quinta-feira, 3 de maio de 2012

O BRASIL NA ÓTICA DOS INTERESSES DOS EUA


ENTREVISTA COM RIORDAN ROETT, BRASILIANISTA E PROFESSOR DA UNIVERSIDADE JOHN HOPKINS, DE WASHINGTON-EUA

Por Alex Ribeiro, no jornal “Valor”

"BRASIL TEM SIDO SORTUDO COM PRESIDENTES"

[OBS deste blog ‘democracia&política’: conforme já mencionamos em postagem anterior, de hoje, em outra observação no artigo sobre o Acordo Automotivo Brasil-México, o jornal “Valor Econômico” é propriedade das “Organizações Globo” e do “Grupo Folha”, ambos notoriamente defensores não do Brasil, mas dos interesses dos grandes conglomerados financeiros, econômicos e de mídia estrangeiros. O jornal “Valor" escolheu um artigo, que reproduzimos abaixo, de brasilianista norte-americano que defende e semeia com esperteza conceitos que interessam ao governo dos EUA. Reproduzo o texto para evidenciar como de modo contínuo, massiva e sutilmente é feita pela “grande” imprensa a cabeça da “elite” brasileira, inserindo em bons textos conceitos nocivos para o Brasil e favoráveis às grandes potências, especialmente aos Estados Unidos. Para exemplificar o veneno inoculado habilmente por intermédio da entrevista com Riordan Roett, ao longo do texto inserimos pequenas observações entre colchetes em itálico e na cor azul].

Riordan Roett
Por Alex Ribeiro, no jornal “Valor”

“A presidente Dilma Rousseff já deixou a sua marca própria no Palácio do Planalto, com a demissão de sete ministros e o seu esforço para "desaparecer com o velho processo político brasileiro", afirma o professor americano Riordan Roett, da Universidade John Hopkins, de Washington.

Ele é um dos mais respeitados "brasilianistas" da velha geração, com um olhar completo do país, incluindo aspectos históricos, econômicos, políticos e sociológicos em oposição à nova leva de pesquisadores interessados no Brasil, que vai a fundo em tópicos mais especializados, como políticas sociais.

Roett diz que há muitos acertos na estratégia recente de desenvolvimento do Brasil, como na forte atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para garantir que haja empresas "campeãs nacionais", como uma Gerdau, uma Embraer ou uma Vale. "São companhias nos melhores padrões, geridas por administradores de nível internacional", afirmou. "Não há nada disso na Argentina."

Mas ele pondera que, no pré-sal, o Brasil deverá buscar um balanço certo na exigência de conteúdo local para, ao mesmo tempo, criar empregos locais e atrair a tecnologia estrangeira que precisa. "Não acho que a exigência de conteúdo local em 65% faça algum sentido", afirmou. "Algo como 20% ou 25%, sim." [para os EUA, que quer vender ao máximo seus produtos industrializados para o Brasil, não há sentido exigirmos conteúdo nacional].

Roett, 73 anos, recebeu o "Valor" em seu escritório na Johns Hopkins, com livros sobre o Brasil e a América Latina quase despencando das prateleiras lotadas, numa tarde chuvosa da primavera. De lá, ele chefia o “Departamento de Estudos do Hemisfério Ocidental”, onde seus interesses incluem também países como o México e a região andina.

Para ele, os Estados Unidos ainda não entendem direito o Brasil, e é acertada a aposta brasileira nos BRICs. "Amo os BRICS", afirmou.

Abaixo, os principais trechos editados da entrevista, feita predominantemente em inglês, mas entremeada com frase em português - idioma em que Roett é fluente, depois de dar aulas no Brasil e pelo convívio no exterior com professores brasileiros “exilados” [?], como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.[Em bem remunerado autoexílio. FHC não foi formalmente exilado pelo Brasil. Foi para o Exterior por vontade própria e por bom emprego. Recebia desde jovem e recebe até hoje gorda aposentadoria da USP e, adicionalmente, recebia em dólares elevados salários da UNESCO. O brasilianista dos EUA e o jornal 'Valor' exaltam o tucano FHC por ter sido seu governo extremamente submisso e útil aos interesses norte-americanos].

Valor: A presidente Dilma já marcou alguma diferença em relação aos seus antecessores?


