segunda-feira, 12 de abril de 2010
A DIFÍCIL ESCOLHA DA EMBRAER
"O executivo Mauro Kern, vice-presidente de novos projetos, precisa decidir como a empresa reagirá ao avanço dos concorrentes.
O gaúcho Mauro Kern terá meses especialmente tensos pela frente. Com quase trinta anos de Embraer, o executivo foi escolhido, há duas semanas, vice-presidente de novos projetos para a área de aviação comercial (um cargo que, até então, não existia). No novo posto, ele tem até o início do ano que vem para tomar uma decisão crucial para o destino da companhia: como reagir ao abrupto aumento de competição. Até meados da década, quatro fabricantes atacarão o mercado de aviões médios, em que a brasileira é líder com mais de 40% de participação.
"Temos um cenário desafiador pela frente com o acirramento da concorrência", diz Kern. "Estamos nos aproximando do momento da decisão sobre produtos novos. Mas ainda não temos a resposta." Para que Kern possa se dedicar a essa questão, o dia a dia da unidade de aviões comerciais passou a ser responsabilidade de seu sucessor, Paulo César Silva, nomeado vice-presidente executivo.
Desde 2004, quando começou a entregar a série de quatro modelos da linha E-Jet, a Embraer reinou absoluta na categoria de aeronaves entre 61 e 120 assentos. A brasileira apostou em um jato intermediário entre o avião regional - categoria tradicionalmente marcada pelo desconforto - e os grandalhões do setor, como Boeing e Airbus. Além disso, os E-Jet apresentam um custo por viagem até 20% menor na comparação com os concorrentes. Até agora, mais de 600 aeronaves da linha E-Jet foram entregues, alçando a Embraer à condição de terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo.
Para as companhias aéreas, a grande vantagem dos E-Jets foi ajustar o tamanho e os custos das aeronaves à demanda em rotas de menor densidade. Assim, ao invés de sair com um avião grande ocupado apenas parcialmente, a companhia decola com um Embraer praticamente cheio. Hoje, cerca de 50 empresas adotam esses jatos.
Concorrência. Mas a situação confortável experimentada atualmente pela Embraer tem data para terminar. Até o fim do ano, a russa Sukhoi deve entregar o seu modelo Superjet 100. Com a consultoria da Boeing, o avião concorrerá com o modelo Embraer 190, um dos mais encomendados da brasileira. Mais ou menos no mesmo período, a estatal chinesa Comac (Commercial Aircraft Corporation of China) deve começar a entregar a aeronave ARJ 21, que disputará o mesmo mercado do Embraer 175.
Nesse grupo ainda está a japonesa Mitsubishi, com uma nova geração de motores e dois aviões que devem bater de frente com os modelos Embraer 170 e 175 a partir de 2014. A canadense Bombardier, mais tradicional rival da brasileira, também quer incomodar com novos motores. O CS 100, para enfrentar o modelo Embraer 195, estará no mercado até a metade da década. O CS300, que também deve chegar ao mercado em 2014, terá até 150 lugares e não encontra paralelo no portfólio da brasileira, cujo maior avião tem 122 lugares.
Como se não bastasse, as duas maiores fabricantes do mundo, Boeing e Airbus, devem modernizar seus motores. Se esse processo for bem sucedido, pode colocar por terra as atuais vantagens de custo da Embraer.
Atacado por todos os lados, Kern sabe que só resta uma alternativa para defender a participação de mercado da Embraer: lançar um novo produto. O problema é saber o quê e quando. Essas respostas dependerão de variáveis como o preço do petróleo, os movimentos de concorrentes e as estratégias das companhias aéreas. Durante as próximas seis semanas, Kern e sua equipe deverão se reunir com uma série de empresas ao redor do mundo. A intenção é diagnosticar o que esses clientes vão precisar daqui a cinco ou dez anos (se a decisão sobre o tipo de aeronave a ser construída for tomada agora, o produto só estará pronto na segunda metade da década).
A Embraer analisa três alternativas para o seu impasse. A primeira delas é aperfeiçoar os modelos E-Jet já existentes de modo a torná-los mais eficientes, mais leves ou com menor custo de manutenção. Os atuais motores, por exemplo, poderiam ser substituídos.
