"Estadão pede para você prestar atenção. Então, preste atenção!
O Estadão fez preceder a entrevista de Dilma Roussef por um lide, o que é praxe no jornalismo e permite destacar o que o jornal considera relevante (Ver ”O debate centrado na ética é muito bom para a gente”).
Desta vez, o Estadão acrescentou, acoplado na entrevista, suas opiniões sobre os temas tratados pela candidata, sob o título “Preste atenção”. Tudo sob pretexto de “complementar” os assuntos. Mas o conteúdo visa a contestar as respostas da entrevistada, disfarçado de objetividade.
Por exemplo, como o Estadão “comenta” e rebate a afirmação de Dilma Rousseff sobre a questão da “roubalheira” evocada por José Serra?
A resposta de Dilma na entrevista é clara:
“Nunca se esqueça que foi a CGU quem descobriu a máfia dos sanguessugas. Tudo foi feito pela CGU, combinado com a Polícia Federal. Se teve um governo que levantou o tapete, foi o governo Lula. Antes não apareciam denúncias, porque ficavam debaixo do tapete, ninguém apurava. Estava vendo, outro dia, um levantamento da CGU que mostra que as principais descobertas e investigações neste governo foram de casos que ocorreram em governos anteriores. A apuração das denúncias levantadas pela Operação Castelo de Areia é um caso. E acabamos com a figura do engavetador-geral. Onde está o engavetador? A União não engaveta mais nada. Nos sentimos muito à vontade em fazer essa discussão.”
O “comentário” do Estadão é:
“A Operação Sanguessuga, lançada pela PF em 2006, revelou que as fraudes nas licitações na saúde começaram em 2001, na gestão do então ministro José Serra. O PT e o atual governo, no entanto, ficaram constrangidos quando a própria CGU revelou que em 2004 havia alertado o então ministro Humberto Costa, sobre a existência da máfia. Costa só se pronunciou sobre o caso quando a PF estourou com estardalhaço o esquema. A CPI instalada para investigar as denúncias pediu a cassação de 64 parlamentares aliados do governo Lula e oito da oposição.”
O Estadão oculta que Humberto Costa foi declarado inocente pela justiça de toda e qualquer acusação sobre a Máfia dos Sanguessugas. Informação que todos os jornais publicaram, em pequeno é verdade.
Ao mesmo tempo, o Estadão nada diz sobre quem eram os implicados “nas fraudes nas licitações que começaram em 2001, na gestão do então ministro José Serra”?
Três nomes se destacam no noticiário da época: o empresário Abel Pereira; Luiz Antonio Vedoin, denominado pelos jornais o “chefe da Máfia dos Sanguessugas” e Barjas Negri.
Segundo publicado pela Folha: “Luiz Antonio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas, prestou depoimento ontem à PF e disse que pagava propina a Abel pela liberação de verbas no ministério durante a gestão de Barjas, em 2002. Conforme Vedoin, Abel afirmou que conseguia liberar dinheiro por ser ligado ao então ministro.” (Folha SP 12/12/2006)
E quem era Barjas Negri, o então ministro?
“Barjas Negri, Prefeito de Piracicaba, conviveu com José Serra de 1983, no governo Franco Montoro em São Paulo, até sua saída do Ministério da Saúde, em 2002, para concorrer à Presidência da República.
Negri foi coordenador de políticas sociais do governo Montoro, quando Serra ocupou a Secretaria de Economia e Planejamento, entre 1983 e 1986. Foi o primeiro cargo executivo de Serra, que voltara do exílio em 1978 e até então dava aulas de economia na Unicamp.
Negri também conviveu com o tucano quando era secretário executivo do Fundo Nacional de Educação e Serra comandava o Ministério do Planejamento de Fernando Henrique Cardoso.
Depois, voltaram a trabalhar diretamente, com Negri como secretário executivo do Ministério da Saúde, o segundo em hierarquia na pasta.” (perfil feito pelo jornal Zero Hora).
Então, preste atenção, pois quando os tucanos falam de “roubalheira” e o Estadão comenta, você pode ficar ignorando estes fatos.
O resto é igualmente parcial. O Estadão fala do mensalão, mas não menciona que o esquema de caixa 2 começou com o PSDB em Minas Gerais e nada diz do “mensalinho” [eufemismo carinhoso] da gestão Alckmin. Silêncio total sobre as quase 100 CPI recusadas na Assembléia legislativa de São Paulo pela maioria demo-tucana [para não serem investigadas as falcatruas dos tucanos e demos].
O “Preste atenção” aborda ainda a saúde e a educação, ignorando o Prouni, minimizando as escolas técnicas criadas no governo Lula e passando sobre silêncio o extraordinário progresso do Programa Saúde da Família, objeto de um laudatório editorial hoje do próprio Estadão e que começa assim:
“A cobertura oferecida pelo Programa Saúde da Família (PSF), que já atende mais da metade da população brasileira, mostra o êxito dessa modalidade de atendimento público na área de saúde. Nos 27,4 milhões de domicílios cadastrados pelo programa, e que por isso recebem visitas regulares das equipes do PSF, vivem 96,5 milhões de brasileiros. É um número próximo da meta proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de atendimento de 100 milhões de pessoas.” (editorial O Estado SP).
Nenhuma menção é feita a isto. Então preste atenção, pois na campanha eleitoral alguns vão tentar vender gato por lebre. Preste bem atenção!"
FONTE: publicado no blog de Luis Favre [título e trechos entre colchetes colocados por este blog].
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