Riordan Roett : Fiquei impressionado ao ir ao Brasil em março. Muitos colegas não esperavam uma presidente demitindo sete ministros. A popularidade dela está bem alta. “Havia muita corrupção conhecida no governo Lula”. Se ele sabia ou não, é uma discussão [Hilariante essa bandeira demotucana hasteada pela grande mídia. Alegam (sem rir) que corrupção somente passou a existir com governos petistas. Com tucanos e demos, não havia corrupção (ou não eram investigadas? Ou eram abafadas, engavetadas, não eram noticiadas?)].

Dilma quer que "o velho processo político" desapareça [o jornal "Valor" e toda a grande mídia batalha pela destruição da imagem de Lula]. Ela colocou a própria marca na presidência. Mas, como você sabe, o Lula segue uma personalidade extremamente popular, por razões certas. Bolsa Família, Brasil como um dos BRICS, expansão da classe C. O Brasil tem sido sortudo com vários bons presidentes, todos com exatamente o tom certo em termos de realidades globais de cada momento. Surgiu o Fernando Henrique, que deixou a sua marca na história com o Plano Real e uma série de presidentes mais competentes. Os brasileiros estavam fartos de inflação e de presidentes incompetentes, de Collor, Sarney e Itamar. [Sabemos que o Plano Real foi elaborado e implantado no governo anterior a FHC, do peemedebista Itamar Franco. FHC, “espertamente”, em conluio com a grande mídia, erradamente passou a denominar-se “pai do Plano Real”. Muitos acreditam nisso até hoje. Após assumir, o governo FHC e a imprensa passaram a denegrir Itamar Franco. Antes, Collor, fora endeusado e eleito por conta do seu compromisso com os “neoliberais”. Como não foi totalmente bem sucedido nessa tarefa, foi defenestrado. Sarney era muito elogiado como “grande estadista, primeiro presidente civil após a ditadura, presidente que conseguiu segurar os militares e consolidar a democracia etc”. Porém, nnos últimos anos, por integrar a base aliada dos governos Lula e Dilma, para a imprensa e oposição passou a ser um coronel energúmeno incompetente].

Valor: Os investidores estão muito entusiasmados com o Brasil, como estiveram no passado com o México e a Argentina, antes de crises. Estamos vivendo uma bolha?


Roett : Sempre existe o risco de bolhas. As autoridades estão bem conscientes. Essa é a razão pela qual o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fala da guerra de moedas, a presidente Dilma fala de tsunami monetário. As autoridades monetárias estão administrando muito bem, baixando os juros básicos. O Brasil é um país muito atrativo. Estava falando com a nova presidente da Boeing no Brasil, Donna Hrinak, e ela não consegue achar espaço para seu escritório nas áreas centrais de São Paulo. É uma loucura. Todo mundo tem que estar no Brasil. Isso é bom e ruim. Parte é movida pela dinâmica sociedade de consumo representada pela nova classe média baixa. Mas também é alimentada por crédito demais. O governo deve estar preocupado, como nos Estados Unidos, com o excesso de dívidas. Mas o Brasil não está tão ruim.

Valor: Essa é uma trajetória de crescimento sustentável ou apenas estamos surfando nos altos preços das commodities?


Roett : Todos conhecemos a agenda de reformas para o Brasil, um sistema tributário maluco, "inflexibilidade no mercado de trabalho" [essa é uma clássica agenda da direita: “a flexibilização do mercado de trabalho”. Na prática, significa retirar direitos trabalhistas já adquiridos pelos trabalhadores para propiciar ainda maiores lucros para os empresários], falta de infraestrutura, reforma da Previdência [idem observação anterior]. Isso exige ação política. Mas, apesar disso, dado o crescimento da China, vai haver razoável demanda por matérias-primas da América do Sul por um bom tempo, a menos que você assuma que a China vai ter um pouso forçado, o que eu não creio. Desde que haja um equilíbrio com empresas como Embraer e outras companhias competitivas internacionalmente, o dilema da dependência de recursos naturais não é muito sério. Qualquer governo, PT, PSDB, DEM - nunca vai haver um governo do DEM - terá que trabalhar para reduzir o medo da desindustrialização.

Valor: O Brasil passa por um processo de desindustrialização?


