segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

BOIAS "SUSPEITAS" CERCAM BASE DE FOGUETE DE ALCÂNTARA

Fortes suspeitas de sabotagem frequentemente afloram nas atividades brasileiras em Alcântara. Os EUA sempre manifestaram explicitamente serem contrários ao desenvolvimento espacial brasileiro quanto a lançadores de satélites e bases de lançamento. Esse mercado é valiosíssimo e convém aos EUA e demais potências lançadoras permanecerem como hoje. Todas as comunicações brasileiras, civis, internet, diplomáticas e militares dependem de satélites lançados e controlados por empresas estrangeiras, a maioria vinculada a Estados estrangeiros. E regiamente pagos pelos brasileiros.

Li ontem na Folha a seguinte reportagem de Leonardo Souza:

“ABIN INVESTIGA SE RADIOTRANSMISSORES FLUTUANTES ENCONTRADOS NO LITORAL MARANHENSE SÃO INSTRUMENTOS DE ESPIONAGEM

Equipamento é similar a rastreador usado em pesca, mas costa do Maranhão não é trecho de rota comercial pesqueira, dizem arapongas

“A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) investiga a possibilidade de espionagem e até mesmo risco de sabotagem no programa brasileiro e ucraniano de lançamento de foguetes.

Recentemente, a agência elaborou relatório reservado, ao qual a Folha teve acesso, sobre equipamentos de telemetria (que podem captar, enviar e processar dados à distância) instalados em boias apreendidas em praias que cercam o CLA (Centro de Lançamentos de Alcântara), no dia 11 de outubro do ano passado. É a terceira vez que a agência encontra o mesmo tipo de aparelho nos arredores de Alcântara.

Essas boias são utilizadas para pesca em alto-mar, na localização de cardumes, mas têm capacidade de interferir nos sinais de navegação dos foguetes se para isso forem programadas, de acordo com a Abin. O equipamento foi submetido à análise do Instituto de Pesquisas da Marinha, no Rio.

A hipótese de que o equipamento pode ser utilizado para interferir nas comunicações entre os foguetes e a base de Alcântara não foi descartada.

Os técnicos do instituto também ressaltaram o fato de Alcântara estar muito distante das rotas de pesca em alto-mar. Eles trabalham agora numa perícia mais aprofundada.

"A agência tem monitorado o aparecimento de boias em intervalos de dois em dois anos, nas praias do CLA. Elas são acionadas por controle remoto via satélite e têm capacidade de enviar, transmitir e medir frequência, além de possuírem espaço suficiente para abrigarem corpos estranhos; estão equipadas com bateria de longa duração e painel solar", informa o relatório sigiloso da Abin.

"Há de se estranhar a presença dessas boias no local porque a região não tem indústria pesqueira, não está na rota de barcos que utilizem essas boias, elas não se deslocam para muito distante de onde são colocadas e, no entanto, só são encontradas nas praias próxima ao CLA, apesar dos quilômetros de praias existentes no Maranhão", diz o documento.

Até hoje, nenhuma empresa no Brasil ou no exterior reclamou os equipamentos encontrados pela Abin.

"Caso isso ocorresse [interferência na telemetria dos foguetes], não seriam prejudicados apenas os eventuais lançamentos a partir de Alcântara, mas também se colocaria em risco a execução de operações de rastreio de veículos espaciais estrangeiros -serviço prestado pelos centros de lançamento de Alcântara/MA e Barreira do Inferno/RN", cita o relatório da Abin, referindo-se à análise do Centro de Pesquisas da Marinha.

As boias encontradas em outubro são de dois fabricantes diferentes, um espanhol e outro japonês. O modo de transmissão de dados do primeiro é via satélite. O do segundo, por ondas VHF e/ou UHF.

Agentes da Abin envolvidos na investigação ressaltam que, em casos de espionagem, é comum a adaptação de aparelhos normalmente empregados em outras finalidades para camuflar a ação clandestina.

O CLA é um dos locais em que a Abin promove um trabalho preventivo de proteção do conhecimento nacional. A agência tem adotado medidas, em conjunto com dirigentes de centros de pesquisa, empresas estatais e até mesmo em companhias privadas, para tentar impedir que tecnologias desenvolvidas no país sejam alvo de espionagem ou sabotagem.

Além das boias de pesca, a Abin levanta suspeitas também sobre a presença de muitos estrangeiros na região do CLA, uma área pobre, com pouca atividade e infraestrutura turística. Em 2006, o Grupo de Trabalho da Amazônia, coordenado pela Abin, produziu um relatório que abordou o tema.

O documento informa que, segundo fontes da polícia estadual do Maranhão, havia 116 estrangeiros no dia 15 de maio daquele ano em Alcântara, quando membros do GTA visitaram a base de lançamentos.

"Não foi possível saber quais as atividades que desenvolviam, tendo em vista que não haveria atividade no Centro de Lançamentos. Os altos índices de exclusão social presentes na cidade de Alcântara deixam a comunidade que ali reside exposta e fragilizada a tentativas de aliciamento e recrutamento por parte de ONG e agentes a serviço de países que muito teriam a perder com os sucessos dos lançamentos da Base de Alcântara", diz o documento.

SUSPEITA DE SABOTAGEM

A Abin ainda não conseguiu esclarecer se os aparelhos instalados nas boias estavam em operação durante lançamentos feitos da base de Alcântara.

No dia 19 de julho de 2007, por exemplo, período intermediário entre duas apreensões (2006 e 2008) dos equipamentos, o CLA lançou o foguete VSB-30. O teste foi parcialmente bem-sucedido. O foguete percorreu o trajeto estipulado e o chamado módulo útil pousou no mar, mas o equipamento não foi encontrado após o lançamento, como previsto.

Na época, o CLA informou que, "durante a queda, houve oscilações no sinal de telemetria, o que dificultou o resgate do módulo após o lançamento".

Li na internet, sem mençao ao autor, o seguinte comentário sobre o artigo acima:

"Nesse jogo em que estamos, com fortes interesses estratégicos, tanto de governos, quanto de empresas, não se pode negligenciar o trabalho de inteligência e contra-inteligência.

Lamento, no entanto, que logo de pronto a reportagem já se refira aos profissionais da ABIN como "arapongas". De certo, isso em nada contribui para a seriedade da crítica ao assunto. Ao contrário: pelo meu modo de ver, isso já lança um ar de suspeição sobre a qualidade e a validade de um trabalho dessa natureza. Duvido que EUA, França, UK, Japão, só para ficar no mundo ocidental e democrático, desmereçam tanto quem tem a obrigação de se antecipar aos problemas, avaliar riscos e apresentar informações a quem tem o poder de decidir."

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