A segunda possibilidade é um projeto de avião turboélice. Rejeitado pelos passageiros devido à falta de conforto, esse tipo de aeronave voltou a chamar a atenção das companhias aéreas depois da recente escalada do preço do petróleo (o modelo queima menos combustível que os jatos) e com o aumento das pressões ambientais. Caberá à Embraer, porém, torná-los mais atrativos aos viajantes e mais resistentes a turbulências. Como voam mais baixo que os jatos, os turboélice são mais suscetíveis às trepidações.
Por fim, a Embraer cogita investir em um avião maior. Kern não deixa claro qual seria o tamanho dessa nova aeronave, mas diz que a intenção não é competir com os principais modelos de Boeing e Airbus. Para executivos do setor, o grande alvo continua sendo a arquirrival Bombardier, com seu CS300, com capacidade entre 135 e 150 lugares. "Não temos que responder à Bombardier, necessariamente", diz Kern. "Não vamos entrar na estratégia do "eu também" só para conseguir um pedaço do mercado. Queremos um diferencial competitivo que assegure o sucesso desses aviões."
Se escolher essa alternativa, a Embraer pode tanto "espichar" seu maior modelo, o 195, ou partir para um projeto do zero. "Se fizer apenas alterações, a Embraer consegue colocar o avião no mercado mais cedo e pode dificultar a entrada dos concorrentes", diz Paulo Sampaio, da consultoria aeronáutica Multiplan. "Não existe mercado para tantas empresas." Por outro lado, o avião "melhorado" tem que ser bom o suficiente para responder ao avanço da concorrência.
A necessidade de uma decisão da Embraer acontece exatamente no momento em que a empresa sofre com o reflexo da crise que abalou os mercados americano e europeu. No ano passado, a receita da empresa caiu 8% e a expectativa é de uma nova queda neste ano, de 10%. O resultado só começa a melhorar, segundo os analistas, no ano que vem.
Contra o relógio. Seja qual for a escolha da Embraer, o importante é que ela seja feita rapidamente. "Em quatro anos, os novos Bombardier começarão a ser entregues. E a Embraer pode perder pedidos para esses modelos", diz Luiz Otavio Campos, analista da área de transportes do Credit Suisse.
No início do ano, a Republic Airways, tradicional cliente da Embraer e dona da maior frota de E-Jets em operação do mundo, assinou um acordo com a Bombardier para a aquisição de 40 aeronaves CS300, com opção de compra de outras 40. Trata-se daquele modelo de até 150 lugares, categoria em que a brasileira ainda não está presente. "O CS300 vai nos ajudar a reduzir dramaticamente o consumo de combustível e o impacto ambiental. Nossos clientes vão apreciar o generoso espaço extra", disse , o presidente da companhia aérea, Bryan Bedford. Para o bem de Kern e da Embraer, é bom que a opinião do executivo não se repita aos montes por aí."
FONTE: reportagem de Melina Costa publicada hoje (12/04) no "O Estado de São Paulo".
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5 comentários:
Prezada Maria Tereza
Esta decisão de enorme importancia para a única empresa multinacional brasileira de alta tecnologia deve ser tomada por pessoas do estofo intelectual e visão do Leoni e do Mauricio Botelho, os que na verdade construiram a Embraer moderna.
Se tomarem a decisão errada a Embraer poderá quebrar ou ser comprada, como já ocorreu várias vezes no passado no mercado aeronautico mundial.
O Mauro Kern está com uma super batata quente na mão.
Só não entendi por que colocaram isso na mão dele; para mim esta é uma decisão do nível de Conselho de Administração, não de um VPres.
Que saudade do MEU "Brasília", do MEU "Xingu"...quem diria.
ME fizeram cuspir no prato que um dia comi, foi um tal de FHC, só que "ele" se deu bem.
Oooooolha, e NÃO é brinquedo os concorrentes da franco-americana... Mas é coisa de família, de grupinho, panelinha...
