Cenas típicas "dp povo" [sic] que foi às ruas
Você protestou pelo quê mesmo?
O "brasileiro" é algo estranho de se entender. No domingo, cerca de 3 milhões de cidadãos, segundo dados das polícias militares, e 6 milhões segundo os organizadores das manifestações (como eles chegaram a esse número é uma incógnita) foram às ruas protestar contra o governo da presidente Dilma Rousseff, pedir a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dar apoio ao juiz federal Sérgio Moro e a Operação Java Jato.
Tudo muito bonito, exceto por detalhes aparentemente esquecidos. O país tem mais de 140 milhões de eleitores. Desses, 54,5 milhões votaram em Dilma na última eleição presidencial e 51 milhões votaram em Aécio Neves (PSDB-MG). Isso dá 51.64% dos votos válidos para a presidente e 48,36% para o senador tucano. Outros 27,44% anularam, votaram em branco ou se abstiveram.
Pois bem, como se não bastassem os números para provar a marcha do golpe branco em andamento, o comportamento de quem foi às manifestações também diz muito sobre seus participantes.
Formada em sua maioria pela classe média – que morre de vontade de ser rica e morre de medo de ser pobre – boa parte dessa massa que foi às ruas pedir justiça, prisão, impeachment, dar apoio a Moro e à Justiça, foi a mesma que parou seus carros – muitos financiados em parte com dinheiro verde-amarelo – em fila dupla ou em cima de calçadas.
Essa mesma massa que quer ver o Lula preso e a Dilma fora do Planalto, que pede o fim da corrupção e por mais Justiça, esquece que nas últimas eleições votou em gente bem pior. Nada menos que 40% do chamado "novo Congresso", eleito em 2014 responde na Justiça por algum tipo de crime comum, passando por crimes como de desvios de recursos e improbidade administrativa a crime de tortura e desrespeito à Lei Seca. A maioria nem se lembra em quem votou, portanto isso não diz respeito a eles.
Essa mesma massa que cobra Justiça foi a que, ao término dos protestos, pegou a contramão para fugir do caos no trânsito provocada por ela mesma e ainda saiu dizendo que o engarrafamento era culpa do governo. Essa mesma massa que foi às ruas, foi a mesma que parou em local proibido, em vaga destinada por Lei para gestantes, deficientes ou idosos, e achou que não era nada demais, afinal de contas era "rapidinho".
Essa mesma massa foi a que encheu a cara de cerveja nas manifestações e saiu dirigindo em um flagrante desrespeito às leis, mas tinha certeza de que podia fazer isso, afinal de contas estavam cobrando um Brasil melhor, além de respeito, moralidade e Justiça. Essa massa que esqueceu que foi ela mesma que encheu as ruas de papel amassado, restos de lanche, latas de refrigerante de bebidas foi a que, no dia seguinte, reclamou da sujeira que emporcalhava a cidade.
Essa mesma massa foi a que enfeitou seu cachorrinho para levar às ruas e não levou sequer um saco plástico para recolher o cocô que o bicho sem noção fez no meio da rua ou da calçada. Afinal de contas, andar horas com um saco cheio de merda embaixo do sovaco não faz parte do enredo, mas pedir Justiça e não fazer o mínimo previsto em lei ou pelo bom senso, isso pode.
Essa mesma massa que aplaude a Lava Jato, aplaude os representantes da extrema-direita, incrível, pesquisas apontam que o Bolsonaro foi o grande vencedor das manifestações. Essa mesma massa que clama por emprego e renda é a que, em boa parte, se recusa a pagar um salário decente para seus empregados; para esses basta, o mínimo.
Essa mesma massa que aplaude a "Justiça" esquece que Aécio foi citado em cinco delações premiadas diferentes. Essa massa que fala em igualdade, mas que acha ruim quando a doméstica ou o porteiro adentram no elevador social ou esperam alguém sentado no sofá do hall do prédio. Alguns até mesmo levam a babá fardada, e talvez a contragosto, às manifestações, mas pelo menos esses, felizmente, são uma minoria. Ah, o cachorro pode andar no elevador social e até mesmo urinar no chão do hall, afinal de contas, ele é "como se fosse da família".
Essa mesma massa que diz que paga imposto demais, cobra saúde e educação, é a mesma que compra ou vende sem nota fiscal, ou paga o PF (por fora) para evitar pagar o imposto. Imposto esse que também vai para a saúde e educação que ele mesmo foi cobrar nas ruas e avenidas pelo País afora.
Essa mesma massa que cobra policiamento nos bairros onde mora, mas que não diz nada sobre as chacinas que ocorrem nas favelas e bairros pobres e mal iluminados. Afinal de contas, polícia serve para manter a ordem: a ordem de manter o pobre no lugar dele, pois se ele se coçar para sair de lá e questionar o status quo, a polícia estará ali para baixar o sarrafo e mostrar qual é o direito que ele realmente possui.
