A verdade sobre a Petrobras
Por Cláudio da Costa Oliveira, economista aposentado da Petrobras
"Muitos falam sobre a necessidade de a Petrobras se desfazer de ativos por problemas de caixa. A verdade, porém, é que a empresa tem em caixa recursos suficientes para cobrir 91% de tudo o que ela tem para pagar nos próximos 12 meses. Poucas empresas no mundo têm um caixa tão confortável.
Muito se tem falado sobre a situação da Petrobras. Alguns dizem que está quebrada, outros que tem problemas de caixa ou que está muito endividada. Parece que tudo é negativo.
Este artigo busca esclarecer os petroleiros sobre as verdades que, não sabemos por que razões, não aparecem. Vamos abordar alguns aspectos:
1. Resultados financeiros de 2014
Em 2014, foram feitos lançamentos excepcionais no resultado da Petrobras que somaram a quantia de R$ 50 bilhões, sendo R$ 6 bilhões correspondentes à Operação Lava Jato e R$ 44 bilhões de baixas de ativos (impairment). Tais lançamentos não têm efeitos financeiros, somente econômicos.
Com isso, a empresa apresentou um prejuízo de R$ 20 bilhões, o que significa dizer que operacionalmente ela teve um lucro de R$ 30 bilhões.
A nosso ver teria sido muito mais adequado, ao invés de lançar esses valores em um único exercício, que fossem amortizados, por exemplo, em 10 anos. Se tivesse sido assim em 2014, teriam sido lançados somente R$ 5 bilhões, e a empresa apresentaria um lucro de R$ 25 bilhões, o que seria muito mais positivo para sua imagem
De qualquer forma, é preciso deixar bem claro para o petroleiro que operacionalmente a empresa estava muito bem. Equilibrada, como sempre foi, nos seus aspectos econômicos, financeiros e patrimoniais.
2. Preço do barril
Constantemente, estamos assistindo comentaristas dizendo que as ações da Petrobras perdem valor quando o preço do barril cai no mercado internacional. Ou, inversamente, ganham valor quando o preço do barril sobe.
Essa é uma informação totalmente distorcida, pois as receitas da Petrobras , à exceção do querosene de aviação, não estão atreladas ao preço internacional do petróleo. As receitas da Petrobras são geradas pelo que nós pagamos internamente pelos combustíveis.
Apesar de a empresa não ter nenhuma transparência sobre o assunto, nós acreditamos que hoje o que nós pagamos internamente pelos combustíveis corresponda a um preço de barril entre U$ 70 e U$ 80. O que cobre com folga todas as suas necessidades.
Na verdade, a queda no preço do barril MELHORA os resultados da Petrobras por dois motivos básicos:
–- Reduz o pagamento de royalties e participações especiais que são atrelados ao preço do barril
–- Aumenta o lucro da Petrobras nas operações de importação e revenda de gasolina
Isso pode ser visto claramente nas Demonstrações Financeiras do 3º trimestre de 2015, publicadas pela Petrobras, nas quais a margem operacional apresentou crescimento de 148% em relação a 2014. As notas explicativas falam que essa melhoria foi causada pela queda no preço internacional do petróleo. BASTA LER.
3. Resultados de 2015
No 3º trimestre de 2015, a empresa registrou prejuízo de R$ 3 bilhões, causado por lançamentos de gastos não operacionais, com perdas cambiais (R$ 6 bi) e aceite de pendências trabalhistas e tributárias (R$ 2,5 bi). Portanto, operacionalmente ocorreu um lucro de R$ 5,5 bilhões.
Estranhamente, na última reunião com a FUP, tratando da PLR, os representantes da empresa disseram que temem que o resultado do 4º trimestre venha tão negativo que elimine o lucro acumulado de R$ 2 bilhões. Ora, tudo indica que o resultado do 4º trimestre será muito bom, principalmente devido a:
– Não haverá perda cambial, pelo contrário, deve ocorrer um pequeno ganho, pois o câmbio evoluiu positivamente
– No final de setembro, houve um aumento de combustíveis que vai aumentar a receita da empresa e melhorar o resultado.
Portanto, fica a pergunta: será que vão fazer lançamentos não operacionais (baixas de ativos e aceite de débitos) em tal volume que vão cobrir o lucro do 4º trimestre e o lucro acumulado de R$ 2 bilhões???
