Patrícia Cançado ontem escreveu no jornal O Estado de São Paulo:
“Nos próximos dias, cerca de 50 engenheiros desembarcam em Montreal para trabalhar em projetos da concorrente
Em meados do ano passado, vários engenheiros da Embraer receberam uma ligação da canadense Bombardier. Do outro lado da linha, queriam saber se tinham interesse em se mudar para o Canadá para trabalhar em novos projetos da companhia. Meses depois, muitos deles estavam em Buenos Aires, onde a Bombardier alugou salas de um hotel para as entrevistas. Nos próximos dias, um grupo de cerca de 50 ex-funcionários da Embraer desembarca em Montreal, onde fica a sede da companhia. A maioria fará parte da equipe que vai desenvolver o CSeries, nova família de jatos lançada em julho e concorrente direto do ERJ 190/195 da fabricante brasileira.
Não se trata de um grupo qualquer de engenheiros. Eles são estratégicos para a Bombardier, que lançou com atraso o jato regional para até 130 passageiros - a Embraer enxergou o filão há quase uma década e hoje colhe os lucros da decisão. Os profissionais recrutados pelos canadenses acumularam experiência que poucos engenheiros aeronáuticos no mundo têm, pois estiveram envolvidos no projeto do avião de mesmo porte que revolucionou a aviação e a própria fabricante brasileira nos últimos anos.
"Eles não falaram explicitamente, mas o interesse por nosso know-how fica evidente, pois só estão contratando o pessoal que trabalhou no 190/195", diz um integrante do grupo, que pediu para não ser identificado. "A Bombardier quer entrar num mercado que só a Embraer atua."
A "missão" é cercada de discrição. Eles evitam falar do assunto por temer retaliação da Embraer. Segundo eles, quem deixa São José dos Campos para fazer avião em outro país é visto pela empresa - e até por ex-colegas - como traidor. "Normalmente quem está indo pede demissão, mas não conta que vai trabalhar na Bombardier." Procurada, a Embraer apenas disse, por e-mail, que "entende que a movimentação de profissionais seja uma característica comum no mercado, especialmente em um setor globalizado e específico como a aviação, onde as opções se restringem a poucas companhias".
O porta-voz da Bombardier, Marc Duchesne, confirmou somente que a companhia, terceira maior fabricante de aviões do mundo, procura profissionais experientes para programas recém-lançados, como o CSeries e o Learjet85.
Como se trata de um setor com poucos concorrentes, tirar um time grande de profissionais de uma vez só não é das atitudes mais bem vistas. No passado, uma tentativa semelhante de recrutar engenheiros da Embraer chegou à Organização Mundial do Comércio, provocando conflito diplomático entre os dois países. Por isso, desta vez o processo de seleção foi feito sem alarde.
Esse é o segundo êxodo recente de engenheiros brasileiros para o Canadá. A fuga de cérebros da Embraer começou no ano passado, com outros 50 profissionais. A fase atual do projeto do CSeries é minuciosa e também a que mais requer engenheiros. O avião está previsto para voar em 2013. O cliente inaugural deve ser a alemã Lufthansa, que encomendou 30 jatos, com opção de outros 30. Boa parte da turma atual foi recomendada pela leva anterior. Em geral, a maior motivação não é salarial. Na Embraer, vários recebiam, em média, R$ 7 mil por mês, além de 13º salário e participação nos lucros. Na Bombardier, os ganhos anuais ficam, no mínimo, em U$ 90 mil (ou R$ 17 mil mensais), mas esses dois últimos benefícios não existem por lá e o custo de vida é mais alto. O que atrai é a oportunidade de experiência internacional, conhecimento profissional e fluência em inglês e francês. Acostumados ao rígido esquema de trabalho da Embraer, eles também sonham com carga horária mais flexível e estrutura menos hierárquica.
As contratações ocorrem no momento em que a Bombardier enxuga seu quadro. Na quinta-feira, ela anunciou um corte de mais de 1.300 funcionários - ou 4,5% da força de trabalho -, sinalizando o fim de um próspero período de vendas dos jatos Learjet e Challenger. Com a crise, a companhia espera queda na demanda por esses modelos, que estavam entre os preferidos de banqueiros e executivos. Ao mesmo tempo, a Bombardier confirmou que vai contratar 800 funcionários para trabalhar em suas novas apostas: CSeries, Learjet 85 e CRJ1000. Muito antes desse anúncio, vários brasileiros já sabiam que seria assim.
"FUGA DAS GALINHAS'' VIRA MANIFESTO - E-MAIL IRONIZA SAÍDA DA EMBRAER
Nos últimos dois anos, um manifesto anônimo intitulado "A Fuga das Galinhas" circulou no correio eletrônico dos funcionários da Embraer chegando, inclusive, ao alto escalão da companhia. O autor mostra-se indignado e insatisfeito com o tratamento dado aos engenheiros. Essa postura, segundo o texto, é que teria despertado nos profissionais o desejo de procurar novos desafios, em empresas que pudessem valorizar mais a sua alta qualificação técnica.
