Sérgio Moro e a queda de mais um mito
Por FC Leite Filho, no "Pátria Latina
"O sistema de dominação costuma acionar seus laboratórios para produzir líderes e mitos, capazes de levar multidões ao delírio e de pautar a chamada "opinião pública" [ou melhor, a "publicada"].
"O sistema de dominação costuma acionar seus laboratórios para produzir líderes e mitos, capazes de levar multidões ao delírio e de pautar a chamada "opinião pública" [ou melhor, a "publicada"].
De uns tempos para cá, nós, brasileiros fomos brindados com alguns desses heróis, que chegaram, num dado momento, a incendiar muitos corações e mentes, por todo o país. Tivemos o caçador de marajás, o primeiro ministro negro do Supremo e, mais recentemente, o juiz da Lava Jato, a operação da Polícia Federal que detectou os escândalos da Petrobrás.
Só que, como são líderes artificiais, eles não costumam sustentar-se por muito tempo, mesmo desfrutando do mais pesado bombardeio midiático. Eles sempre caem em desgraça depois de levarem seus afoitos seguidores à frustração e ao desengano.
Exemplos concretos
Exemplos concretos
Como sabemos, o caçador de marajás resultou no primeiro impeachment brasileiro, em 1992. Já o primeiro ministro negro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, indicado pelo presidente Lula, com o aval de toda a nacionalidade, entusiasmou boa parte de nossa classe média. Seu histrionismo nas sessões televisadas do STF e suas decisões inapeláveis, mandando para a cadeia os acusados do escândalo chamado Mensalão, causaram frisson e euforia numa parte da população.
Pouco tempo depois do Mensalão e, envolvido na compra [com artifícios "estranhos"] de um apartamento em Miami, o ministro Joaquim Barbosa [JB], que chegou a ser apontado como o candidato natural do segmento moralista à presidência da República [sucesso esse porque foi extremamente duro com os petistas e por ter engavetado o mensalão tucano], renunciou subitamente ao cargo de presidente e de ministro do STF, sem dar maiores explicações. Daí para cá, nunca mais as manchetes dele se ocuparam.
Mal desaparecia (2014) a figura rechonchuda e barulhenta do JB, eis que surge o juiz federal Sérgio Fernando Moro, do Paraná, um rosto novo, de apenas 43 anos de idade, corpo atlético e um currículo invejável, que inclui um aperfeiçoamento na glamourosa universidade americana de Havard e um treinamento sobre lavagem de dinheiro no Departamento de Estado [dos EUA].
À diferença de Barbosa. Moro, com atuação na 13ª Vara Criminal Federal, é extremamente discreto e retraído e só fala nas ocasiões que considera propícias, não importando os incessantes apelos midiáticos que atrai.
A estrela de Moro, no entanto, parece agora declinar, depois de ter decretado 113 prisões de altos figurões da política e do mundo empresarial e firmado 28 acordos de delação premiada, desde a deflagração da Lava Jato, em março de 2014. Depois de algumas decisões judiciais que restringiram seu virtual monopólio sobre tudo que era escândalo no Brasil, o protagonismo do juiz raramente volta a dar uma primeira página. Pouco adiantaram os prêmios da Globo, os paparicos nos jornais e nos programas de TV, as homenagens e jantares oferecidos pela elite empresarial, os quais, por sinal, têm se multiplicado nos últimos dias, para levantar seu perfil.
É que as travas legais ao sensacionalismo da operação já começam a se fazer sentir, tanto junto ao público quanto à política. Além do esgotamento natural do enfadonho desfile diário (às vezes de minuto a minuto) de falcatruas, por mais rocambolescos que essas se apresentem, Moro agora se vê engessado pelos seus superiores. A principal medida nesse sentido partiu do Supremo Tribunal Federal, que decidiu, na semana passada, “fatiar” os desdobramentos da Lava Jato, para que esses sejam desconcentrados das mãos do juiz paranaense e repartidos entre juízes de outras comarcas [como determina a legislação em vigor sobre 'juiz natural', e como foi adotado no "fatiado" mensalão tucano (diferentemente daquele do PT), sem nenhuma palavra de crítica da imprensa] .
A mídia, particularmente no seu segmento de revistas nacionais, principais defensoras do juiz (e dos outros ex-heróis), além, de beneficiadas diretas dos vazamentos seletivos da investigação [Dúvida: os vazamentos são seletivos ou as investigações é que são seletivas, enterrando o que "não vem ao caso", motivo do grande sucesso de Moro na mídia e na oposição? Ou ambos?], os quais expõem os crimes dos adversários e ocultam os dos aliados, não esconderam seu estupor com a decisão: “STF fatia Lava Jato e mina tese da quadrilha que tomou de assalto o poder. Decisão tira das mãos do juiz Sérgio Moro e do ministro Teori Zavascki as investigações dos tentáculos da Operação Lava Jato e pode espalhar ações penais pelo país" esbravejou o site da [revista da direita radical] "Veja", da Editora Abril, em 23/09/2015, ås 18:21.