É essa mesma massa que diz que todos devem ter direitos, mas que reclama e baixa o pau quando o trabalhador faz greve por melhores salários e condições de trabalho. É essa massa que diz que o Brasil é um país no qual grassam a desigualdade e a injustiça social, mas esquece que, entre 2001 e 2013, o percentual da população vivendo em pobreza extrema caiu de 10% para 4%, segundo dados do Banco Mundial. Essa massa esquece que esse índice corresponde a um contingente de 36 milhões de brasileiros que conseguiram sair da situação de extrema pobreza graças a programas sociais como o Bolsa Família.
Essa mesma massa que quer mudança e que afirma que se a Dilma sair que venha o Michel Temer (PMDB), e se o Temer sair, coloca o Aécio, e se o Aécio sair..., bota qualquer outro até dar certo. Essa mesma massa esquece que isto é um país e não um laboratório onde se pode fazer experimentações à vontade.
Essta mesma massa são os ativistas de sofá, que se sentam, em frente a um tablet ou celular de última geração, e ficam postando bobagens ou fazendo parte da patrulha do ideologicamente correto – nem digo politicamente correto porque isso já virou clichê – onde se você postar algo que vá de encontro ao pensamento de uma determinada corrente você será execrado antes mesmo de ter chance de se defender. O direito do contraditório e da presunção da inocência... Bom, o que isso importa para esses defensores da Justiça?
Essa massa que defende a Justiça nas ruas esquece que todo mundo é inocente até prova em contrário. Essa mesma massa que pede a cabeça de Dilma esquece que até agora não existe nenhuma acusação contra ela por crime de responsabilidade. Essa massa que pede prisão para Lula esquece que o Ministério Público o acusou sem provas, em uma peça criticada até mesmo pela oposição, além de ter assombrado membros do Judiciário com a fragilidade do material contido na denúncia.
Pelo sim, pelo não, os 3 milhões ou 6 milhões, conforme a conta, não são maiores que os 51,4 milhões de eleitores que reelegeram Dilma para um mandato de quatro anos. Essa massa esqueceu, mais uma vez, desse detalhe."
FONTE: escrito por PAULO EMÍLIO, foi repórter de grandes veículos de comunicação nacionais, como Gazeta Mercantil e Valor Econômico, além de ter atuado em assessorias de imprensa pública e privada. É o editor do "Brasil 247" em Pernambuco (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/221027/Voc%C3%AA-protestou-pelo-qu%C3%AA-mesmo.htm).
Você protestou pelo quê mesmo?
Por PAULO EMÍLIO, foi repórter de grandes veículos de comunicação nacionais, como Gazeta Mercantil e Valor Econômico, além de ter atuado em assessorias de imprensa pública e privada. É o editor do Brasil 247 em Pernambuco
O "brasileiro" é algo estranho de se entender. No domingo, cerca de 3 milhões de cidadãos, segundo dados das polícias militares, e 6 milhões segundo os organizadores das manifestações (como eles chegaram a esse número é uma incógnita) foram às ruas protestar contra o governo da presidente Dilma Rousseff, pedir a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dar apoio ao juiz federal Sérgio Moro e a Operação Java Jato.
Tudo muito bonito, exceto por detalhes aparentemente esquecidos. O país tem mais de 140 milhões de eleitores. Desses, 54,5 milhões votaram em Dilma na última eleição presidencial e 51 milhões votaram em Aécio Neves (PSDB-MG). Isso dá 51.64% dos votos válidos para a presidente e 48,36% para o senador tucano. Outros 27,44% anularam, votaram em branco ou se abstiveram.
Pois bem, como se não bastassem os números para provar a marcha do golpe branco em andamento, o comportamento de quem foi às manifestações também diz muito sobre seus participantes.
Formada em sua maioria pela classe média – que morre de vontade de ser rica e morre de medo de ser pobre – boa parte dessa massa que foi às ruas pedir justiça, prisão, impeachment, dar apoio a Moro e à Justiça, foi a mesma que parou seus carros – muitos financiados em parte com dinheiro verde-amarelo – em fila dupla ou em cima de calçadas.
Essa mesma massa que quer ver o Lula preso e a Dilma fora do Planalto, que pede o fim da corrupção e por mais Justiça, esquece que nas últimas eleições votou em gente bem pior. Nada menos que 40% do chamado "novo Congresso", eleito em 2014 responde na Justiça por algum tipo de crime comum, passando por crimes como de desvios de recursos e improbidade administrativa a crime de tortura e desrespeito à Lei Seca. A maioria nem se lembra em quem votou, portanto isso não diz respeito a eles.
Essa mesma massa que cobra Justiça foi a que, ao término dos protestos, pegou a contramão para fugir do caos no trânsito provocada por ela mesma e ainda saiu dizendo que o engarrafamento era culpa do governo. Essa mesma massa que foi às ruas, foi a mesma que parou em local proibido, em vaga destinada por Lei para gestantes, deficientes ou idosos, e achou que não era nada demais, afinal de contas era "rapidinho".