O manifesto foi escrito após um ruidoso episódio entre a Embraer e a fabricante de jatos executivos Gulfstream, ocorrido em setembro de 2006. Na época, a empresa americana publicou um anúncio em inglês num jornal de São José dos Campos, no interior de São Paulo, sede da Embraer, em que oferecia vagas para engenheiros.
A Embraer apresentou denúncia à Procuradoria Regional do Trabalho, alegando prática ilegal de comércio. Acusava a concorrente de burlar a legislação para aliciar seus funcionários em São José dos Campos, o que implicaria transferência de know-how e de tecnologia. A Embraer ganhou a disputa, e as entrevistas, que seriam feitas em um hotel na cidade, foram barradas pela Justiça.
O funcionário deixa uma referência clara ao episódio no trecho "agora que veio uma Granja do estrangeiro oferecer um galinheiro com tudo que as nossas galinhas já sonharam na vida, principalmente milho, em quantidade e de boa qualidade, o dono do nosso galinheiro pega sua espingarda e, ao invés de atirar no lobo que está ?roubando? as suas galinhas, atira nas suas próprias galinhas".
Os americanos estariam no Brasil com visto de turista. Na ocasião, a Gulfstream não se manifestou. O autor do texto teria conseguido fugir, da mesma forma que as galinhas da popular animação americana, e não trabalha mais na Embraer. Dizem que ele hoje dá expediente em Montreal.”
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11 comentários:
Eu e outros amigos saimos ano passado da Embraer para ir trabalhar na concorrente canadense. Num mundo globalizado, quem oferece as melhores condicoes de trabalho consegue contratar bons profissionais. O artigo conseguiu descrever com fidelidade todos os fatos e razoes que nos fizeram tomar esta decisao. A Patricia Cancado estah de parabens.
Fabio Alonso da Silva
Fabio Alonso,
Seja feliz com a sua decisão e traga para o Brasil know how e know why. Será o devido retorno do investimento brasileiro feito em você desde o nascimento e o outro lado da moeda.
Maria Tereza
Manifesto original enviado pelos 4 cantos do mundo em 21 de junho de 2006. Dizem que o autor do manifesto atualmente dá expediente em Montreal.
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Materia do Vale-Paraibano
"A Fuga das galinhas"
Emprestando o título de uma obra cinematográfica, os últimos eventos
em uma empresa do setor aeronáutico, do vale do Paraíba, muito bem se
caracteriza pelo o que este quer dizer, ou seja, as galinhas do
galinheiro da Faria Lima estão fugindo, estão aprendendo a voar, e
voar alto.
As galinhas são os funcionários desta empresa que ao longo dos últimos
anos mudou o rumo de sua política de recursos humanos e passou a
tratar mal as suas galinhas, digo, seus funcionários. Estas galinhas,
digo os funcionários (perdoem o lapso seguido, mas continuemos com a
analogia) vem sendo tão mal-tratados que o milho do vizinho ficou mais
vistoso aos seus olhos.
Com uma série de benefícios cortados e com outros na fila para serem
extintos, as galinhas vão definhar e ficar fracas até a medida do
suportável, mas galinha fraca não põe ovo vistoso, tem que se
alimentar bem. Que fique bem entendido isto!
Quando as galinhas reclamaram da primeira vez da escassez de "milho" o
RH deste galinheiro disse que a quantidade de milho é igual média dos
outros galinheiros da região. Esqueceu-se que nossos ovos são chocados
com alta-tecnologia, os dos outros não, e os passarinhos deles não
voam. Nossas galinhas produzem pintos que voam alto!
Agora que veio uma Granja do estrangeiro oferecer um galinheiro com
tudo que as nossas galinhas já sonharam na vida, principalmente milho
em quantidade e de boa qualidade, o dono do nosso galinheiro pega sua
espingarda e ao invés de atirar no lobo que está "roubando" as suas
galinhas, atira nas suas próprias galinhas !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
"Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come!". Ta difícil esta
situação!
Tem muita coisa errada no galinheiro lá da Faria Lima. Tem pavão só se
preocupando com suas penas e não com o galinheiro, tem fuinha somente
se preocupando com a contabilidade e não como as galinhas quando
felizes produzem mais!
Enquanto isso as galinhas fortes vão conseguindo voar por cima da
cerca, mesmo com a ameaça de tiros enquanto as fracas vão se
esforçando pra ficar fortes pra depois baterem asas e voarem também.
E a fuga das galinhas continua!
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Prezado Nilson,
Será que a "fuga das galinhas" está relacionada com a entrega da EMBRAER para grupo estatal estrangeiro desencadeada por FHC/PSDB em 1999/2000, em conluio com o Banco Bozano/Bermudas? Pergunte, hoje, quem são os acionistas majoritários da EMBRAER... Estrangeiro defende estrangeiro. Brasileiro é ferramenta descartável para o lucro.