Tem ainda os "por fora" para pressionar como a crianças Northrop, a Kawasaki, a EADS (da sinistra Tia Beatriz) e um tal de subsídio canadense a Bombardier que parece não ter fim, cadê a OMC?? Ou é só para a AIRBUS?? Ah, tá preocupada com o algodão e o etanol ianque...
Mas, eu queria esta tal de EMBRAER anexada ao CTA. Acho que o Tenente-Brigadeiro-do-Ar, Cleonilson Nicácio Silva, iria gostar.
Como seria interessante também, diversificar um pouco de parceiro, quem sabe, com a russa Sukhoi??
Mas não é isso que tu queres EMBRAER, tu queres banquetear no FX-2 com os suecos(???) & cia "ilimitada" a custa do contribuinte brasileiro... Explica-se o porque, de TANTO contra para com o siberiano então?
É como o FX-2, que o JOBIM "disse" que os russos entregaram a proposta BÉLICA atrasada...
É, os russos tem disso mesmo, não "entendem" do assunto. E "nem" estão interessados em parcerias estratégicas e comerciais com "nóis", só o resto do mundo.
Pois é Jobim, Vossa Excelência chamou o Kremlin de incompetente e, o brasileiro de BURRO, estúpido, ignorante, imbecil, idiota...
"A Embraer informou que a União indicou Aprígio Eduardo de Moura Azevedo para ocupar uma vaga no Conselho de Administração da fabricante de aviões.
Azevedo já faz parte da atual composição do Conselho. O governo também indicou Antonio Franciscangelis Neto para ser suplente da vaga. Azevedo atualmente é secretário de Economia e Finanças da Aeronáutica, enquanto Franciscangelis Neto é chefe do Gabinete do Comandante da Aeronáutica."
E, estes AT-29 que você comercializou com o pinóquio Robert Gates para dar um "gás" a Embraer... eles só voltaram para o VERDADEIRO dono e, "eles" já tem um melhor ainda, só estão agradecendo, as SUSPEITÍSSIMAS "bases"...
http://www.aereo.jor.br/2010/04/07/voa-segundo-exemplar-de-testes-do-at-6/
http://www.aereo.jor.br/2010/04/09/entregue-o-600%C2%BA-beechcraft-t-6/
Tu não me enganas não Embraer, teu "futuro" é uma incerteza do "presente" de uma "passado" MUITO feliz.
Jaz,
Prezado Yuri Korolev,
Infelizmente, acompanhei quase tudo que foi publicado sobre a empresa. Por tudo que li desde meados dos anos 90, em relatórios da AGU publicados em D.O., em depoimentos disponibilizados pela Câmara, em "fatos relevantes" publicados na imprensa pela EMBRAER e em muitos outros documentos, posso afirmar que suas impressões sobre os Srs Carlos Leoni Rodrigues Siqueira e Maurício Novis Botelho estão erradas.
Antes, reafirmo que julgo que a privatização da empresa em 1994 foi correta, por ser o último recurso para salvá-la depois do doloso estrangulamento que ela sofreu no governo Collor, inserida no PND. Privatizada, livre das amarras, passando a receber generosos financiamentos governamentais para as vendas e com um ótimo produto já pronto (EMB-145) antes da desestatização, ela pôde nadar em grandes lucros por quase 10 anos. A partir daí, veio a era dos ERJ-175, 190, 195.
Maria Tereza
(continuo a seguir, para não ultrapassar o tamanho permitido para comentários)
Contudo, a desestatização da EMBRAER em dezembro de 1994 já arranhou a Segurança Nacional. Com a privatização, o principal controlador “nacional” da empresa passou a ser o banco "Bozano Simonsen Privatisation Limited" com sede nas Bermudas-Caribe (com a subsidiária também estrangeira "Scorpio Acquisition Company Ltd" com sede nas Ilhas Cayman). Tudo sob jurisdição inglesa (isso consta no Acordo de Acionistas publicado).
