sábado, 11 de julho de 2015

ALEMANHA TEVE SUAS DÍVIDAS PERDOADAS, MAS NÃO PERDOA AS DA GRÉCIA



A austeridade falhou: Carta aberta de Thomas Pikkety a Angela Merkel

Do jornal inglês "The Guardian", com tradução da "esquerda.net", de Portugal

Cinco economistas de referência mundial lançam um aviso à chanceler alemã, “a história irá recordá-la pelas ações desta semana”. 

Por Thomas Piketty , Jeffrey Sachs , Heiner Flassbeck , Dani Rodrik e Simon Wren-Lewi.

"A austeridade sem fim a que a Europa está a sujeitar o povo grego não está simplesmente a funcionar. Agora, a Grécia disse já chega em voz alta.

Como boa parte do mundo sabia que iria acontecer, as exigências financeiras feitas pela Europa esmagaram a economia grega, levaram a um desemprego em massa, ao colapso do sistema bancário, agravaram a crise da dívida externa, com o problema da dívida a escalar para uns impagáveis 175 por cento do PIB. A economia está destruída com as receitas fiscais em queda livre, a produção e o emprego deprimidos e as empresas sedentas de capital.

O impacto humanitário tem sido colossal – 40 por cento das crianças vivem agora em situação de pobreza, a mortalidade infantil é altíssima e o desemprego jovem está perto dos 50 por cento. A corrupção, a evasão fiscal e as contas mal feitas por anteriores governos gregos ajudaram a criar o problema da dívida.

Os gregos cumpriram com grande parte das exigências de austeridade da chanceler alemã Angela Merkel – cortar salários, cortar nas despesas governamentais, cortar nas pensões, privatizaram, desregularam e aumentaram impostos. Mas, nos últimos anos, o conjunto dos apelidados "programas de ajustamento" infligidos à Grécia serviram apenas para provocar uma Grande Depressão que já não se via na Europa desde 1929-1933. O tratamento prescrito pelo ministério das Finanças alemão e Bruxelas sangrou o doente, não curou a doença.

Juntos, apelamos à chanceler Merkel e à troika para considerar uma correção do trajeto, para evitar mais desastres e permitir que a Grécia permaneça na zona euro. Agora, o governo grego está a ser convidado a colocar uma arma à cabeça e puxar o gatilho. Infelizmente, a bala não só vai matar o futuro da Grécia na Europa. Os danos colaterais vão matar a zona euro enquanto farol de esperança, democracia e prosperidade, e podem levar a consequências econômicas de longo alcance por todo o mundo.

Na década de 1950, a Europa foi fundada sobre o perdão das dívidas do passado, nomeadamente da Alemanha, o que gerou uma enorme contribuição para o crescimento do pós-guerra e para a paz. Hoje, precisamos de reestruturar e reduzir a dívida grega, dar espaço para a economia respirar e se recuperar, e permitir à Grécia pagar um montante mais reduzido da dívida num longo período de tempo. Agora, é o momento para refletir humanamente o punitivo e falhado programa de austeridade dos últimos anos e para concordar com uma redução significativa das dívidas gregas, em conjugação com as necessárias reformas na Grécia.

Para a chanceler Merkel, a nossa mensagem é clara; nós pedimos que tome esta atitude vital de liderança para a Grécia e para a Alemanha, e também para o mundo. A história irá recordá-la pelas ações desta semana. Nós esperamos e contamos consigo para tomar medidas corajosas e generosas para com a Grécia, que servirão a Europa para as gerações vindouras.

Atenciosamente,

--Heiner Flassbeck, ex-secretário de Estado das Finanças do Governo Federal da Alemanha
--Thomas Piketty, professor de economia na École d'économie de Paris
--Jeffrey D. Sachs, professor de desenvolvimento sustentável, professor de políticas de saúde e gestão e diretor do Instituto da Terra na Universidade de Columbia.
--Dani Rodrik, Fundação Ford, professor de política económica internacional, Harvard Kennedy School
--Simon Wren-Lewis, professor de política económica, Blavatnik School of Government, Universidade de Oxford."

FONTE: da "esquerda.net", de Portugal, com tradução de Fabian Figueiredo. Artigo originalmente publicado na revista semanal norte-americana "The Nation" (http://www.thenation.com/article/austerity-has-failed-an-open-letter-from-thomas-piketty-to-angela-merkel/). Publicado no jornal inglês "The Guardian" e postado no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/noticia/carta-aberta-de-thomas-pikkety-a-angela-merkel).

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