Roett : Não compro o argumento da FIESP sobre desindustrialização. Há pessoas realmente preocupadas, sobretudo em São Paulo. Talvez pelas razões erradas. O jeito de lidar com isso é ter mão de obra mais bem educada para trabalhar em indústrias sofisticadas e complementar a agricultura e as matérias-primas. A questão educacional no Brasil é terrível.

Valor: Então não há desindustrialização?


Roett : Há, no sentido do paulista que vai a uma loja de aparelhos eletrônicos e, ao olhar atrás de um i-Pad ou i-Phone, encontra a frase "fabricado na China". Qualidade excelente, preços mais baixos. O Brasil está sendo deslocado desses nichos tecnológicos por causa dos custos mais altos do trabalho. As empresas brasileiras não querem contratar porque é muito caro. Os salários estão subindo na China. Mas, se uma empresa chinesa contrata um trabalhador e, por uma infelicidade, ele não é mais necessário, o empregado está na rua. No Brasil é muito difícil fazer isso. Há uma série de leis corporativas da Era Vargas, da indústria de substituição de importações, do regime militar. A presidente Dilma fez algum progresso na Previdência Social e privatizou três aeroportos. Não tanto quanto gostaríamos, mas na direção certa.

Valor: O Brasil está administrando bem as descobertas de petróleo no pré-sal?


Roett : Não sabemos ainda. O governo tem que decidir a distribuição das receitas. Esse é um tema bastante político. Seria um tema político em meu país, em qualquer país. É uma coisa difícil para a Dilma resolver. Em segundo lugar, tem que definir como o fundo social do pré-sal - um monte de dinheiro, em teoria - vai ser administrado, quem vai administrar, quais são exatamente os objetivos. Terceiro lugar, a relação do governo com as companhias internacionais de petróleo. A Petrobras dá conta do recado sozinha?

Valor: É uma boa ideia a exigência de conteúdo local no pré-sal?


Roett : Em teoria, sim. Cria empregos. Criar empregos é muito importante. Mas não considero que a exigência de conteúdo local em 65% faça algum sentido. Algo como 20%, 25%, dependendo do segmento, faz sentido. Não dá para fazer tudo, e é preciso ter um objetivo para cada momento. "A exigência de conteúdo nacional é razoável. Mas não de 65% e sim 20% a 25%, dependendo do segmento" [como já mencionamos, os EUA querem vender ao máximo seus produtos industrializados para o Brasil; assim, para eles, a exigência de conteúdo nacional deve ser a mais baixa possível, idealmente 0%].

Valor: O Brasil está voltando para o modelo econômico dos anos 1970?


Roett : Esse é um argumento potencialmente correto. As estatais estão desempenhando grande papel na economia. Mas acho, porém, que o governo brasileiro entende a importância da dinâmica de mercado. Dito isso, tem todo esse episódio em torno da Chevron. Levantou a questão se não há muito Estado na indústria de petróleo no momento [traduzindo: propugna que a Petrobras deva ser afastada do pré-sal]. Se o Brasil quer se mover rapidamente para capitalizar o pré-sal, terá que contar com tecnologias e conhecimento estrangeiro. Como você sabe, há falta de cientistas, de perfuradores de poços. A presidente Dilma está atenta a isso. Mas o programa do governo de levar 100 mil estudantes ao exterior não terá impacto em um ou dois anos, embora seja exatamente o tipo de decisão que você precisa tomar para daqui a cinco anos.

Valor: Há uma tendência de aumento de protecionismo no Brasil, com o caso dos automóveis mexicanos, por exemplo?


Roett : Não vejo isso como uma tendência. Acho que pode haver casos individuais, como o do México. Não quero defender a medida, mas consigo compreender porque os brasileiros fizeram isso. Esse é um período difícil para o governo. Incerteza sobre os fluxos de capitais estrangeiros, pressões inflacionárias, uma agenda de reformas que está se movendo muito devagar. Era previsível que isso fosse acontecer com os mexicanos. Só espero que não vire um padrão.

Valor: A indústria mexicana está renascendo. Por que é tão difícil no Brasil?