Não conhecemos o conteúdo desses lançamentos para saber de sua validade, mas, por que não adiar esses lançamentos para 2016, permitindo que a empresa apresente lucro em 2015, melhorando sua imagem e assumindo a PLR dos petroleiros (que não têm nada com isso)?
POR QUE A OBSESSÃO PELO PREJUÍZO???
4. Endividamento
Constantemente apontado como o maior problema da Petrobras, principalmente por pessoas mal intencionadas, ou na melhor das hipóteses, mal informadas, o endividamento da Petrobras foi incrementado para a exploração do pré-sal.
Muitos disseram que a Petrobras não conseguiria tirar petróleo no pré-sal. Em dezembro, só o poço Lula extraiu mais de 400.000 barris dia. Agora, muitos falam que o pré-sal é inviável economicamente com os atuais preços do barril. Mas, como já vimos anteriormente, a receita da Petrobras não tem vínculo com preço internacional de petróleo.
Fala-se também em problema de “alavancagem”. Mas como avaliar alavancagem se os poços mal começaram a produzir? Se ainda estão sendo feitos investimentos em plataformas de exploração? Uma empresa que está se endividando para investir em futuro aumento de produção não pode ser cobrada antes da conclusão dos projetos e sua entrada em operação.
No início de 2015, a dívida de longo prazo da Petrobras era de R$ 350 bilhões. Com a evolução cambial, principalmente no 4º trimestre, a dívida subiu para R$ 500 bilhões.
É um problema sobre o qual a empresa não tem controle e que atinge todas que têm dívidas em moeda estrangeira. (O prejuízo da Vale no 3ª trimestre foi causado exclusivamente por perda cambial).
Mesmo assim, acreditamos que esse não é um problema grave para uma empresa que hoje já tem faturamento anual superior a R$ 300 bilhões. Assim, a relação dívida/receita é de 1,6.
Vocês sabem bem que qualquer de nós que, por exemplo, tenha uma receita anual de R$ 100 mil, consegue obter um financiamento imobiliário de R$ 250 mil. Ou seja, uma relação dívida/receita de 2,5.
Talvez a Petrobras precise mudar o perfil de sua dívida, alongando o prazo de amortização. Mas isso não é “bicho de sete cabeças”.
5. O caixa da Petrobras
Temos ouvido, pacientemente, muita gente boa dizer que a Petrobras precisa se desfazer de ativos por necessidades de caixa. Em entrevista recente, o presidente Bendini informou que o caixa da Petrobras é “robusto”.
Na verdade, o presidente foi modesto, pois acreditamos que a Petrobras tenha hoje o maior nível de caixa da sua história. As Demonstrações Financeiras do 3º trimestre de 2015 mostram um caixa de R$ 100 bilhões. Ou seja, o equivalente a US$ 25 bilhões. Calculamos que isso seja dinheiro suficiente para comprar à vista a Arcelor Tubarão + Samarco + Fibria.
O caixa da Petrobras hoje cobre 91% do seu Passivo Circulante. Isso quer dizer que a empresa tem em caixa recursos suficientes para cobrir 91% de tudo que ela tem para pagar nos próximos 12 meses. Poucas empresas no mundo têm um caixa tão confortável.
Sendo assim, a empresa pode apresentar qualquer motivo para se desfazer de ativos, menos que seja por necessidade de caixa.
6. Conclusão
Portanto, apesar de todos os problemas atuais, a Petrobras continua muito bem, nos seus aspectos econômicos, financeiros e patrimoniais. Tudo por um simples motivo: O NEGÓCIO É MUITO BOM."
OBS do autor: Aconselhamos todos que puderem a entrar no site da Petrobras e ver as Demonstrações Financeiras. Não deixem de ler as notas explicativas. Ficamos à disposição para quaisquer esclarecimentos no nosso email: c.claudiooliveira@hotmail.com
FONTE: escrito por Cláudio da Costa Oliveira, economista aposentado da Petrobras. Texto do conteúdo especial do projeto do "Brasil Debate" e Sindipetro NF Diálogo Petroleiro. Artigo publicado no site "Brasil Debate" (http://brasildebate.com.br/a-verdade-sobre-a-petrobras/).