Já a "Época", das "Organizações Globo" (TV, jornais e rádios) foi mais longe e dedicou ao tema toda a capa da edição desta semana: “A Lava Jato trincada. A decisão do Supremo Tribunal Federal de retirar do juiz Sérgio Moro investigações do petrolão põe em risco o futuro da operação que se aproxima do topo da corrupção brasileira”. Seguem-se várias páginas de vitupério contra o Supremo, em larga medida, o ministro Dias Tóffoli, inspirador da decisão do fatiamento da Lava Jato, e a quem a revista fez questão de identificar como “ex-advogado eleitoral do PT, ex-advogado-geral da União no governo Lula e reprovado duas vezes em concurso para juiz”. Mas não se iluda, caro leitor, porque, tão logo se dê o sepultamento do mito Moro, surgirá um outro paladino da moral e dos bons costumes para nos torrar a paciência, e isto se ele já não estiver despontando por aí."
Mal desaparecia (2014) a figura rechonchuda e barulhenta do JB, eis que surge o juiz federal Sérgio Fernando Moro, do Paraná, um rosto novo, de apenas 43 anos de idade, corpo atlético e um currículo invejável, que inclui um aperfeiçoamento na glamourosa universidade americana de Havard e um treinamento sobre lavagem de dinheiro no Departamento de Estado [dos EUA].
À diferença de Barbosa. Moro, com atuação na 13ª Vara Criminal Federal, é extremamente discreto e retraído e só fala nas ocasiões que considera propícias, não importando os incessantes apelos midiáticos que atrai.
A estrela de Moro, no entanto, parece agora declinar, depois de ter decretado 113 prisões de altos figurões da política e do mundo empresarial e firmado 28 acordos de delação premiada, desde a deflagração da Lava Jato, em março de 2014. Depois de algumas decisões judiciais que restringiram seu virtual monopólio sobre tudo que era escândalo no Brasil, o protagonismo do juiz raramente volta a dar uma primeira página. Pouco adiantaram os prêmios da Globo, os paparicos nos jornais e nos programas de TV, as homenagens e jantares oferecidos pela elite empresarial, os quais, por sinal, têm se multiplicado nos últimos dias, para levantar seu perfil.
É que as travas legais ao sensacionalismo da operação já começam a se fazer sentir, tanto junto ao público quanto à política. Além do esgotamento natural do enfadonho desfile diário (às vezes de minuto a minuto) de falcatruas, por mais rocambolescos que essas se apresentem, Moro agora se vê engessado pelos seus superiores. A principal medida nesse sentido partiu do Supremo Tribunal Federal, que decidiu, na semana passada, “fatiar” os desdobramentos da Lava Jato, para que esses sejam desconcentrados das mãos do juiz paranaense e repartidos entre juízes de outras comarcas [como determina a legislação em vigor sobre 'juiz natural', e como foi adotado no "fatiado" mensalão tucano (diferentemente daquele do PT), sem nenhuma palavra de crítica da imprensa] .
A mídia, particularmente no seu segmento de revistas nacionais, principais defensoras do juiz (e dos outros ex-heróis), além, de beneficiadas diretas dos vazamentos seletivos da investigação [Dúvida: os vazamentos são seletivos ou as investigações é que são seletivas, enterrando o que "não vem ao caso", motivo do grande sucesso de Moro na mídia e na oposição? Ou ambos?], os quais expõem os crimes dos adversários e ocultam os dos aliados, não esconderam seu estupor com a decisão: “STF fatia Lava Jato e mina tese da quadrilha que tomou de assalto o poder. Decisão tira das mãos do juiz Sérgio Moro e do ministro Teori Zavascki as investigações dos tentáculos da Operação Lava Jato e pode espalhar ações penais pelo país" esbravejou o site da [revista da direita radical] "Veja", da Editora Abril, em 23/09/2015, ås 18:21.
Já a "Época", das "Organizações Globo" (TV, jornais e rádios) foi mais longe e dedicou ao tema toda a capa da edição desta semana: “A Lava Jato trincada. A decisão do Supremo Tribunal Federal de retirar do juiz Sérgio Moro investigações do petrolão põe em risco o futuro da operação que se aproxima do topo da corrupção brasileira”. Seguem-se várias páginas de vitupério contra o Supremo, em larga medida, o ministro Dias Tóffoli, inspirador da decisão do fatiamento da Lava Jato, e a quem a revista fez questão de identificar como “ex-advogado eleitoral do PT, ex-advogado-geral da União no governo Lula e reprovado duas vezes em concurso para juiz”. Mas não se iluda, caro leitor, porque, tão logo se dê o sepultamento do mito Moro, surgirá um outro paladino da moral e dos bons costumes para nos torrar a paciência, e isto se ele já não estiver despontando por aí."
FONTE: escrito por FC Leite Filho e publicado no site "Patria Latina" (http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=723b546e0a3c1e6666833b9b119e822e&cod=15860). [Trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].
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