O "Diário do Centro do Mundo"-DCM RELATA A VIDA DE FHC EM PARIS
"O Jornalista Kiko Nogueira, do 'Diário do Centro do Mundo', resgata uma reportagem de abril de 2003 da revista 'Viagem e Turismo' sobre a relação do ex-presidente tucano com a capital francesa; "O ex-presidente falou sobre sua vida na capital francesa, inclusive dando detalhes do apartamento na Avenue Foch, endereço dos ricos e de poderosos com Idi Amin Dada", lembra.
Do "Brasil 247"
Uma reportagem publicada em abril de 2003 na revista "Viagem e Turismo", da Editora Abril, relata a relação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso com Paris, cidade onde teria um apartamento na luxuosa Avenue Foch – que ele nega ser dele [diz que é do "Jovelino", seu operador; ele seria apenas o usufrutuário] .
Quem resgata o texto é o jornalista Kiko Nogueira, do "Diário do Centro do Mundo", que trabalhava como redator-chefe da revista à época. "Nestes dias em que o 'triplex do Lula no Guarujá' e 'o sítio do Lula em Atibaia' não saem do noticiário, é cada vez mais curioso notar como nenhuma sobrancelha nunca se levantou por causa do apê", comenta ele.
Kiko Nogueira discorre sobre o principal ponto dessa polêmica: a "enrolada" história sobre o verdadeiro dono do imóvel. Segundo FHC, "o imóvel era emprestado de sua amiga Maria do Carmo Abreu Sodré, que o herdou do pai, Roberto de Abreu Sodré, ex-governador de São Paulo".
Mas o episódio não acaba aí: Maria do Carmo era casada com o empresário Jovelino Carvalho Mineiro Filho, que deixa suspeitas se era "um laranja ou apenas um sujeito generoso e desapegado".
Leia mais aqui.[ou a seguir]
PARA ALÉM DO APARTAMENTO NA AVENUE FOCH: A VIDA DE FHC EM PARIS.
Quem resgata o texto é o jornalista Kiko Nogueira, do "Diário do Centro do Mundo", que trabalhava como redator-chefe da revista à época. "Nestes dias em que o 'triplex do Lula no Guarujá' e 'o sítio do Lula em Atibaia' não saem do noticiário, é cada vez mais curioso notar como nenhuma sobrancelha nunca se levantou por causa do apê", comenta ele.
Kiko Nogueira discorre sobre o principal ponto dessa polêmica: a "enrolada" história sobre o verdadeiro dono do imóvel. Segundo FHC, "o imóvel era emprestado de sua amiga Maria do Carmo Abreu Sodré, que o herdou do pai, Roberto de Abreu Sodré, ex-governador de São Paulo".
Mas o episódio não acaba aí: Maria do Carmo era casada com o empresário Jovelino Carvalho Mineiro Filho, que deixa suspeitas se era "um laranja ou apenas um sujeito generoso e desapegado".
Leia mais aqui.[ou a seguir]
PARA ALÉM DO APARTAMENTO NA AVENUE FOCH: A VIDA DE FHC EM PARIS.
Por KIKO NOGUEIRA
FHC nos arredores da Avenue Foch, em Paris (fotos Antonio Ribeiro)
"Em abril de 2003, a revista 'Viagem e Turismo' (VT), da 'Editora Abril', publicou uma reportagem sobre um personagem e um lugar que viraram quase sinônimos um do outro: Fernando Henrique Cardoso e Paris.
O ex-presidente falou sobre sua vida na capital francesa, inclusive dando detalhes do apartamento na Avenue Foch, endereço dos ricos e de poderosos com Idi Amin Dada.
Nestes dias em que o “triplex do Lula no Guarujá” e “o sítio do Lula em Atibaia” não saem do noticiário, é cada vez mais curioso notar como nenhuma sobrancelha nunca se levantou por causa do apê.
A repórter da VT (onde eu trabalhava como redator-chefe na época) contou como foi a aparição de FHC para a reunião que rendeu a reportagem: “Ele chegou ao almoço num Mercedes, com motorista, vindo da piscina perto de seu apartamento. Tomamos vinho, ele comeu alcachofras de entrada, raia como prato principal e ovos nevados de sobremesa. Nada de gravata, apenas uma camisa esporte sobre o casacão que tirou ao entrar.”
Na matéria, ele diz o texto que depois repetiria em ocasiões diversas: o imóvel era emprestado de sua amiga Maria do Carmo Abreu Sodré, que o herdou do pai, Roberto de Abreu Sodré, ex-governador de São Paulo.
