Li no site Terra Magazine, do jornalista Bob Fernandes, a seguinte reportagem de Vera Gonçalves de Araújo, de Roma:
A VIDA É DURA NA BOCA DO VULCÃO
“O vulcão Vesúvio, que nunca mais eruptou desde 1944, representa ainda uma ameaça grave para milhões de habitantes da região de Nápoles, como avisou esta semana um grupo de geólogos e vulcanologistas reunidos numa coletiva para apresentar um congresso com um título que mete medo: "Montanhas de fogo", e que se fará em abril em Nápoles e Catânia. Os especialistas rotularam de insuficientes as medidas de proteção previstas pelas autoridades italianas.
O debate verterá sobre dois dos três grandes vulcões italianos: o Vesúvio e o Etna (o ausente é o Stromboli). Os congressistas vão falar de riscos e medidas de segurança, verbas, monitoramento, planos de evacuação para os cidadãos, valorização das áreas. Salvatore Caffo, diretor do parque do Etna, na Sicília, lembrou a diferença entre os dois "monstros".
O Vesúvio, perigosíssimo porque fica quietinho durante anos a fio, mas explode com violência e sem aviso prévio, e o Etna, que borbulha e esfumaceia continuamente, e portanto desabafa bastante a pressão.
Na Itália existem ótimos sistemas para monitorar a atividade vulcânica, mas é necessário manter a atenção bem viva. O congresso internacional de abril vai enfocar os problemas das duas áreas. Zonas que contam mais de 250 mil habitantes no Etna e 600 mil na zona "vermelha" nas encostas do Vesúvio.
Como frisou Francesco Russo, presidente da Ordem dos geólogos da região de Nápoles, "o Vesúvio é um vulcão muito perigoso. Segundo certas estatísticas, há 27 por cento de risco que uma erupção de tipo explosivo aconteça nos próximos 100 anos".
Os conhecedores dos segredos das entranhas da terra pedem um planejamento correto, apontando o grande vilão das áreas vulcânicas: as construções abusivas. As regiões de Nápoles e Catânia são famosas porque cada um constrói sua casa onde bem quiser, à beira de penhascos ou perto da boca de um vulcão. Quanto aos planos de evacuação em caso de explosão, Russo pede mais segurança e coordenação para salvar os 600 mil "vesuvianos".
"O plano de segurança foi bem montado mas entre teoria e praxe faltam alguns elos. Em caso de alarme" - explica Russo - "a população deve se afastar e se transferir para outras regiões da Itália, mas na zona não há rodovias e estradas de ferro adequadas e é muito provável que a evacuação se transforme em caos. Há aldeias com ruas de 3 metros de largura. É preciso investir em infraestruturas".
Com os sistemas atuais de monitoramento, os especialistas calculam que terão só uma semana de aviso prévio, no caso do Vesúvio. A última erupção explosiva aconteceu em 1631 e provocou 4 mil mortos. A mais famosa e avassaladora delas foi a que destruiu Pompeia, no ano 79: numa explosão parecida hoje, os ameaçados seriam de 2 a 5 milhões de pessoas - preveniram os geólogos, dizendo porém que uma catástrofe deste tipo tem só 1 por cento de probabilidade de acontecer.
A erupção que devastou Pompeia cobriu de cinzas e pedras uma zona de 25 quilômetros ao redor do vulcão, sepultando campos e cidades. Os especialistas reclamam que o governo destinou só 30 mil euros de verbas para enfrentar eventuais emergências. O dinheiro é tão pouco que o pessoal que mora sob o Vesúvio prefere recorrer a são Genaro, o santo milagreiro da zona.
À beira do Etna, a esperança é santa Bárbara. No dia seguinte à festa da santa, em 1908, o terremoto de Messina foi consequência de uma erupção do vulcão "bonzinho". Mais do que o tremor de terra, as 80 mil vítimas (Messina tinha 140 mil habitantes) morreram principalmente por culpa do tsunami que varreu a cidade.”
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