quarta-feira, 17 de agosto de 2011

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DO PRESIDENTE DA PETROBRAS À REVISTA “ÉPOCA”

Presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli de Azevedo

PRESIDENTE DA PETROBRAS FALA À REVISTA ÉPOCA

“O presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli de Azevedo concedeu entrevista ao site da revista “Época”. Entre outros assuntos, Gabrielli analisou a crise econômica na Europa e nos Estados Unidos, as oportunidades para o Brasil e para a Petrobras, o preço da gasolina e a gestão da Companhia diante de seus diversos públicos de interesse.

Leia a transcrição da entrevista:

Repórter: Como a crise internacional afeta o petróleo?

Gabrielli:
É uma resposta muito difícil porque há algumas características dessa crise agora que são ainda muito incertas. O primeiro elemento é que a crise na Europa é mais grave do que nos Estados Unidos. Qual é o problema central na crise europeia? A capacidade da política fiscal de cada país para enfrentar o déficit e a dívida pública está no limite como instrumento efetivo de ação dos governos. Os governos europeus já tinham abandonado o uso da política monetária nacional, uma vez que têm moeda única e, portanto, a lógica da política monetária europeia é uma lógica de concertação entre países. Quando os países estão em estágios distintos de crise –a situação da Alemanha, por exemplo, é completamente distinta da situação da Grécia–, isto faz com que a disputa sobre o melhor caminho faça com que as respostas monetárias sejam mais lentas. À medida que a resposta de política monetária é mais lenta, você tem um fenômeno de credibilidade na capacidade de os Estados cumprirem suas obrigações.

Repórter: O senhor acha que a crise da Europa é crise de credibilidade?

Gabrielli:
Eu acho que sim. Na medida em que esses países mantêm taxas de juros baixas porque não podem aumentar os juros para não provocar recessão ainda mais profunda. Isso faz com que os capitais excedentes, entre os agentes que têm excedentes de recursos monetários e financeiros, busquem aplicações que têm mais retorno e um mínimo de segurança. Essa seletividade busca aplicações mais seguras, como o ouro.

Repórter: Você acha que, nessa busca pela qualidade no momento de crise, as ‘commodities’ podem ser beneficiadas? O petróleo especificamente?

Gabrielli:
Acho difícil falar em ‘commodities’ em geral, mas o petróleo em particular, sim. Petróleo é uma ‘quase moeda’ hoje. É uma ‘commodity’ que tem componente financeiro muito grande em seu preço.

Repórter: Para o bem e para o mal?

Gabrielli:
Sim, para o bem e para o mal. Por outro lado, nos EUA a situação é diferente, mas há uma coisa comum com a Europa. O problema que levou à variação do ‘rating’ (classificação de risco de crédito) dos EUA foi o risco político. É a dificuldade dos Democratas e Republicanos de encontrarem um caminho para resolver uma alternativa de médio prazo para enfrentar as questões do déficit público e da dívida pública americana, que está chegando a 85/90% do PIB. Evidentemente que a economia americana não é a economia europeia. A economia norte-americana tem dinamismo e capacidade de resposta maior; portanto, ela pode surpreender. É muito difícil precisar uma resposta, com tantas incógnitas para se definir. O fato é que o Brasil está muito bem. O País tem uma economia que está crescendo fortemente, puxada pelo mercado interno. Hoje o Brasil não tem problema de expectativa de crescimento, temos flexibilidade na política monetária, ou seja, temos taxa de juros muito alta que pode ser ajustada. Podemos ajustar, também, a política fiscal, seja por estímulos à demanda agregada ou pelo aumento de impostos em determinados setores. Temos muito mais instrumentos hoje do que os Estados Unidos e a Europa, e o mercado está vendo isso. Por isso, o Brasil está com o real tão apreciado. O país cresce, o mercado de trabalho está aquecido. Portanto, é outro quadro. Nós somos um alvo potencial de quem busca aplicações neste momento.

Repórter: Para a Petrobras, então, a crise não é um problema?

Gabrielli:
Provavelmente, a Petrobras não passará imune, dependendo da profundidade da crise. Mas pode ser até uma coisa positiva. Qual é a dificuldade que nós vamos ter? Provavelmente, na captação de recursos. A Petrobras prevê captar entre US$ 67 bilhões e US$ 91 bilhões. Se o preço do petróleo ficar em torno de US$ 80, vai ser US$ 91 bilhões. Se ficar em US$ 95, vai ser US$ 67 bilhões.

Repórter: Essa captação será feita por meio de quais instrumentos?

Gabrielli:
São vários instrumentos: emissão de ‘bonds’ no mercado, principalmente lá fora. A Petrobras vai fazer captação com agências de promoção de exportação; captações com bancos de desenvolvimento; captações com bancos comerciais. O que a Companhia não vai fazer é emissão de ações. Isso está fora do Plano em decisão tomada pelo Conselho de Administração da Petrobras. A Petrobras vai vender ativos.