Roett : Parte do “sucesso do México[!?!] é devido às "maquiladoras". É uma questão de geografia, o Brasil não poderá ter uma "maquiladora" para exportar para os Estados Unidos. O empresário Eike Batista disse, recentemente, que precisamos de mais empreendedorismo no Brasil, de assumir mais riscos. Ele está absolutamente certo. O Brasil saiu de uma história de corporativismo, de estatais, câmbio administrado. Você tem que “abrir a economia para competição e assumir riscos” [conceito esse extremamente perigoso para o Brasil e conveniente para os EUA. O Brasil, ainda em crescimento, tem vários setores estratégicos que, ou ainda estão sendo concebidos, ou na infância, ou na adolescência. Se o Brasil já abrir a economia em todos os setores para livre competição com lutadores estrangeiros profissionais adultos, certamente assistirá a morte de seus setores ainda em formação]. Isso já está caminhando, de forma lenta [como deve ser, na medida em que nossas indústrias estratégicas tornem-se adultas, em condições de competir sem proteção]. Vocês têm [pouquíssimas] companhias de primeira classe, como a Gerdau, a Vale, as empresas do Eike. É apenas uma questão de prover os recursos humanos. Duas coisas fundamentais: educação e infraestrutura física.

Valor: As operações do BNDES aumentaram muito nos últimos anos. Isso é um bom uso de dinheiro público?


Roett : Desde que não subsidiem empresas incompetentes, algo que eles não estão fazendo. Existe a questão dos campeões nacionais. O BNDES gosta de apoiar campeões nacionais. Também, é claro, existe a questão de que os campeões ocupam o espaço no crédito das pequenas e médias empresas, que criam mais empregos. Mas, ao mesmo tempo, é importante para um país como o Brasil ter seus campeões nacionais, ter uma Embraer, uma Gerdau ou uma Vale. São companhias nos melhores padrões, geridas por administradores de nível internacional. Não há nada disso na Argentina, há pouco disso na África do Sul.

Valor: O senhor disse há pouco que não espera o DEM no poder. Por que não há governos de direita no Brasil?


Roett : Há um elemento de direita no Brasil, como os ruralistas no Congresso, os evangélicos que, em parte, são muito conservadores. Há compensações sociais no Brasil para a estrutura política formal. É o que permite que conservadores, como os ruralistas e os evangélicos, expressem a sua opinião e tenham impacto nas políticas públicas.

Valor: O sistema político está funcionando?


Roett : Às vezes. As eleições são lindas. Gostaria que tivéssemos nos Estados Unidos o seu sistema eleitoral. Os votos da Amazônia, do Nordeste, são todos contados. Ninguém questiona o resultado. Debatemos muito nos ciclos acadêmicos se a nova classe C vai ser passiva como foram os brasileiros no passado. Não acredito. Ao longo do tempo, ela vai questionar porque as escolas públicas são tão ruins e as escolas privadas tão boas [não é sempre assim. Em geral, as universidades públicas são melhores que as privadas e há muitas escolas públicas de ensino médio com melhores resultados nas avaliações nacionais que escolas particulares], porque esperar dez horas na fila do hospital. É algo que os políticos não entendem muito bem. Há pessoas que estão na política há longos períodos de tempo, o Sarney está lá desde os anos 1960. Foram eleitos por pessoas com baixo nível de educação [os demotucanos não? Foram eleitos somente pela elite “massa cheirosa”?]. Na medida em que você começa a educar as pessoas, elas começam a fazer demandas ao sistema político e você terá que gerar novos líderes políticos.

Valor: Faz sentido para o Brasil fazer parte de um grupo tão diverso como os BRICS?


Roett : Absolutamente sim. Eu amo os BRICS. Os BRICS não são uma coalisão hegemônica. Não é a OTAN, nem a União Europeia. É uma indicação de mudança econômica, financeira e de poder no sistema político internacional. Eles são uma grande parte da população mundial, uma crescente parte do PIB mundial. Há alguns dias, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, buscando fundos para o FMI, disse que estava esperando pelos BRICS. Eles vão fornecer uma quantia extra de dinheiro porque os europeus estão ficando sem dinheiro, os Estados Unidos estão sem dinheiro. Os BRICS estão começando a fazer sua posição ser sentida em mudanças no meio ambiente, nova arquitetura financeira mundial, pressão para redistribuir os direitos de voto no FMI, expansão do Conselho de Segurança nas Nações Unidas. O que eles estão fazendo é sinalizar que é injusto o Brasil e a Índia não terem mais representação no conselho do FMI do que Bélgica e Holanda. Loucura. Bretton Woods está morto, 1945 e 1946 já eram. Estamos em 2012.