Mas a história dá uma enrolada a partir daí.
Maria do Carmo era casada com o empresário Jovelino Carvalho Mineiro Filho. Nos anos 70, Jovelino fez mestrado na Sorbonne e conheceu Paulo Henrique Cardoso. “O conheci como amigo do Paulo Henrique e nos tornamos grandes amigos”, disse ele sobre FHC.
“Ele assistiu umas aulas minhas na década de 1970, creio”, contou o ex-presidente. “Ele funciona basicamente como líder rural”. É uma definição, na melhor das hipóteses, simplista.
Em 2000, Itamar Franco, então governador de Minas Gerais, mencionou a associação de FHC com Jovelino na fazenda "Córrego da Ponte", em Buritis, na revista IstoÉ. “Essa fazenda tem algum mistério”, disse Itamar. “Muito complicada essa transação imobiliária. Metade pertence a um homem chamado Jovelino Mineiro e a outra metade pertence aos filhos de Fernando Henrique.”
Jovelino foi acusado de ser grileiro pelo MST no Pontal do Paranapanema, em São Paulo, região repleta de terras devolutas. Em 1995, a "Camargo Corrêa" [empreiteira implicada na Lava-Jato] construiu um aeródromo particular em Buritis, concluído em menos de 3 meses.
Jovelino era pau pra toda obra. Em 2002, ajudou Fernando Henrique, no final do segundo mandato, a "arrecadar fundos" para seu instituto. A revista "Época" publicou um relato de como foi o convescote em Brasília com a presença de executivos das maiores empreiteiras:
“Foi uma noite de gala. Na segunda-feira, o presidente Fernando Henrique Cardoso reuniu 12 dos maiores empresários do país para um jantar no Palácio da Alvorada, regado a vinho francês Château Pavie, de Saint Émilion (US$ 150 a garrafa, nos restaurantes de Brasília). Durante as quase três horas em que saborearam o cardápio preparado pela chef Roberta Sudbrack – ravióli de aspargos, seguido de foie gras, perdiz acompanhada de penne e alcachofra e rabanada de frutas vermelhas –, FHC aproveitou para passar o chapéu. Após uma rápida discussão sobre valores, os 12 comensais do presidente se comprometeram a fazer uma doação conjunta de R$ 7 milhões”.
Mais: ”O dinheiro fará parte de um fundo que financiará palestras, cursos, viagens ao Exterior (sic) do futuro ex-presidente e servirá também para trazer ao Brasil convidados estrangeiros ilustres. Os empresários foram selecionados pelo velho e leal amigo, Jovelino Mineiro, sócio dos filhos do presidente na fazenda de Buritis, em Minas Gerais.”
Conflito de interesses? Tráfico de influência? Alguma outra dessas acusações que estão na moda?
Em depoimento a Joaquim de Carvalho, no DCM, a jornalista Mirian Dutra afirmou que o apartamento está no nome de "Jovelino", mas o dono é seu ex-namorado. “Ele é um operador dele”, diz Mirian.
Jovelino é um laranja ou apenas um sujeito generoso e desapegado? Como anotaria o juiz Moro, evidentemente se referindo a Lula, há aí um “possível envolvimento criminoso”. Possível, que fique bem claro. Jamais saberemos.
Eis a Paris de Fernando Henrique Cardoso, o homem cujo apartamento não pertence a dele.
Por oito anos, Fernando Henrique Cardoso governou um país, morou num palácio e foi servido por dezenas de empregados. Assim que tudo terminou, ele quis férias. E, com todos os recantos do mundo a seu dispor, escolheu aquele em que é obrigado a arrumar a própria cama – “É horrível”, admite –, a levar as camisas para a lavanderia, toma bronca quando deixa a louça suja acumular e não é reconhecido nas ruas. O ex-presidente do Brasil escolheu Paris.
(…)
A familiaridade com a França vem dos tempos de aluno da Universidade de São Paulo, quando vários professores eram franceses; foi aprofundada nos três períodos em que morou em Paris entre os anos 60 e 70; e é atualizada pelos amigos. “Aqui não sou turista, não me sinto na obrigação de conhecer nada. Por isso, agora que posso, sou um flâneur”, diz.
