terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

CEARÁ: MARINHEIRO DE PRIMEIRA VIAGEM

Li hoje na revista Isto É Dinheiro a seguinte reportagem de José Sergio Osse:

O BRASIL FAZ UMA INÉDITA EXPORTAÇÃO DE NAVIO DE GUERRA E DÁ UM PASSO PARA O RENASCIMENTO DO SETOR DE DEFESA NO PAÍS

“O Brasil é considerado um país pacífico. A última vez em que militares brasileiros participaram de um conflito foi em 1945, na Segunda Guerra Mundial. Mesmo com a vocação pacifista, houve uma época em que o Brasil se tornou candidato a potência no setor armamentista, com o florescimento de uma indústria nacional de defesa. Nas últimas décadas [anos 90], porém, o Brasil reduziu sua participação nesse lucrativo mercado quase à zero. O País perdeu fábricas de tanques de guerra, de carros de combate e de veículos de transporte. Por anos, apenas a Embraer continuou atuando nesse segmento, com sua divisão de defesa e é hoje a maior exportadora nacional do setor.

Dias atrás, discretamente, numa cerimônia reservada em um estaleiro do Ceará, o País começou a dar tímidos passos para mudar essa situação. O evento celebrava a entrega oficial do "Brendan Simbwaye", primeiro navio de guerra fabricado no Brasil vendido a um governo estrangeiro. Cinco oficiais navais e 26 marinheiros da Namíbia receberam da Indústria Naval do Ceará (Inace) o navio-patrulha de 200 toneladas, construído pela empresa cearense e armado e equipado pela Marinha Brasileira. "Foram anos de namoro com a Namíbia", afirmou à DINHEIRO a diretora- superintendente da Inace, Elisa Bezerra, dona do estaleiro. Até hoje, o Inace se dedica sobretudo à construção de iates para clientes endinheirados. A exportação do Brendan dá novas perspectivas para a companhia. Das primeiras conversas até o início da construção do navio, em 2007, se passaram dez anos. O contrato, no valor total de US$ 24 milhões, inclui o navio e mais duas lanchas de patrulha. Uma delas já começou a ser construída.

Ainda é pouco, sem dúvida, para quem quer aproveitar as oportunidades de um mercado promissor como o de defesa, mas, definitivamente, é um começo. As exportações de armas no mundo somam mais de US$ 40 bilhões por ano. O Brasil vende cerca de US$ 300 milhões, quase totalmente graças à Embraer, segundo dados do Sipri, instituto sueco de monitoramento do comércio de defesa mundial. Mas o futuro pode ser muito melhor.

Segundo Elisa já há novos interessados. "Praticamente todas as nações costeiras africanas demonstraram interesse em navios semelhantes ao que vendemos à Namíbia. Algumas, inclusive, já entraram em contato", afirma Elisa. Na melhor tradição militar, a executiva é vaga ao responder quais seriam esses países que já contataram a Inace. "Angola, África do Sul e alguns outros", acaba revelando.

Segundo ela, apenas na África, há mercado para cerca de 100 embarcações. Ela reconhece, porém, que a concorrência é acirrada. "A Inglaterra usa navios como esses por apenas 15 anos, depois os troca por embarcações novas e os vende no mercado. É difícil conseguir um preço competitivo para fazer frente a navios usados, mas com plenas condições de uso", afirma ela. A falta de tradição do Brasil nesse mercado também é um empecilho. Além disso, ela acredita que mesmo os países interessados deverão esperar para avaliar o desempenho do "Brendan Simbwaye" para depois tomar uma decisão. No Brasil, a situação também é promissora para o estaleiro. A Inace participa de uma licitação da Marinha que, em fevereiro, deve escolher a empresa que fabricará navios de guerra de 500 toneladas para a armada brasileira. A aposta é na experiência já que, dos 12 navios- patrulha semelhantes ao vendido para a Namíbia em operação no Brasil, dois foram fabricados pela própria Inace.”

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