"Muitos falam sobre a necessidade de a Petrobras se desfazer de ativos por problemas de caixa. A verdade, porém, é que a empresa tem em caixa recursos suficientes para cobrir 91% de tudo o que ela tem para pagar nos próximos 12 meses. Poucas empresas no mundo têm um caixa tão confortável.
Muito se tem falado sobre a situação da Petrobras. Alguns dizem que está quebrada, outros que tem problemas de caixa ou que está muito endividada. Parece que tudo é negativo.
Este artigo busca esclarecer os petroleiros sobre as verdades que, não sabemos por que razões, não aparecem. Vamos abordar alguns aspectos:
1. Resultados financeiros de 2014
Em 2014, foram feitos lançamentos excepcionais no resultado da Petrobras que somaram a quantia de R$ 50 bilhões, sendo R$ 6 bilhões correspondentes à Operação Lava Jato e R$ 44 bilhões de baixas de ativos (impairment). Tais lançamentos não têm efeitos financeiros, somente econômicos.
Com isso, a empresa apresentou um prejuízo de R$ 20 bilhões, o que significa dizer que operacionalmente ela teve um lucro de R$ 30 bilhões.
A nosso ver teria sido muito mais adequado, ao invés de lançar esses valores em um único exercício, que fossem amortizados, por exemplo, em 10 anos. Se tivesse sido assim em 2014, teriam sido lançados somente R$ 5 bilhões, e a empresa apresentaria um lucro de R$ 25 bilhões, o que seria muito mais positivo para sua imagem
De qualquer forma, é preciso deixar bem claro para o petroleiro que operacionalmente a empresa estava muito bem. Equilibrada, como sempre foi, nos seus aspectos econômicos, financeiros e patrimoniais.
2. Preço do barril
Constantemente, estamos assistindo comentaristas dizendo que as ações da Petrobras perdem valor quando o preço do barril cai no mercado internacional. Ou, inversamente, ganham valor quando o preço do barril sobe.
Essa é uma informação totalmente distorcida, pois as receitas da Petrobras , à exceção do querosene de aviação, não estão atreladas ao preço internacional do petróleo. As receitas da Petrobras são geradas pelo que nós pagamos internamente pelos combustíveis.
Apesar de a empresa não ter nenhuma transparência sobre o assunto, nós acreditamos que hoje o que nós pagamos internamente pelos combustíveis corresponda a um preço de barril entre U$ 70 e U$ 80. O que cobre com folga todas as suas necessidades.
Na verdade, a queda no preço do barril MELHORA os resultados da Petrobras por dois motivos básicos:
–- Reduz o pagamento de royalties e participações especiais que são atrelados ao preço do barril
–- Aumenta o lucro da Petrobras nas operações de importação e revenda de gasolina
Isso pode ser visto claramente nas Demonstrações Financeiras do 3º trimestre de 2015, publicadas pela Petrobras, nas quais a margem operacional apresentou crescimento de 148% em relação a 2014. As notas explicativas falam que essa melhoria foi causada pela queda no preço internacional do petróleo. BASTA LER.
3. Resultados de 2015
No 3º trimestre de 2015, a empresa registrou prejuízo de R$ 3 bilhões, causado por lançamentos de gastos não operacionais, com perdas cambiais (R$ 6 bi) e aceite de pendências trabalhistas e tributárias (R$ 2,5 bi). Portanto, operacionalmente ocorreu um lucro de R$ 5,5 bilhões.
Estranhamente, na última reunião com a FUP, tratando da PLR, os representantes da empresa disseram que temem que o resultado do 4º trimestre venha tão negativo que elimine o lucro acumulado de R$ 2 bilhões. Ora, tudo indica que o resultado do 4º trimestre será muito bom, principalmente devido a:
– Não haverá perda cambial, pelo contrário, deve ocorrer um pequeno ganho, pois o câmbio evoluiu positivamente
– No final de setembro, houve um aumento de combustíveis que vai aumentar a receita da empresa e melhorar o resultado.
Portanto, fica a pergunta: será que vão fazer lançamentos não operacionais (baixas de ativos e aceite de débitos) em tal volume que vão cobrir o lucro do 4º trimestre e o lucro acumulado de R$ 2 bilhões???
