Por Alex Solnik, jornalista
"Enquanto as acusações vinham de delatores ou de Rodrigo Janot, Eduardo Cunha tinha argumentos: não gostam de mim... são meus inimigos... queriam levar vantagem e eu não deixei... não confio em delator... homem público é perseguido mesmo... Janot está a serviço do governo de quem eu sou oposição, todo mundo sabe disso...
Mas agora que um banco suíço denuncia às autoridades suíças ter bloqueado alguns milhões de dólares de quatro contas secretas cujo beneficiário é Eduardo Cunha e sua mulher por ele ter tentado ocultar a titularidade das contas e os valores depositados não serem compatíveis com o salário que declarou, o que falta para esse senhor cair do pedestal, já que ele próprio fez questão de alardear que não tinha nenhuma conta na Suíça?
Muita coisa, pelo visto. Dizer, ele não pode mais nada. Seu arsenal de justificativas esgotou-se. Dizer o quê? Que as contas de fato não são dele, mas das empresas de fachada que ele criou? E então ele não mentiu? Que a Suíça está interessada em desestabilizar a democracia brasileira? Em derrubar o real frente ao dólar?
Tanto ele não tem mais argumentos que a sua resposta às notícias da Suíça foi o silêncio. E o cancelamento da viagem à Itália, certamente por ter sido alertado por seu time de advogados do perigo dos voos internacionais para quem está na mira da Justiça. Desse modo, ele passou a integrar o trio dos brasileiros que não vão viajar nunca mais para o exterior, ao lado de Paulo Maluf e Marco Polo Del Nero.
Se eu fosse jornalista num país onde a ética e a honra fossem valores intocáveis não teria muitas dúvidas em fazer um prognóstico a respeito do futuro próximo de alguém com acusações semelhantes às de Cunha: cassação, renúncia ou até mesmo suicídio.
Mas, como não é o caso, é sempre bom ficar com o pé atrás. Tudo é uma questão de votos. Se ele tiver votos no Conselho de Ética (e parece ter) o caso pode morrer lá mesmo; se chegar ao plenário vale a pena contabilizar votos pró e contra.
Pode-se acusar Eduardo Cunha de tudo, menos de ser burro ou idiota. Ele está com um pé em cada canoa. Dá a entender ao PSDB et caterva que vai autorizar o impeachment e ao mesmo tempo diz ao PT et caterva que não vai, não. Mantém, desse modo, o apoio dos dois partidos. Ele vai fazer de tudo e mais um pouco para se apegar ao mandato, porque sem mandato, sabe ele muito bem, seu próximo endereço poderá ser Curitiba, a capital da Lava Jato.
Mas é bom colocar as barbas de molho. Só Eduardo Cunha derruba Eduardo Cunha."
FONTE: escrito por Alex Solnik, jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão", "O domador de sonhos" e "Dragonfly" (lançamento janeiro 2016). Artigo publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/blog/alex_solnik/199380/S%C3%B3-Eduardo-Cunha-derruba-Eduardo-Cunha.htm).
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