sexta-feira, 11 de março de 2016

"OS MORTOS ESTÃO ACORDADOS. DEVERIA DORMIR?"




“Os mortos estão acordados, deveria dormir?” (Byron)

Por Sérgio Medeiros

"Um golpe contra um governo legítimo, um golpe contra Dilma, um golpe contra Lula, um golpe contra a democracia.

Gostaria de falar palavras amenas, mas o momento não é de contemporização, a realidade é extremamente dura, e não nos permite, num horizonte próximo, alimentar esperanças quanto a vivenciá-la sob o império de instituições livres e regidas pela imparcialidade da lei e de magistrados justos.

Estamos vivendo episódios em que a força se sobrepõe à razão, e assistimos perplexos e inconformados o massacre de pessoas que deram sua vida por um projeto que elevasse a vida dos cidadãos comuns do povo, e, com isso, a nossa própria, como seres humanos.

Estamos vendo uma justiça na qual nós não nos reconhecemos, que usa de suas prerrogativas e força decisórias, para trancafiar e expor de forma cruel quem se mostrou , mais uma vez, digno e inocente, mesmo frente a novas e insidiosas formas de arbítrio e tortura.

Antes os instrumentos violavam o corpo físico, agora tentam atingir a alma, a honra, a dignidade.

Registro. Novamente serão derrotados


Não aceitamos essa suja guerra econômica que tenta impor a miséria como regra, e a pobreza como destino, como se fosse possível que seres humanos, condenassem outros seres humanos a tal condição.

Entretanto, a cada volta dessa engrenagem espúria que se move, vejo seu reflexo nos jornais pagos a peso de ouro e vidas... e vejo mãos sujas de sangue inocente, escrevendo colunas e mais colunas... cheias de ódio e de sangue....

Em meio a extrema miséria moral dessa imprensa, dita livre, mas financiada a moedas de prata, ainda assim, alguns se perguntam o que fazer?

Os mortos estão acordados, deveria dormir?
O mundo está em guerra contra os tiranos, deveria inclinar-me.
A colheita está madura, hesitaria em colhê-la?
"(Byron)

Frente a tais questionamentos, só existe um caminho, e é seguir em frente, nossas consciências já não nos permitem capitular.

Precisamos também resgatar algumas palavras, que não podem ser esquecidas, sob pena de ficarmos embrutecidos e inertes, entre elas, a solidariedade, o companheirismo, a responsabilidade e a noção de fazermos parte de um conjunto vivo e vibrante, e defendê-lo como defenderíamos nossos próprios filhos.

Mas, de cada criança morta sai um fuzil com olhos
Mas, de cada crime nascem balas
Que vos encontrarão um dia o lugar do coração
" (Neruda)

Esse foi apenas mais um passo, mais um movimento dessa absurda vingança em que o ódio tenta se impor frente à inocência e à dignidade.

Que fique afirmado, não podemos ser derrotados, porque só podem ser derrotados os que não detêm a razão, e se deixam ficar à margem , enquanto a barbárie tenta avançar.

Os embates serão cada vez mais duros, mas devemos estar preparados para reagirmos à altura de nossas próprias aspirações, para, somente assim, deixarmos para nossos filhos um mundo onde cada manhã renasça como promessa de um mundo novo e melhor.

Por fim, fica o recado da canção, "Conversando no Bar", interpretada por Elis Regina:

descobri que minha arma é o que a memória guarda".

Neste momento, dizem presentes todos que lutaram contra o Golpe Militar, e em alto e bom som, informam, estamos acordados e acordando todos que vivem e sonham, para que nada se esconda, para que todos ocupem seus lugares e cerrem fileiras pela liberdade."


FONTE: escrito por Sérgio Medeiros e publicado no "Jornal GGN"   (http://jornalggn.com.br/fora-pauta/os-mortos-estao-acordados-deveria-dormir).

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