolas Sarkozy, David Cameron, Silvio Berlusconi, Barack Obama e dirigentes de países árabes que apoiaram os bombardeios aéreos da OTAN.

Em vez de democracia, o que será instalado na Líbia, consolidando-se a tomada do poder à força, será, como afirmou o economista José Luis Fiori, o "primeiro protetorado colonial da OTAN na África”. Um abaixo assinado subscrito por 140 intelectuais africanos já havia feito alerta nesse sentido pouco antes do início do cerco por terra de Trípoli em 15 de agosto. A mídia de mercado segue cobrindo a guerra, não propriamente cobrindo, mas de fato encobrindo fatos que desabonariam a ação militar da OTAN. As baterias midiáticas estão voltadas contra o “bandido” Khadafi e somente a OTAN fica acima de qualquer suspeita.

Resta saber até que ponto a própria ação colonial da OTAN tem relação com a grave crise financeira que atravessam países europeus, por acaso também os mesmos que participaram das incursões ao território líbio. Quem conhece algo da história tem claro que a África está sendo objeto de um retrocesso tamanho, como se o mundo retornasse a séculos passados, quando prevalecia à lei das canhoneiras e depois as potências da época se reuniam para dividir o terreno conquistado firmando tratados e mais tratados.” [...]

FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, correspondente no Brasil do semanário uruguaio “Brecha”. Foi colaborador do “Pasquim”, repórter da “Folha de São Paulo” e editor internacional da “Tribuna da Imprensa”. Integra o Conselho Editorial do seminário “Brasil de Fato”. É autor, entre outros livros, de “América que não está na mídia”, “Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE”. Artigo publicado no site “Direto da Redação”  (http://www.diretodaredacao.com/noticia/vem-ai-um-protetorado-colonial-da-otan) [trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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