Não conhecemos o conteúdo desses lançamentos para saber de sua validade, mas, por que não adiar esses lançamentos para 2016, permitindo que a empresa apresente lucro em 2015, melhorando sua imagem e assumindo a PLR dos petroleiros (que não têm nada com isso)?
POR QUE A OBSESSÃO PELO PREJUÍZO???
4. Endividamento
Constantemente apontado como o maior problema da Petrobras, principalmente por pessoas mal intencionadas, ou na melhor das hipóteses, mal informadas, o endividamento da Petrobras foi incrementado para a exploração do pré-sal.
Muitos disseram que a Petrobras não conseguiria tirar petróleo no pré-sal. Em dezembro, só o poço Lula extraiu mais de 400.000 barris dia. Agora, muitos falam que o pré-sal é inviável economicamente com os atuais preços do barril. Mas, como já vimos anteriormente, a receita da Petrobras não tem vínculo com preço internacional de petróleo.
Fala-se também em problema de “alavancagem”. Mas como avaliar alavancagem se os poços mal começaram a produzir? Se ainda estão sendo feitos investimentos em plataformas de exploração? Uma empresa que está se endividando para investir em futuro aumento de produção não pode ser cobrada antes da conclusão dos projetos e sua entrada em operação.
No início de 2015, a dívida de longo prazo da Petrobras era de R$ 350 bilhões. Com a evolução cambial, principalmente no 4º trimestre, a dívida subiu para R$ 500 bilhões.
É um problema sobre o qual a empresa não tem controle e que atinge todas que têm dívidas em moeda estrangeira. (O prejuízo da Vale no 3ª trimestre foi causado exclusivamente por perda cambial).
Mesmo assim, acreditamos que esse não é um problema grave para uma empresa que hoje já tem faturamento anual superior a R$ 300 bilhões. Assim, a relação dívida/receita é de 1,6.
Vocês sabem bem que qualquer de nós que, por exemplo, tenha uma receita anual de R$ 100 mil, consegue obter um financiamento imobiliário de R$ 250 mil. Ou seja, uma relação dívida/receita de 2,5.
Talvez a Petrobras precise mudar o perfil de sua dívida, alongando o prazo de amortização. Mas isso não é “bicho de sete cabeças”.
5. O caixa da Petrobras
Temos ouvido, pacientemente, muita gente boa dizer que a Petrobras precisa se desfazer de ativos por necessidades de caixa. Em entrevista recente, o presidente Bendini informou que o caixa da Petrobras é “robusto”.
Na verdade, o presidente foi modesto, pois acreditamos que a Petrobras tenha hoje o maior nível de caixa da sua história. As Demonstrações Financeiras do 3º trimestre de 2015 mostram um caixa de R$ 100 bilhões. Ou seja, o equivalente a US$ 25 bilhões. Calculamos que isso seja dinheiro suficiente para comprar à vista a Arcelor Tubarão + Samarco + Fibria.
O caixa da Petrobras hoje cobre 91% do seu Passivo Circulante. Isso quer dizer que a empresa tem em caixa recursos suficientes para cobrir 91% de tudo que ela tem para pagar nos próximos 12 meses. Poucas empresas no mundo têm um caixa tão confortável.
Sendo assim, a empresa pode apresentar qualquer motivo para se desfazer de ativos, menos que seja por necessidade de caixa.
6. Conclusão
Portanto, apesar de todos os problemas atuais, a Petrobras continua muito bem, nos seus aspectos econômicos, financeiros e patrimoniais. Tudo por um simples motivo: O NEGÓCIO É MUITO BOM."
OBS do autor: Aconselhamos todos que puderem a entrar no site da Petrobras e ver as Demonstrações Financeiras. Não deixem de ler as notas explicativas. Ficamos à disposição para quaisquer esclarecimentos no nosso email: c.claudiooliveira@hotmail.com
FONTE: escrito por Cláudio da Costa Oliveira, economista aposentado da Petrobras. Texto do conteúdo especial do projeto do "Brasil Debate" e Sindipetro NF Diálogo Petroleiro. Artigo publicado no site "Brasil Debate" (http://brasildebate.com.br/a-verdade-sobre-a-petrobras/).
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