quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O QUE RESULTOU DA MÃE ITALIANA DA "LAVA-JATO"



A corrupção na Itália e sua internacionalização pós-Mãos Limpas

"Em entrevista ao GGN, especialista compara "Mãos Limpas" ao processo atual no Brasil com a "Lava Jato", e conta que a máfia italiana ainda permanece sob forma de alienação, devido à sua representatividade no desenvolvimento econômico do país

Do "Jornal GGN"

"A máfia tem tamanha importância na economia italiana que agora é considerada no PIB", afirmou Cristiane Mancini, economista e autora de estudos na "Università Tor Vergata", em Roma. Em entrevista ao GGN, Mancini revelou como a "Operação Mãos Limpas" atuou no país, nos anos 90, e o tipo de corrupção que permaneceu, sendo ainda responsável por 7% da economia local.

Na Itália, a pesquisadora realizou estudos pela "SOS Impresa", associação que garante assistência jurídica e apoio a vítimas de empresários da máfia, em especial os atingidos pelas atividades de extorsão e usura. A entidade também fomenta estudos sobre o fenômeno da máfia e as suas estratégias, com o objetivo de informar sobre a infiltração do crime organizado.

"De acordo com esse estudo, que eu tive condições de ir à Itália, consegui ter a concretização de que, na verdade, hoje a máfia está ramificada em toda a economia italiana. Houve a concretização de colocar a máfia no PIB, porque antes ela não era considerada", disse a economista, explicando que, após a deflagração da "Mãos Limpas", "algumas coisas ficaram um pouco amornadas, permitindo que a corrupção voltasse".

A especialista contou que o início desse processo foi "uma combinação de interesses entre as organizações criminosas com os organismos públicos", por meio dos chamados colarinhos brancos: "aqueles indivíduos que facilitam legislações, propostas, que revelam segredos e permitem essa combinação entre empresa privada e setor publico".

De acordo com ela, antes das investigações chegarem a seu ápice, ainda assim, era bastante claro para todos que havia aquele sistema de corrupção, que só foi completamente desmistificado após a sequência de assassinatos, que resultaram na instalação de auditorias e a revelação de todo o esquema.

"Por que que na Itália é completamente diferente de uma organização criminosa brasileira? Porque lá é hierarquizada, tem a ver com família, honra e verdade", comparou Cristiane Mancini. Por outro lado, haviam semelhanças entre o país europeu daqueles anos e o Brasil de hoje, apontou: a crise política e econômica, que na Itália durou por uma década; a existência de inúmeros partidos políticos; a falta de transparência entre empresas e o setor público; e o mecanismo de operar por meio de licitações.

Passados mais de 20 anos, algumas características permaneceram, como a sucessão familiar, contou Mancini. Hoje, a máfia italiana atua "na reciclagem de lixo, na zona hoteleira, em produtos alimentícios, em escolas, hospitais, em praticamente tudo", afirmou, completando que o esquema "continua ilegal, só que promove tamanho desenvolvimento econômico que se transforma em alienação".

Desde a "Mãos Limpas", com o passar dos anos a máfia se internacionalizou e começou a se fortalecer no exterior. "Começou a fazer intercâmbios, a se camuflar em alguns setores, a traficar ainda mais drogas, envolver prostituição, jogadores de futebol. Ela se diversificou", disse. "Depois da crise, a máfia mais uma vez se reinventou, passou a fornecer o crédito, a oferecer emprego e, inclusive, a mostrar que uma empresa que era falida poderia se levantar, então passou a dar oportunidade para o empresariado também".

Mancini acredita que há relações entre a "Operação Mãos Limpas" e a "Lava Jato", como a extensão do esquema para paraísos fiscais. Mas também cenários distintos que são determinantes para análises de comparação. "Na Itália, o poder judiciário entrou com maior força para erradicar a corrupção, em 1990. No Brasil isso ainda não aconteceu", defendeu.

"A política italiana tem melhorado bastante, eu acredito que agora ela está com bastante metas a cumprir e está cumprindo. [Houve um] fortalecimento das empresas italianas, no sentido de não procurar o serviço de organizações mafiosas e também partidos políticos bem claros com seus propósitos, hoje possui muitos poucos em relação ao que possuía", afirmou. "Eu acredito que dá para fazer um contraponto com a política brasileira. Ela está muito atribulada, com muitos partidos, e talvez seria a hora de uma repaginada", completou."

FONTE: do "Jornal GGN"  (http://jornalggn.com.br/noticia/a-corrupcao-na-italia-e-sua-internacionalizacao-pos-maos-limpas).

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