segunda-feira, 7 de abril de 2008

OS ESPIÕES DOS EUA COLHEM QUASE TUDO NA INTERNET

O jornal norte-americano USA TODAY publica hoje, 07 de abril, o artigo “Descobertas dos espiões modernos estão à vista de todos na Internet”, escrito por Peter Eisler, em Washington.

Segundo o jornal, o espião moderno deve cada vez mais colher suas informações na internet. E cada vez menos com dispendiosas e arriscadas missões secretas, satélites clandestinos e informantes altamente confidenciais.

As ‘fontes abertas’ hoje podem fornecer até 90% da informação necessária para a maioria das necessidades de inteligência dos EUA.

Transcrevo parte do longo artigo traduzido por Eloise De Vylder, publicado no UOL Mídia Global:

“Há 40 anos, os presidentes dos Estados Unidos começam seus dias com um relatório pessoal confidencial sobre ameaças de segurança e assuntos internacionais obtido em grande parte por meio de missões secretas de espionagem, observações de satélites clandestinos e outras fontes de inteligência altamente confidenciais.

Agora, todavia, o ‘Relatório Diário do Presidente’ e outros relatórios chave da inteligência se baseiam cada vez menos em arriscadas missões de espionagem. Usam o material que está à disposição de quase todo mundo.

Funcionários da inteligência reuniram informações sobre a capacidade nuclear do Irã a partir de fotos na Internet. Eles já desenterraram documentos, inclusive um manual de treinamento terrorista, em conferências internacionais e fóruns públicos. Já encontraram informações em bibliotecas de universidades estrangeiras e serviços noticiosos.

Esse tipo de material é conhecido como "inteligência de fonte aberta" ou, no jargão carregado de siglas das 16 agências federais que formam a comunidade de inteligência dos EUA, OSINT (open source intelligence).

A explosão de informações disponíveis na Internet e outras fontes públicas levou a coleta e a análise desse material para o topo da lista oficial de prioridades do mundo da espionagem, dizem os funcionários da inteligência.

A mudança não tem sido fácil em uma burocracia que normalmente mede seu sucesso pela capacidade de roubar segredos. Comissões federais têm criticado repetidamente a comunidade de inteligência por não agir mais rápida e agressivamente ao explorar as informações de fontes abertas.

É uma tarefa difícil, levando em conta as montanhas de material a ser examinado. Cada pedaço potencialmente útil de informação precisa ser avaliado porque os países inimigos e grupos terroristas, como a Al Qaeda, às vezes usam a Internet ou outros canais abertos para divulgar informações falsas.

Ainda assim, os oficiais dizem que as agências estão superando esses obstáculos e cavando um número cada vez maior de tesouros de inteligência.

"Não é mais exceção encontrar ‘material de fonte aberta’ no ‘Relatório Diário do Presidente’ e, normalmente, se trata de um componente muito importante da informação que é incorporado em nossas análises de inteligência", diz Frances Townsend, que até janeiro foi assistente de segurança nacional do presidente Bush e conselheiro para segurança interna e contraterrorismo.

Quer sejam informações sobre o desenrolar da política russa, a expansão da gripe aviária, o crescimento do fundamentalismo islâmico na Ásia ou a capacidade tecnológica das nações inimigas, "houve uma mudança considerável no sentido de se confiar mais nas informações de fontes abertas", acrescenta Townsend. E "muito do que sabemos sobre os nossos adversários (terroristas) vem de declarações e vídeos que eles colocam na Internet."

A comunidade de inteligência está investindo pesado para melhorar sua coleção de informações de fonte aberta.

A CIA criou um ‘Centro de Fonte Aberta’, sediado em um prédio de escritórios discreto no subúrbio de Washington, onde os oficiais analisam de tudo, desde sites apoiados pela Al Qaeda até documentos distribuídos em normais simpósios de ciência e tecnologia, diz Douglas Naquin, diretor do centro.

Outras agências, como a FBI e a Agência de Inteligência de Defesa, estão treinando muitos analistas para garimpar as fontes abertas e dando a eles acesso à Internet. É uma grande mudança, levando em consideração que até então os computadores dessas agências eram destinados a evitar a troca de dados com o domínio público.

Ao mesmo tempo, os funcionários de segurança nacional também estão lutando com o outro lado do fenômeno de fonte aberta: assegurar que as informações importantes do governo, empresas e até mesmo de indivíduos não caiam na mesma rede pública que as agências de inteligência dos EUA estão apurando.

Funcionários da inteligência vêem tudo isso como uma evolução necessária.

As ‘fontes abertas’ podem fornecer até 90% da informação necessária para a maioria das necessidades de inteligência dos EUA, disse o deputado diretor de Inteligência Nacional Thomas Fingar em um discurso recente. Coletar essa informação é "terrivelmente importante", disse. "Isso deve ser uma parte normal do nosso trabalho, sem ficarmos fixados nos segredos que escorrem para a caixa de entrada do computador."

Mas o progresso tem sido lento.

Robert David Steele, um ex-funcionário da CIA e da inteligência dos Fuzileiros Navais, dá à comunidade de inteligência um ‘D+’ no que diz respeito ao uso da informação disponível na Internet, em imagens de satélites comerciais e outras fontes abertas.

"Ainda existe um culto do segredo - nada é visto como importante a não ser que seja (carimbado) confidencial", diz Steele, fundador da OSS.Net, um provedor comercial de inteligência para companhias privadas e para o governo.

As agências ainda não estão investindo o suficiente em treinamento e tecnologia para usar as fontes abertas, diz ele, assim os analistas não têm habilidade com a linguagem e com a informática, e muitos usam equipamentos defasados de hardware e software que tornam as pesquisas lentas e pesadas.

"Há muitos problemas", diz Steele. "É o hardware, o software, a atitude mental, mas, principalmente, a falta de visão de liderança".

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