domingo, 27 de dezembro de 2015

O BRASIL E O FMI




Um presente para quem acredita que o Brasil virou um “coitadinho”

Por FERNANDO BRITO

"Na edição natalina de 'O Globo', há um artigo que bem que poderia ser dado de presente aos que, emprenhados pela mídia que mais sabota seu país, acham que o Brasil regrediu décadas e que hoje somos uma espécie de “coitadinhos” mundiais.

Paulo Nogueira Batista, ex-representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional – sim, o velho e sabido FMI -, escreve sobre a ascensão no Brasil no ranking das finanças mundiais, numa avaliação perto da qual "Moody’s, Fitch ou Standard & Poors" são meros palpiteiros de apostas no Jockey.

Passamos de pedintes submissos a parceiro respeitável e nossa posição, dentro da composição do órgão, passou de um 18º lugar para o 10º maior “dono” do fundo, que ainda não é o registro preciso de nosso tamanho econômico e que não lhe tira a posição de ser, ainda, uma espécie de “pacto colonial” das finanças entre os EUA e a Europa.

O FMI é o que é, mas o Brasil já não é o que foi. Quem tem saudades da escravidão ainda tem a mente escravizada.

O Brasil e o FMI

Por Paulo Nogueira Batista Jr.

"O Congresso dos EUA finalmente ratificou a reforma do FMI, concluída em 2010. Fiquei contente. Trabalhei muito na montagem desse acordo e a demora dos EUA em ratificá-lo já me fazia temer que ele nunca seria implementado. A reforma do FMI terminaria assim por ter a mesma sorte que a "Rodada de Doha" da "Organização Mundial do Comércio".

Demorou mas saiu. O esforço não foi em vão. O Brasil é, depois da China, o maior beneficiário da reforma em termos de aumento de quota e poder de voto.

Quando cheguei ao FMI, em 2007, o Brasil tinha uma quota de 1,4% e era o 18º maior quotista. A reforma de 2008 levou a nossa quota para 1,8% do total e o Brasil subiu para 14º no ranking. Com a entrada em vigor da reforma de 2010, a nossa quota sobe para 2,3% e o Brasil, para 10º no ranking. O aumento acumulado em termos de poder de voto com as reformas de 2008 e 2010 foi o maior obtido pelo Brasil em toda a história do FMI.

A chave para esses resultados foi o diálogo com Dominique Strauss Kahn, na época diretor-gerente do FMI, que compreendia a necessidade de abrir mais espaço para os países de economia emergente. Uma característica importante de Strauss Kahn é que ele cumpria os acordos que fazia. Essa foi a minha experiência, pelo menos.

Em 2007, quando Strauss Kahn era candidato ao cargo de diretor-gerente, combinei que o Brasil votaria nele em troca do compromisso de aumentar a quota brasileira para 1,8% na reforma que seria concluída em 2008. (O então ministro da Fazenda, Guido Mantega, aliás, teve que conter integrantes do governo propensos a anunciar precocemente apoio à candidatura de Strauss Kahn.)

Quando da negociação do passo seguinte — a reforma de 2010 — mostrei a Strauss Kahn que Brasil, EUA, China, Índia e Rússia eram os únicos países que figuravam na lista dos dez maiores tanto em termos de PIB, como de território e população. Ele logo se deu conta de que a reforma teria que ter como um objetivo central colocar as dez maiores economias do mundo — os EUA, o Japão, os quatro grandes europeus, e os quatro BRIC — como os dez maiores quotistas do FMI. Para tal, o Brasil precisaria dar novo salto e passar de 14º para 10º. Em fins de 2010, o acordo foi fechado com esse resultado.

A entrada em vigor das quotas negociadas em 2010 é um passo significativo, mas não resolve os problemas de legitimidade do FMI. A transferência de poder de voto dos países avançados para os países em desenvolvimento é modesta, apenas 2,6 pontos percentuais (que se somam à transferência de 2,7 pontos obtidos na reforma de 2008). Os países desenvolvidos ainda contam com ampla maioria e continuarão controlando a instituição. A distribuição de poder decisório no FMI não reflete as mudanças que vêm ocorrendo na economia mundial.

Os próximos passos estão previstos no próprio acordo de 2010. Primeiro: a revisão da fórmula que calcula as quotas para melhor refletir o peso econômico dos países. Segundo: um novo realinhamento de quotas, que permita aumentar a representação dos países em desenvolvimento. O primeiro passo era para ter sido concluído até janeiro de 2013; o segundo, até janeiro de 2014. Ficou tudo atrasado com a demora dos EUA em ratificar a reforma.

Agora é correr atrás do prejuízo."

FONTE: escrito por Paulo Nogueira Batista Jr. no 'O Globo'. Transcrito e comentado por FERNANDO BRITO em seu blog "Tijolaço"  (http://tijolaco.com.br/blog/32870-2/).

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