(…)
Basicamente, o que ele faz em Paris é, como bom ex-professor de sociologia, ler e, como bom político, jantar e almoçar com amigos e personalidades do mundo político. Mas, em seus passeios, também descobre belíssimas atrações (como o Parc de La Villette, um dos preferidos de seus netos). Pode-se dizer que poucos guias conhecem Paris tão bem quanto Fernando Henrique Cardoso.
(…)
Para comprar livros ou checar as novidades, ele prefere a livraria FNAC da Champs-Elysées. Não é a mais charmosa da cidade e nem é histórica, mas é prática e bem fornida. Para comentar a guerra no Iraque ou murmurar seus receios e esperanças com o governo Lula, sua carta de opções é maior. Assumido pão-duro, Fernando Henrique frequenta restaurantes estrelados pelo honorável Guia Michelin, a convite, e bistrôs, quando paga. O critério, conta, é o da boa comida.
(…)
Na sua lista de recomendáveis, entra o bistrô do chef Michel Rostang, onde o almoço, com entrada, prato e café, custa 27 euros, mas não seu restaurante duas estrelas, que fica ao lado e onde se gastam 150 euros numa refeição. Fernando Henrique vai bastante também ao Giulio Rebellato. Era uma maneira bem mais eficaz de escapar à pia da cozinha do que argumentar com a mulher, Ruth, como fez em algumas ocasiões: “Eu fui presidente do Brasil, morei num palácio. Você acha pouco eu aqui lavando copo?” A poucos quarteirões de sua casa, o restaurante funcionou como o-italiano-ali-da-esquina nessa temporada de inverno da família Cardoso no "seizième arrondissement".
O "seizième", bairro dos parisienses ricos, não foi uma escolha. O apartamento de frente para a Avenue Foch, uma avenida de quatro pistas, ladeadas por jardins, que liga o Arco do Triunfo ao Parque Bois de Boulogne, foi emprestado por sua amiga Maria do Carmo Abreu Sodré, que o herdou do pai, Roberto de Abreu Sodré. Acoplado a um estúdio, ele tem cerca de 100 metros quadrados e mantém a decoração deixada pelo ex-governador paulista. Fernando Henrique esbarra nos enfeites da casa e sente falta, no bairro, do burburinho dos cafés, brasseries e livrarias do Quartier Latin, região em que morou por mais tempo.
Em compensação, o apartamento tem um conforto que o hóspede valoriza: dois banheiros e um lavabo. Fernando Henrique morou pela primeira vez em Paris em 1961, numa casa de estudantes na Cidade Universitária. A Paris daquele tempo era escura, suja, com os prédios cobertos por uma fuligem negra. O “brilhantismo” – definição dele – atual da cidade só começou a aparecer nos anos 70. “Eu vi a eclosão do banho na França. As pessoas compravam chuveiros, mas, sem ter onde instalar, os colocavam na cozinha”, conta. Às vezes, ainda no corredor em direção a uma reunião de estudo, ele adivinhava quais eram os colegas presentes pelo cheiro.
(…)
Carregado por Ruth, assistiu à peça "A Tragédia" de Hamlet, dirigida pelo badalado Peter Brook. Gostou dela e do teatro, que não conhecia. O "Théâtre des Bouffes du Nord" foi construído no século 19 para ser um teatro popular. Foi ressuscitado em 1974 pela turma de Peter Brook, que manteve sua rusticidade e as marcas do tempo. Outra novidade cultural que entusiasma Fernando Henrique é o "Parc de La Villette", com seus jardins e mil e uma atividades.
FONTES: escrito pel jornalista Kiko Nogueira, do 'Diário do Centro do Mundo'. Transcrito e comentado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/220804/DCM-relata-a-vida-de-FHC-em-Paris.htm) e (http://www.diariodocentrodomundo.com.br/para-alem-do-apartamento-na-avenue-foch-a-vida-de-fhc-em-paris-por-kiko-nogueira/).
FHC nos arredores da Avenue Foch, em Paris (fotos Antonio Ribeiro)
"Em abril de 2003, a revista 'Viagem e Turismo' (VT), da 'Editora Abril', publicou uma reportagem sobre um personagem e um lugar que viraram quase sinônimos um do outro: Fernando Henrique Cardoso e Paris.
O ex-presidente falou sobre sua vida na capital francesa, inclusive dando detalhes do apartamento na Avenue Foch, endereço dos ricos e de poderosos com Idi Amin Dada.
Nestes dias em que o “triplex do Lula no Guarujá” e “o sítio do Lula em Atibaia” não saem do noticiário, é cada vez mais curioso notar como nenhuma sobrancelha nunca se levantou por causa do apê.
