segunda-feira, 28 de maio de 2012

MILITARES NÃO TÊM O QUE TEMER, diz ex-marido de Dilma

Carlos Araújo

Do “O Globo”

CARLOS ARAÚJO PARTICIPOU DA LUTA CONTRA A DITADURA JUNTO COM A PRESIDENTE

“Por causa de problemas de saúde, o advogado Carlos Araújo que, junto com a presidente Dilma Rousseff , participou da luta armada contra o regime militar [o jornal "O Globo", que o entrevista, lutou ao lado da ditadura (da direita e dos EUA)], no “Comando de Libertação Nacional” (COLINA) e a “Vanguarda Armada Revolucionária Palmares” (VAR-Palmares), não pôde dividir com a ex-companheira de 30 anos a emoção durante a instalação da Comissão da Verdade. Os dois foram presos e torturados com pau de arara e choques elétricos nos órgãos genitais e Araújo chegou a tentar suicídio. Embora defenda que aspectos obscuros desse período sejam revelados, o ex-marido da presidente diz que os militares não têm o que temer, porque a Lei da Anistia já considera prescritos os crimes da ditadura.

-O GLOBO: O senhor sofreu torturas e ficou preso em São Paulo e Rio Grande do Sul. O que significa a criação dessa comissão para o senhor?


CARLOS ARAÚJO: A gente vai finalmente poder revelar acontecimentos fundamentais para que a sociedade e o país conheçam a sua própria história. É importante tornar públicos fatos desconhecidos da sociedade brasileira. Quem não conhece seu passado não pode planejar o seu futuro. Não é um acerto de contas nem revanche. É uma oportunidade para que essa parte da História seja finalmente conhecida.

-O senhor, que já foi preso e torturado junto com a presidente Dilma, acha que a comissão deve começar por onde?


CARLOS ARAÚJO: Acho que a Comissão deve começar por amplo e profundo estudo dos documentos e arquivos dos DOI/CODI. Tem, pelo menos, oito milhões de folhas de documentos arquivados no “Arquivo Nacional”. Vai ser trabalho hercúleo, mas é preciso analisar esses documentos e ouvir depoimentos das pessoas envolvidas ainda vivas. Tem muita gente viva daquela época.

-Quem daquela época, do outro lado, deve ser ouvido?


CARLOS ARAÚJO: Todas as pessoas que têm fatos ainda não esclarecidos para narrar. Tem que ouvir pessoas, examinar os processos que correm no Judiciário. Tem muitas denúncias e fatos importantes nesses processos ainda não esclarecidas.

-A maior reação dos militares é a possibilidade de a Comissão da Verdade ser um primeiro passo para a revisão da lei da anistia...


CARLOS ARAÚJO: Isso não está em cogitação. A Comissão vai apurar aspectos não esclarecidos desde 1946, mas ninguém pode ser punido. O Supremo já decidiu que esses crimes estão prescritos. A Lei da Anistia é constitucional e os crimes prescritos; não vejo porque essa preocupação dos militares. O papel da Comissão da Verdade será esclarecer fatos obscuros e tornar públicos aspectos da nossa História. (Os militares) não querem que esses aspectos obscuros sejam revelados, por isso, estão reagindo.

-O ex-ministro do Exército, general Leônidas Pires, diz que a comissão é como uma moeda falsa, porque só tem um lado, não vai investigar crimes dos que resistiram à ditadura...


CARLOS ARAÚJO: Eu já fui punido! Fui condenado, julgado e preso. A comissão não vai julgar nem condenar ninguém do outro lado. Não tem porque temer nada. Só vão ser revelados os fatos verdadeiros daquela época.

-O senhor vai ser ouvido para contar sobre torturas durante sua prisão?


CARLOS ARAÚJO: Não sei ainda. A comissão é que vai decidir. Os fatos que conheço daquela época já são mais ou menos de conhecimento público.

-A presidente Dilma foi corajosa ao criar a comissão?


CARLOS ARAÚJO: A Dilma foi coerente. Ela coloca todos os assuntos na mesa, independentemente de crises ou polêmicas que venham causar.”

FONTE: do jornal “O Globo”. Transcrito no site “180GRAUS (DF)” e no porrtal da FAB  (http://www.fab.mil.br/portal/capa/index.php?datan=27/05/2012&page=mostra_notimpol) [Imagem do Google e trecho entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].

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