Valor: O Brasil não deveria ser mais duro com a manipulação do câmbio pelos chineses?


Roett : Se eu fosse o presidente do Brasil, iria conversar sobre isso com o meu ministério. Mas, quando estivesse embarcando para uma reunião dos BRICS, a última coisa que faria seria insultar o meu parceiro. Quando [o secretário americano do Tesouro] Timothy Geithner sugeriu ao ministro Guido Mantega dizer algo a respeito da moeda chinesa, o Mantega respondeu - e eu adorei a resposta - que os Estados Unidos são tão parte do problema quanto a China [Os EUA, com o direito ímpar de resolver seus problemas de megadéficits simplesmente “girando a maquineta” e fazendo com que o dólar, divisa internacional, inunde o mercado internacional, são tão ou mais danosos para economia mundial do que a taxa de câmbio chinesa].

Valor: Há mudanças na política externa no governo Dilma?


Roett : O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, é bem menos ideológico do que o ministro de Lula, Celso Amorim. São ambos competentes e inteligentes. Mas o Amorim está de volta, no Ministério da Defesa. O Amorim se identifica claramente com o segmento do Lula no PT. Eu procuro explicar para meus amigos que Dilma não é uma petista. Ela é nova no pedaço, ela é diferente. Então, você não pode culpá-la. Foi o que aconteceu na visita dela a Washington. De alguma forma, algumas pessoas disseram "ela é um outro Lula". Eles não sabem nada a respeito dela, pobre Dilma.

Valor: Os Estados Unidos se importam com as posições do Brasil em temas globais?


Roett : Nem um pouco. Discutimos muito isso por aqui. A dificuldade é que a América do Sul é longe de qualquer parte do mundo. É geograficamente isolada. Não há uma real ameaça na América do Sul para a segurança mundial, não há potências nucleares [como Israel], não há talibãs. O Brasil, em diferentes setores da administração em Washington, é visto como um problema. Problema com o protecionismo, problema como o etanol, problemas, problemas. E tem essa estupidez da Casa Branca, de não oferecer um jantar e uma visita de Estado para a Dilma. Por quê? Por causa do voto brasileiro no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre as sanções ao Irã [assim atrapalhando a estratégia norte-americana de assumir o controle da produção e exportação do petróleo iraniano, procedimento adotado no Iraque e na Líbia que envolve sanções antes dos ataques militares].

Valor: Essa é uma boa época para estar próximo da Argentina, para apostar no MERCOSUL?


Roett : Nunca é uma boa época para estar próximo da Argentina, que não consegue se governar [Para os EUA, a integração Brasil-Argentina, o MERCOSUL, são iniciativas indesejáveis. Dividir para imperar. Eles gostariam que houvesse somente tratados bilaterais de livre comércio de cada país com os EUA]. Olhe o que a presidente Cristina Kirchner fez com a YPF Repsol. Algo tremendamente estúpido [Para os EUA, a Argentina, para não ser chamada de estúpida, deveria continuar passivamente no caminho que seguia com a Repsol, deixando de ser exportadora e importando cada vez mais petróleo, enquanto a Repsol não investia em exploração e produção porque mandava seus gordos lucros para a Espanha]. Argentina é uma cruz que o Brasil precisa carregar. A diplomacia na América do Sul é basicamente fazer de tudo para limitar estragos com os vizinhos. Quando o presidente boliviano, Evo Morales, nacionalizou ativos da Petrobras, você não quebra as relações diplomáticas. Convida o Morales para uma grande festa em Brasília. O Brasil exporta muito para a America Latina, mas tem uma posição mais global, joga num jogo de poder multipolar.”

FONTE: entrevista de Alex Ribeiro com Riordan Roett, brasilianista e professor da Universidade John Hopkins, de Washington-EUA. Publicada no jornal “Valor”  e transcrita no portal da FAB(http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?datan=02/05/2012&page=mostra_notimpol) [Imagens do Google e trechos entre colchetes em azul adicionados por este blog ‘democracia&política’]

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