A repórter da VT (onde eu trabalhava como redator-chefe na época) contou como foi a aparição de FHC para a reunião que rendeu a reportagem: “Ele chegou ao almoço num Mercedes, com motorista, vindo da piscina perto de seu apartamento. Tomamos vinho, ele comeu alcachofras de entrada, raia como prato principal e ovos nevados de sobremesa. Nada de gravata, apenas uma camisa esporte sobre o casacão que tirou ao entrar.”
Na matéria, ele diz o texto que depois repetiria em ocasiões diversas: o imóvel era emprestado de sua amiga Maria do Carmo Abreu Sodré, que o herdou do pai, Roberto de Abreu Sodré, ex-governador de São Paulo.
Mas a história dá uma enrolada a partir daí.
Maria do Carmo era casada com o empresário Jovelino Carvalho Mineiro Filho. Nos anos 70, Jovelino fez mestrado na Sorbonne e conheceu Paulo Henrique Cardoso. “O conheci como amigo do Paulo Henrique e nos tornamos grandes amigos”, disse ele sobre FHC.
“Ele assistiu umas aulas minhas na década de 1970, creio”, contou o ex-presidente. “Ele funciona basicamente como líder rural”. É uma definição, na melhor das hipóteses, simplista.
Em 2000, Itamar Franco, então governador de Minas Gerais, mencionou a associação de FHC com Jovelino na fazenda "Córrego da Ponte", em Buritis, na revista IstoÉ. “Essa fazenda tem algum mistério”, disse Itamar. “Muito complicada essa transação imobiliária. Metade pertence a um homem chamado Jovelino Mineiro e a outra metade pertence aos filhos de Fernando Henrique.”
Jovelino foi acusado de ser grileiro pelo MST no Pontal do Paranapanema, em São Paulo, região repleta de terras devolutas. Em 1995, a "Camargo Corrêa" [empreiteira implicada na Lava-Jato] construiu um aeródromo particular em Buritis, concluído em menos de 3 meses.
Jovelino era pau pra toda obra. Em 2002, ajudou Fernando Henrique, no final do segundo mandato, a "arrecadar fundos" para seu instituto. A revista "Época" publicou um relato de como foi o convescote em Brasília com a presença de executivos das maiores empreiteiras:
“Foi uma noite de gala. Na segunda-feira, o presidente Fernando Henrique Cardoso reuniu 12 dos maiores empresários do país para um jantar no Palácio da Alvorada, regado a vinho francês Château Pavie, de Saint Émilion (US$ 150 a garrafa, nos restaurantes de Brasília). Durante as quase três horas em que saborearam o cardápio preparado pela chef Roberta Sudbrack – ravióli de aspargos, seguido de foie gras, perdiz acompanhada de penne e alcachofra e rabanada de frutas vermelhas –, FHC aproveitou para passar o chapéu. Após uma rápida discussão sobre valores, os 12 comensais do presidente se comprometeram a fazer uma doação conjunta de R$ 7 milhões”.
Mais: ”O dinheiro fará parte de um fundo que financiará palestras, cursos, viagens ao Exterior (sic) do futuro ex-presidente e servirá também para trazer ao Brasil convidados estrangeiros ilustres. Os empresários foram selecionados pelo velho e leal amigo, Jovelino Mineiro, sócio dos filhos do presidente na fazenda de Buritis, em Minas Gerais.”
Conflito de interesses? Tráfico de influência? Alguma outra dessas acusações que estão na moda?
Em depoimento a Joaquim de Carvalho, no DCM, a jornalista Mirian Dutra afirmou que o apartamento está no nome de "Jovelino", mas o dono é seu ex-namorado. “Ele é um operador dele”, diz Mirian.
Jovelino é um laranja ou apenas um sujeito generoso e desapegado? Como anotaria o juiz Moro, evidentemente se referindo a Lula, há aí um “possível envolvimento criminoso”. Possível, que fique bem claro. Jamais saberemos.
Eis a Paris de Fernando Henrique Cardoso, o homem cujo apartamento não pertence a dele.
Por oito anos, Fernando Henrique Cardoso governou um país, morou num palácio e foi servido por dezenas de empregados. Assim que tudo terminou, ele quis férias. E, com todos os recantos do mundo a seu dispor, escolheu aquele em que é obrigado a arrumar a própria cama – “É horrível”, admite –, a levar as camisas para a lavanderia, toma bronca quando deixa a louça suja acumular e não é reconhecido nas ruas. O ex-presidente do Brasil escolheu Paris.