Repórter: A questão de emissões de ações foi discutida?

Gabrielli:
Claro.

Repórter: Em virtude do cenário internacional?

Gabrielli:
Não. Em razão da capitalização feita pela Petrobras no ano passado. A Companhia fez a maior capitalização da história no mundo. Ao fazer essa capitalização, a Petrobras colocou volume enorme de ações novas no mercado que precisam levar tempo para serem absorvidas e estruturar o portfólio de todos os agentes que aplicaram. Dessa capitalização, a Petrobras tem, hoje, em caixa, US$ 26 bilhões. Portanto, não temos nenhum problema de urgência de captação. Temos programa de desinvestimento de US$ 13,6 bilhões. A Petrobras vai gerar, das atividades regulares, após pagar dividendos, entre US$ 125 bilhões e US$ 148,9 bilhões, nas duas faixas de preço citadas.

Repórter: Esse valor é de faturamento?

Gabrielli:
Faturamento. As vendas da Companhia, depois do pagamento de custos e depois do pagamento de dividendos.

Repórter: O plano de investir US$ 224 bilhões até 2015 não muda?

Gabrielli:
Não tem mudanças.

Repórter: Na questão do desinvestimento, é desinvestimento e reestruturação? São US$13 bilhões?

Gabrielli:
US$13,6 bilhões.

Repórter: O que está dentro desses US$13,6 bilhões?

Gabrielli:
Existem três tipos de aplicações. Primeiro, uma tradicional que as empresas de petróleo fazem, que é a venda de participação em blocos exploratórios e blocos de exploração. Chama-se ‘farm in’ e ‘farm out’. A Petrobras venderá participações em blocos de exploração para sócios que tenham interesse em ser parceiros da Companhia no risco exploratório.

Repórter: Já se sabem quais são os blocos?

Gabrielli:
Não. A Petrobras tem vários blocos, mas, não os divulga no momento. Esse não é pré-sal. Será, principalmente, no exterior. A Petrobras está, hoje, em 27 países.

Repórter: Não teria venda de participação em blocos no Brasil?

Gabrielli:
Também, no Brasil, mas, principalmente, fora. Não posso entrar em detalhes. O segundo tipo de ativos são as ações que a Petrobras possui. A Companhia tem ações de diversas empresas, em várias áreas.

Repórter: Você fala de empresas e grupo conglomerado?

Gabrielli:
Não. A Petrobras participa várias empresas, elétricas, de gás…

Repórter: São quantas empresas?

Gabrielli:
O sistema Petrobras tem, hoje, 289 empresas diretamente controladas, coligadas e subsidiárias. O terceiro é a reestruturação do portfólio financeiro da Petrobras. Basicamente, são dois tipos de coisa: a substituição de garantia financeira, monetária, por garantia bancária ou de seguro. Com isso, libera-se recursos de caixa, para utilizar no investimento e, uma redução de pagamentos feitos para os fornecedores, antes da conclusão do trabalho.

Repórter: Uma revisão de contrato?

Gabrielli:
Não. A Petrobras tem um navio que vai levar 5 anos. Na medida em que o navio vai completando uma parcela, a companhia vai pagando. O que a Petrobras faz, agora: ela montou, com bancos brasileiros: Banco do Brasil, Caixa, Itaú, Bradesco, HSBC e o Santander, um programa chamado ‘Progredir’. Esse programa busca estimular que os fornecedores da Petrobras vão a esses bancos e tomem os recursos emprestados para usar durante a fase de produção deles. Na medida em que eles completam, ao em vez de a Petrobras pagar ao primeiro fornecedor, a Companhia paga ao primeiro fornecedor uma parcela, ao fornecedor dele uma outra parcela, ao fornecedor do fornecedor uma outra parcela, até o quarto fornecedor. Com isso, a Petrobras poderá atingir 255 mil empresas que, sem contrato com a Petrobras, vão usar o contrato da Petrobras para garantir ao banco que ele paga o recurso, portanto sua a taxa de juros cai.

Repórter: No final, o interesse é para a Petrobras reduzir os seus custos?

Gabrielli:
Claro, mas não imediatamente. É uma cadeia. Mas o ganho principal da Petrobras é que a Companhia não precisará pegar o seu recurso financeiro, durante esse período, e mobilizar, porque isso será bancado pelos bancos. Eles entram com o dinheiro. A Petrobras entra com a garantia de entrar com o próprio dinheiro. Já existem hoje operações 40% mais baratas para o fornecedor. Esses 40% dizem respeito ao gasto financeiro do fornecedor. Isso envolve os seis principais bancos comerciais do Brasil.