Agravando, houve a venda em 1999, conduzida em segredo pelo citado banco Bozano, de 20% do capital votante da EMBRAER para forte grupo controlado pelo Estado francês. O Banco Bozano fizera aquela venda aos franceses sigilosamente. Não dera conhecimento prévio ao governo brasileiro, à Aeronáutica ou ao próprio Conselho de Administração da EMBRAER. Somente meses após o negócio concluído, ele foi (superficialmente) comunicado pelos dois Srs ao Conselho de Administração e à Assembléia Geral da empresa (consta em relatório da Câmara).
Muito mais grave do que a venda de 20% do capital votante, houve a ainda maior, formal e sigilosa transferência para estrangeiros do real domínio da empresa. Por exemplo, o banco Bozano comprometeu-se, no acordo sigiloso de 24/07/1999 assinado em Paris, a obedecer ao Estado francês na hipótese de o banco querer fazer outra venda semelhante de ações da EMBRAER. Concordou em, previamente, submeter pedido formal ao governo francês, e a condicionar-se à prévia permissão por escrito daquele governo, para então dar partida em nova venda de ações. Esse fato foi muitos meses depois publicado Parecer AGU GQ-215, item 94.
Naquele acordo, o Bozano comprometeu a parte brasileira a não mais vender ações da EMBRAER, nem negociar uma venda, sem a prévia e formal autorização da parte francesa, nela inclusa a autorização do Estado francês (item 117 do citado Parecer AGU GQ-215).
Ainda mais! Em outro acordo sigiloso com os compradores franceses, o banco Bozano comprometeu-se a exercer seus direitos de controlador “nacional” da EMBRAER “por conta e em nome do Grupo francês ou para alguém por ele indicado” (laranja!) (item 98, AGU GQ-215).
Infelizmente, a transação foi aprovada por empenho pessoal de FHC/PSDB.
O montante auferido pelo Banco Bozano e seus parceiros com a estrangeirização de 1999, US$ 300 milhões (US$ 0,3 bilhão) foi todo para os citados controladores caribenhos, declaradamente com a parcela de R$ 0,00 (zero) para a EMBRAER. Naquela ocasião, foram retirados dos seus cargos até ministro civil (Defesa)e comandante militar (Aer) não partidários daquela alienação, logo substituídos por FHC por outros que, previamente na imprensa, expressaram ser favoráveis (isso também foi expresso pela própria EMBRAER no documento por ela apresentado à “US Securities and Exchange Comission” - SEC do governo norte-americano)!
(continua no comentário seguinte)
(continuação do comentário anterior)
No início de 2006, a EMBRAER explicitou na imprensa o seguinte: não será aplicado na empresa o montante que será arrecadado pelos atuais controladores (Bozano etc) com a nova venda das suas ações, tornada permitida com a eufemística “reestruturação”, que
liberou a passagem da propriedade da empresa para pessoas, empresas ou Estados estrangeiros ("fato relevante" publicado na Gazeta Mercantil). A única pseudorrestrição inofensiva aos estrangeiros foi: quando houver assembléia-geral, nela somente poderão comparecer 40% dos representantes do capital votante estrangeiro..., "mas sem qualquer prejuízo ou limitação à livre circulação de tais ações, ou aos direitos econômicos e patrimoniais de todos os seus titulares estrangeiros" (publicado em “Fatos Relevantes” na Gazeta Mercantil e outros jornais).
Aos brasileiros, agora resta continuar orgulhosa e inocentemente a ler e vibrar com notícias jactanciosas de muitas vendas de “nossos” aviões no exterior, de elogios estrangeiros à EMBRAER e à tecnologia dos aviões “brasileiros” e outras menções ufanistas. A EMBRAER, disfarçada, “enrolada na bandeira nacional”, continuará a ser privilegiada com compras da FAB sem licitação, com generosos empréstimos do BNDES com isenções fiscais e com outras benesses Ninguém percebe que os gordos lucros e dividendos estão saindo do Brasil para a distribuição aos felizes acionistas estrangeiros que compraram suas ações, suas ADR, na bolsa de Nova York.
Tudo isso e outras tristes iniciativas danosas para o Brasil foram conduzidas direta e pessoalmente pelos dois Srs citados, vinculados ao Banco Bozano, Simonsen.
Maria Tereza
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