(…)
A familiaridade com a França vem dos tempos de aluno da Universidade de São Paulo, quando vários professores eram franceses; foi aprofundada nos três períodos em que morou em Paris entre os anos 60 e 70; e é atualizada pelos amigos. “Aqui não sou turista, não me sinto na obrigação de conhecer nada. Por isso, agora que posso, sou um flâneur”, diz.
(…)
Basicamente, o que ele faz em Paris é, como bom ex-professor de sociologia, ler e, como bom político, jantar e almoçar com amigos e personalidades do mundo político. Mas, em seus passeios, também descobre belíssimas atrações (como o Parc de La Villette, um dos preferidos de seus netos). Pode-se dizer que poucos guias conhecem Paris tão bem quanto Fernando Henrique Cardoso.
(…)
Para comprar livros ou checar as novidades, ele prefere a livraria FNAC da Champs-Elysées. Não é a mais charmosa da cidade e nem é histórica, mas é prática e bem fornida. Para comentar a guerra no Iraque ou murmurar seus receios e esperanças com o governo Lula, sua carta de opções é maior. Assumido pão-duro, Fernando Henrique frequenta restaurantes estrelados pelo honorável Guia Michelin, a convite, e bistrôs, quando paga. O critério, conta, é o da boa comida.
(…)
Na sua lista de recomendáveis, entra o bistrô do chef Michel Rostang, onde o almoço, com entrada, prato e café, custa 27 euros, mas não seu restaurante duas estrelas, que fica ao lado e onde se gastam 150 euros numa refeição. Fernando Henrique vai bastante também ao Giulio Rebellato. Era uma maneira bem mais eficaz de escapar à pia da cozinha do que argumentar com a mulher, Ruth, como fez em algumas ocasiões: “Eu fui presidente do Brasil, morei num palácio. Você acha pouco eu aqui lavando copo?” A poucos quarteirões de sua casa, o restaurante funcionou como o-italiano-ali-da-esquina nessa temporada de inverno da família Cardoso no "seizième arrondissement".
O "seizième", bairro dos parisienses ricos, não foi uma escolha. O apartamento de frente para a Avenue Foch, uma avenida de quatro pistas, ladeadas por jardins, que liga o Arco do Triunfo ao Parque Bois de Boulogne, foi emprestado por sua amiga Maria do Carmo Abreu Sodré, que o herdou do pai, Roberto de Abreu Sodré. Acoplado a um estúdio, ele tem cerca de 100 metros quadrados e mantém a decoração deixada pelo ex-governador paulista. Fernando Henrique esbarra nos enfeites da casa e sente falta, no bairro, do burburinho dos cafés, brasseries e livrarias do Quartier Latin, região em que morou por mais tempo.
Em compensação, o apartamento tem um conforto que o hóspede valoriza: dois banheiros e um lavabo. Fernando Henrique morou pela primeira vez em Paris em 1961, numa casa de estudantes na Cidade Universitária. A Paris daquele tempo era escura, suja, com os prédios cobertos por uma fuligem negra. O “brilhantismo” – definição dele – atual da cidade só começou a aparecer nos anos 70. “Eu vi a eclosão do banho na França. As pessoas compravam chuveiros, mas, sem ter onde instalar, os colocavam na cozinha”, conta. Às vezes, ainda no corredor em direção a uma reunião de estudo, ele adivinhava quais eram os colegas presentes pelo cheiro.
(…)
Carregado por Ruth, assistiu à peça "A Tragédia" de Hamlet, dirigida pelo badalado Peter Brook. Gostou dela e do teatro, que não conhecia. O "Théâtre des Bouffes du Nord" foi construído no século 19 para ser um teatro popular. Foi ressuscitado em 1974 pela turma de Peter Brook, que manteve sua rusticidade e as marcas do tempo. Outra novidade cultural que entusiasma Fernando Henrique é o "Parc de La Villette", com seus jardins e mil e uma atividades.
FONTES: escrito pel jornalista Kiko Nogueira, do 'Diário do Centro do Mundo'. Transcrito e comentado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/220804/DCM-relata-a-vida-de-FHC-em-Paris.htm) e (http://www.diariodocentrodomundo.com.br/para-alem-do-apartamento-na-avenue-foch-a-vida-de-fhc-em-paris-por-kiko-nogueira/).
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