domingo, 6 de abril de 2008

EM PROL DA DIREITA, FOLHA DE SÃO PAULO CENSURA ATÉ O SEU ‘OMBUSDMAN’

O ESTOPIM: O MANIPULADO "DOSSIÊ ANTI-FHC"

Como todo jornal de direita no Brasil (ou mais precisamente, como todos os grandes jornais e TVs do Brasil), a Folha de São Paulo prefere prejudicar a verdade, a isenção, a autocrítica, a transparência, em prol de sua radical posição político-partidária dita “conservadora”.

Coloco essa última palavra entre aspas porque a considero um muito suave eufemismo para expressar o seu real significado: “direita radical”, “pró-PSDB, PFL-DEM, PPS”, “pró-grandes grupos financeiros e econômicos estrangeiros”, pró-governo dos EUA”, “anti-Lula” etc.

O mandato de Mário Magalhães como ombudsman da Folha de S. Paulo se encerrou na sexta-feira passada (04/04). Ele foi obrigado a demitir-se por não aceitar a censura contra as suas críticas às capciosas e tendenciosas posições da Folha contra o atual governo federal.

Segundo li de Miriam Abreu, “Mário Magalhães deu início ao trabalho como ombudsman no dia 05/04/07. Ele substituiu Marcelo Beraba, que desempenhou a função por três mandatos.

Na Folha desde 1991, Magalhães atuava como repórter especial do jornal, mas já foi repórter e editor-assistente de Esportes e editor-assistente do “Folha Teen” . Foi o segundo ombudsman da Folha de S. Paulo baseado no Rio de Janeiro.”

A Folha publica hoje a carta de despedida do referido ombundsman.

O estopim da ruptura foi a crítica do ombusdman às manipuladas e até falsas posições da Folha no assunto por ela batizado de "dossiê anti-FHC".

Sobre a demissão do jornalista, escolhi transcrever a seguinte matéria de hoje (9h56) do “blog do Nassif”, que inicia reproduzindo artigo da Folha de hoje, domingo:

A ÚLTIMA CRÍTICA DO OMBUSDMAN

DESPEDIDA

“A Folha condicionou minha permanência ao fim da circulação das críticas diárias na internet; não concordei; diante do impasse, deixo o posto

No ano que passou, quando as noites de domingo se insinuavam, e tantas famílias saíam para o último passeio do fim de semana, a minha sabia que ficaríamos em casa -ou pelo menos não iríamos todos. Era hora de eu começar a longa e solitária jornada madrugada adentro para terminar de esquadrinhar jornais e revistas.

De manhã, com as olheiras a denunciar o sono roubado, leria as edições do dia e escreveria a mais encorpada crítica semanal, a da segunda-feira. Hoje à noite, se alguém me chamar, terá companhia.

(...) A Folha condicionou minha permanência ao fim da circulação na internet das críticas diárias do ombudsman. A reivindicação me foi apresentada há meses. Não concordei. Diante do impasse, deixo o posto.

Oitavo jornalista a ocupar a função, torno-me o segundo a não prosseguir por mais um ano. Todos foram convidados a ficar. Sou o primeiro a ter como exigência, para renovar, o retrocesso na transparência do seu trabalho.

(...) O comando da Folha esgrimiu um argumento para a decisão: no ambiente de concorrência exacerbada do mercado jornalístico, idéias e sugestões do ombudsman são implementadas por outros diários.

De fato, isso ocorre.

E continuará a ocorrer.

Quase 20 anos atrás, as críticas ainda denominadas internas eram distribuídas em papel à Redação.

Acabavam nas bancadas de outros jornais. Um deles veiculou publicidade alardeando elogio do ombudsman.

Com a difusão por e-mail, será ainda mais difícil conter a distribuição irregular das anotações do ouvidor.

Eventuais interessados, se bem articulados, terão como lê-las. Que segredo sobrevive a centenas de destinatários?

Já os leitores ditos comuns, os que fazem a fortuna de toda empreitada jornalística de sucesso, serão barrados. A medida não resolve o problema a cuja solução se propõe, mas prejudica quem é alheio a ele.

(...) Não é praxe dos jornais impressos do mundo inteiro compartilhar na rede o que muitos deles chamam de memorando interno do ouvidor.

(...) A Folha deu um passo ousado na imprensa brasileira ao nomear um ombudsman. Radicalizou e tornou públicas as críticas antes limitadas à Redação. Mais do que as colunas dominicais, essa espécie de parecer se destina a uma autópsia das edições. Em minúcias, identifica suas fraquezas, sem desprezar as virtudes. Expõe as vísceras do jornal.

(...) Mesmo com as críticas vetadas aos leitores, a Folha não perderá a primazia em transparência no jornalismo nacional. As colunas de domingo persistirão, e a publicação de um artigo como este expressa tolerância com o pensamento divergente.

(...) A despeito desse cenário, a restrição imposta configura regressão na transparência. O projeto editorial da Folha diagnostica "um jornalismo cada vez mais crítico e mais criticado". Reconhece que "o leitor fiscaliza a pauta de compromissos" do jornal.

O ombudsman deve ser um instrumento dos leitores. Se 80% dos pronunciamentos semanais ficam inacessíveis (as críticas de segunda a quinta; não escrevo às sextas), reduz-se a fiscalização dos leitores sobre aquele cuja atribuição é batalhar em nome deles.

(...) O ombudsman incapaz de zelar pela manutenção da transparência do seu ofício carece de autoridade para combater pela transparência do jornal. Como cobrar o que se topou diminuir?

A tendência mundial é de expansão da transparência das organizações jornalísticas. A novidade da Folha aparece na contramão.

(...) Gostaria de ter falado de outros assuntos, dos anúncios de prostituição aos interesses cruzados do jornal. Fica para outra vez.

(...) Minha gratidão maior é para quem me deu lições inestimáveis -hoje à noite, em casa ou na rua, não esquecerei o brinde aos leitores da Folha.”

Comentário do blog do Nassif:

“Há um efeito indireto grave nesse episódio: o da inibição completa a qualquer jornalista que pretenda fugir do discurso único. A inibição já havia se tornado forte nos últimos anos.

Agora, com a saída do Mário, essa tendência vai se acentuar. O mercado de trabalho não é suficientemente amplo e competitivo para jornalistas consagrados abrirem mão de emprego e status. Só os muito cabeçudos ousam recomeçar.

Alguns jornalistas começavam a sair do casulo, a ousar vôos maiores, a investir contra a onda, ocupando o espaço dos veteranos que se encolheram ou aderiram.

A última ousadia foi a análise do Mário sobre o tal dossiê do Planalto. Agora, a Folha entrou definitivamente em um caminho sem volta. Pior: com um episódio emblemático, do sacrifício simbólico de um de seus grandes jornalistas.”

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