Maria Tereza
com toda a certeza.. se naum fosse a privaizacao feita (naum em 1998, mas em 1994), naum haveria essa polemica toda, tampouco se ouviria de falar em embraer na esfera mundial.. Maria Tereza, lembre-se q qdo a embraer foi privatizada ela era uma empresa deficitária, da mesma forma q Vale do Rio Doce, CSN, etc..
Funcionários da embraer foram pra Bombardier, mas com certeza também foi gente da Airbus, da Boeing... O mundo hoje está globalizado e a tendencia é essa..
e a discussao de ética profissinal neste caso beira o ridículo.. o funcionário recebeu valor agregado proporcionalmente ao produto q ele desenvolveu, isso quer dizer q enquanto ele ganhava "know how", a empresa ganhava $$$...
falar em vendas... ond foi que o Lula comprou mesmo o AeroLula? foi na Embraer? foi naum... foi na Airbus.. e onde a Argentina emcomendou o ultimo aviao comercial?? foi na airbus?? acho q naum.. engracado naum é, querer defender investimento do governo na industria nacional desssa forma... (Tipo, o nosso produto é bom, mas eu naum arrisco comprar naum, hein!!)
O texto da "fuga das galinhas" nunca foi publicado pelo vale-paraibano. Ele foi copiado e colado num email onde se dizia que o artigo havia saido na publicacao em questao. Quanto ao autor ele da expediente num setor bem proximo ao meu. Estah feliz e motivado.
Fabio Alonso
Prezados Evando e Fábio Alonso,
Puxa! Passei quase um ano sem notar os comentários posteriores ao do Nilson! Desculpem-me!
Quanto à EMBRAER ter sido deficitária antes da privatização, isso é uma longa história. Simplifico dizendo que, por capciosa política de Collor e FHC, as estatais foram asfixiadas por anos dentro do PND (não recebiam investimentos, nem financiamentos para vendas, não podiam demitir nem contratar etc). O objetivo oculto era fazê-las quase morrer e depois vendê-las (geralmente para estrangeiros) por quase nada e com pagamento em "papel podre". Assim foi com a Celma, a EMBRAER, a CSN, a Vale, Embratel e muitas outras. Essa estratégia, que o PSDB/PFL dizia que era "moderna" e a direita aplaudia, ficou pela metade no caso da Petrobras. Ainda bem. A Embraer, estrangulada, quase morrendo antes da privatização em 1994, ainda teimava em liderar ou ser a 2ª no mundo (depois da SAAB) em aviões regionais (com o EMB 120), e era a 1ª em aviões de treinamento (com o Tucano).
Na época, a história de "mundo globalizado", nos negócios somente beneficiava as grandes potências. A equação funcionava em um só sentido. Não era biunívoca.
Quanto ao retorno do investimento de muitos milhões feito pelo Brasil (saúde, educação, ITA etc) desde o nascimento até um cidadão ser engenheiro da EMBRAER e já produtivo, certamente ele não acontece de imediato durante a capacitação na empresa. Exige muitos anos.
Quanto a compras de aviões nacionais, isso melhorou. A PR e a FAB estão com várias centenas, abrangendo ERJ 190, 145, 120, Legacy, Bandeirantes, Super Tucanos, Tucanos, AMX e outros.
Quanto a história de galinhas terem ou não fugido, eu não vi e não entro nesse mérito.
Maria Tereza
Em tempo: Acrescento que a EMBRAER estatal, repetindo o sucesso de vendas do Bandeirante e Brasília, também teve excepcional visão do mercado futuro de aviões regionais e desenvolveu o ótimo jato ERJ 145. Poucos meses depois da privatização o avião voou e permitiu à EMBRAER privatizada grande carga de trabalho por mais de 10 anos, com mais de 1000 aviões desse modelo vendidos.
Maria Tereza
Maria Tereza,
Fiquei, tbm, um bom tempo sem ver este blog. Acho q existem 2 assuntos correndo em paralelo nessa discussao: o primeiro relacionado com as politicas dos ultimos governos de fazer de tudo pra venderem a preco de banana as empresas estatais, outro assunto faz referencia a incapacidade da Empresa aeronautica local de reter talentos. Ao menos naquela epoca. Hoje parece que as politica mudou o que eh saudavel pra Embraer e Brasil. Nao vou entrar no merito da discussao politica, ou melhor, nao vou prolongar-la , pois acredito estar alinhado com voce. Porem, teu comentario sobre TODO o investimento feito pelo pais na gente e etc, desculpe a sinceridade, mas no minimo foi piegas. Vivemos, queira-se ou nao, num mundo globalizado, independente de quem leva vantagem nessa equacao, especialmente o mundo aeronautico. Eh fato. Nosso pais, mesmo com esses governos oportunistas de falsa esquerda, nao eh capaz de nos dar opcoes, portanto olhar pra fora eh natural.
Abracos.
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