“Os mortos estão acordados, deveria dormir?” (Byron)
"Um golpe contra um governo legítimo, um golpe contra Dilma, um golpe contra Lula, um golpe contra a democracia.
Gostaria de falar palavras amenas, mas o momento não é de contemporização, a realidade é extremamente dura, e não nos permite, num horizonte próximo, alimentar esperanças quanto a vivenciá-la sob o império de instituições livres e regidas pela imparcialidade da lei e de magistrados justos.
Estamos vivendo episódios em que a força se sobrepõe à razão, e assistimos perplexos e inconformados o massacre de pessoas que deram sua vida por um projeto que elevasse a vida dos cidadãos comuns do povo, e, com isso, a nossa própria, como seres humanos.
Estamos vendo uma justiça na qual nós não nos reconhecemos, que usa de suas prerrogativas e força decisórias, para trancafiar e expor de forma cruel quem se mostrou , mais uma vez, digno e inocente, mesmo frente a novas e insidiosas formas de arbítrio e tortura.
Antes os instrumentos violavam o corpo físico, agora tentam atingir a alma, a honra, a dignidade.
Registro. Novamente serão derrotados
Não aceitamos essa suja guerra econômica que tenta impor a miséria como regra, e a pobreza como destino, como se fosse possível que seres humanos, condenassem outros seres humanos a tal condição.
Entretanto, a cada volta dessa engrenagem espúria que se move, vejo seu reflexo nos jornais pagos a peso de ouro e vidas... e vejo mãos sujas de sangue inocente, escrevendo colunas e mais colunas... cheias de ódio e de sangue....
Em meio a extrema miséria moral dessa imprensa, dita livre, mas financiada a moedas de prata, ainda assim, alguns se perguntam o que fazer?
“Os mortos estão acordados, deveria dormir?
O mundo está em guerra contra os tiranos, deveria inclinar-me.
A colheita está madura, hesitaria em colhê-la?"(Byron)
Frente a tais questionamentos, só existe um caminho, e é seguir em frente, nossas consciências já não nos permitem capitular.
Precisamos também resgatar algumas palavras, que não podem ser esquecidas, sob pena de ficarmos embrutecidos e inertes, entre elas, a solidariedade, o companheirismo, a responsabilidade e a noção de fazermos parte de um conjunto vivo e vibrante, e defendê-lo como defenderíamos nossos próprios filhos.
“Mas, de cada criança morta sai um fuzil com olhos
Mas, de cada crime nascem balas
Que vos encontrarão um dia o lugar do coração" (Neruda)
Esse foi apenas mais um passo, mais um movimento dessa absurda vingança em que o ódio tenta se impor frente à inocência e à dignidade.
Que fique afirmado, não podemos ser derrotados, porque só podem ser derrotados os que não detêm a razão, e se deixam ficar à margem , enquanto a barbárie tenta avançar.
Os embates serão cada vez mais duros, mas devemos estar preparados para reagirmos à altura de nossas próprias aspirações, para, somente assim, deixarmos para nossos filhos um mundo onde cada manhã renasça como promessa de um mundo novo e melhor.
Por fim, fica o recado da canção, "Conversando no Bar", interpretada por Elis Regina:
“descobri que minha arma é o que a memória guarda".
Neste momento, dizem presentes todos que lutaram contra o Golpe Militar, e em alto e bom som, informam, estamos acordados e acordando todos que vivem e sonham, para que nada se esconda, para que todos ocupem seus lugares e cerrem fileiras pela liberdade."
FONTE: escrito por Sérgio Medeiros e publicado no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/fora-pauta/os-mortos-estao-acordados-deveria-dormir).
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