Essa mesma massa foi a que encheu a cara de cerveja nas manifestações e saiu dirigindo em um flagrante desrespeito às leis, mas tinha certeza de que podia fazer isso, afinal de contas estavam cobrando um Brasil melhor, além de respeito, moralidade e Justiça. Essa massa que esqueceu que foi ela mesma que encheu as ruas de papel amassado, restos de lanche, latas de refrigerante de bebidas foi a que, no dia seguinte, reclamou da sujeira que emporcalhava a cidade.
Essa mesma massa foi a que enfeitou seu cachorrinho para levar às ruas e não levou sequer um saco plástico para recolher o cocô que o bicho sem noção fez no meio da rua ou da calçada. Afinal de contas, andar horas com um saco cheio de merda embaixo do sovaco não faz parte do enredo, mas pedir Justiça e não fazer o mínimo previsto em lei ou pelo bom senso, isso pode.
Essa mesma massa que aplaude a Lava Jato, aplaude os representantes da extrema-direita, incrível, pesquisas apontam que o Bolsonaro foi o grande vencedor das manifestações. Essa mesma massa que clama por emprego e renda é a que, em boa parte, se recusa a pagar um salário decente para seus empregados; para esses basta, o mínimo.
Essa mesma massa que aplaude a "Justiça" esquece que Aécio foi citado em cinco delações premiadas diferentes. Essa massa que fala em igualdade, mas que acha ruim quando a doméstica ou o porteiro adentram no elevador social ou esperam alguém sentado no sofá do hall do prédio. Alguns até mesmo levam a babá fardada, e talvez a contragosto, às manifestações, mas pelo menos esses, felizmente, são uma minoria. Ah, o cachorro pode andar no elevador social e até mesmo urinar no chão do hall, afinal de contas, ele é "como se fosse da família".
Essa mesma massa que diz que paga imposto demais, cobra saúde e educação, é a mesma que compra ou vende sem nota fiscal, ou paga o PF (por fora) para evitar pagar o imposto. Imposto esse que também vai para a saúde e educação que ele mesmo foi cobrar nas ruas e avenidas pelo País afora.
Essa mesma massa que cobra policiamento nos bairros onde mora, mas que não diz nada sobre as chacinas que ocorrem nas favelas e bairros pobres e mal iluminados. Afinal de contas, polícia serve para manter a ordem: a ordem de manter o pobre no lugar dele, pois se ele se coçar para sair de lá e questionar o status quo, a polícia estará ali para baixar o sarrafo e mostrar qual é o direito que ele realmente possui.
É essa mesma massa que diz que todos devem ter direitos, mas que reclama e baixa o pau quando o trabalhador faz greve por melhores salários e condições de trabalho. É essa massa que diz que o Brasil é um país no qual grassam a desigualdade e a injustiça social, mas esquece que, entre 2001 e 2013, o percentual da população vivendo em pobreza extrema caiu de 10% para 4%, segundo dados do Banco Mundial. Essa massa esquece que esse índice corresponde a um contingente de 36 milhões de brasileiros que conseguiram sair da situação de extrema pobreza graças a programas sociais como o Bolsa Família.
Essa mesma massa que quer mudança e que afirma que se a Dilma sair que venha o Michel Temer (PMDB), e se o Temer sair, coloca o Aécio, e se o Aécio sair..., bota qualquer outro até dar certo. Essa mesma massa esquece que isto é um país e não um laboratório onde se pode fazer experimentações à vontade.
Essta mesma massa são os ativistas de sofá, que se sentam, em frente a um tablet ou celular de última geração, e ficam postando bobagens ou fazendo parte da patrulha do ideologicamente correto – nem digo politicamente correto porque isso já virou clichê – onde se você postar algo que vá de encontro ao pensamento de uma determinada corrente você será execrado antes mesmo de ter chance de se defender. O direito do contraditório e da presunção da inocência... Bom, o que isso importa para esses defensores da Justiça?
Essa massa que defende a Justiça nas ruas esquece que todo mundo é inocente até prova em contrário. Essa mesma massa que pede a cabeça de Dilma esquece que até agora não existe nenhuma acusação contra ela por crime de responsabilidade. Essa massa que pede prisão para Lula esquece que o Ministério Público o acusou sem provas, em uma peça criticada até mesmo pela oposição, além de ter assombrado membros do Judiciário com a fragilidade do material contido na denúncia.
Pelo sim, pelo não, os 3 milhões ou 6 milhões, conforme a conta, não são maiores que os 51,4 milhões de eleitores que reelegeram Dilma para um mandato de quatro anos. Essa massa esqueceu, mais uma vez, desse detalhe."
FONTE: escrito por PAULO EMÍLIO, foi repórter de grandes veículos de comunicação nacionais, como Gazeta Mercantil e Valor Econômico, além de ter atuado em assessorias de imprensa pública e privada. É o editor do "Brasil 247" em Pernambuco (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/221027/Voc%C3%AA-protestou-pelo-qu%C3%AA-mesmo.htm).
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