Repórter: Dentro dos investimentos, haverá venda de participação na área de gás?

Gabrielli:
Também, mas não vou dizer quais. A Petrobras tem dois anos e meio para lançar esse programa.

Repórter: Como fica o preço da gasolina?

Gabrielli:
O preço da gasolina no Brasil não pode ser desconectado do preço da gasolina e do petróleo no mercado internacional. Por uma razão muito simples: o mercado brasileiro é aberto. O mercado brasileiro tem mais de 250 distribuidoras. A Petrobras tem 38% do mercado de distribuição; 62% estão com outras distribuidoras. Essas distribuidoras não têm nenhuma obrigação de comprar produtos da Petrobras. A Petrobras tem 100% do refino. Se a Petrobras mantiver os preços da gasolina e do diesel acima dos preços do mercado internacional por muito tempo e a perspectiva dos preços no mercado internacional for de estabilidade, o que vai acontecer com a distribuidora? Ela vai comprar fora e vai trazer para cá. Foi o que aconteceu em 2010, quando houve importações grandes.

Repórter: Direto pelas distribuidoras?

Gabrielli:
Sim, principalmente, no Norte e Nordeste, onde a Petrobras não tem refinaria. Dezenove por cento (19%) do mercado está lá.

Repórter: Importou principalmente de onde?

Gabrielli:
O mundo todo tem produto. E se mantivermos abaixo do preço internacional por muito tempo e o preço no exterior apontar para uma certa estabilidade, a distribuidora vai comprar da Petrobras e vai exportar. Então, no longo prazo, por razões econômicas, você tende a ter uma convergência. Qual é o momento de fazer o ajuste, que é a pergunta que todo mundo faz? Depende da volatilidade esperada da taxa de câmbio, depende da volatilidade esperada da variação do preço do petróleo. Esse conjunto de coisas tem que ser observado todo dia. A gasolina sai da refinaria da Petrobras, desde maio de 2009, a R$1,05 por litro. Quando chega na bomba, tem impostos e a margem do distribuidor e a margem do posto, que não é da Petrobras.

Repórter: Analistas do mercado financeiro afirmam que a manutenção artificial do preço da gasolina afeta os papéis da Petrobras o que é ruim para o mercado.

Gabrielli:
Evidentemente, o mercado reage sempre do lado mais sensível para ele. No momento em que o preço está acima do preço internacional, ele não reclama, é óbvio. Ele reclama quando está abaixo do preço internacional.

Repórter: Quando ficou acima?

Gabrielli:
Durante todo o ano de 2009 e início de 2010, ficou acima. Hoje está abaixo, mas o preço internacional está muito volátil. A taxa de cambio sofreu uma variação enorme. As pessoas são muito sensíveis ao preço da gasolina. O mundo político gosta muito do preço da gasolina, a imprensa gosta muito do preço da gasolina.

Repórter: O senhor vê certa exploração as vezes…

Gabrielli:
Claro, tanto por parte do governo quanto da oposição. Os dois lados falam do preço da gasolina.

Repórter: O governo também?

Gabrielli:
Claro, o governo diz que não vai mudar, que vai segurar, diz que vai segurar porque é importante segurar, senão o pessoal sente no bolso.


Repórter: O Brasil passou do 18º para o 13º no ranking de produção de petróleo. Com o pré-sal o País pode chegar em qual posição?

Gabrielli:
É difícil dizer. Os novos barris de petróleo que serão adicionados à produção mundial são oriundos de duas fontes: de uma melhoria da recuperação dos poços existentes e de novas descobertas. A maior parte dos novos barris vem da recuperação de poços existentes.

Repórter: Como funciona isso?

Gabrielli:
Muda tecnologia, perfura novos poços em áreas já descobertas. 1/3 do novo petróleo vem de descobertas. Nas descobertas, o Brasil é o maior contribuinte para o futuro. Entre as empresas, no que se refere ao futuro, é muito claro que a nova fronteira de exploração de petróleo no mundo é em águas profundas. Nas águas profundas, a Petrobras é, disparadamente, a maior do mundo. Três vezes maior que a segunda. Somadas à segunda, terceira e à quarta, juntas, são menores que a Petrobras em termos de número de plataformas de produção hoje existentes. Portanto, a Petrobras será muito importante na adição de novos barris de petróleo para o futuro. A duplicação das reservas da Petrobras é coisa que já está consolidada, praticamente.

Repórter: Que ano?

Gabrielli:
Até 2020. A Petrobras também vai triplicar a produção no Brasil.

Repórter: Tem como fazer uma estimativa hoje?

Gabrielli:
Não. Depende do que os outros vão crescer. A Petrobras será a que mais vai crescer. Nos últimos 30 anos, a Petrobras cresceu, em média, 10% ao ano. A média dos outros é muito menor. A Petrobras cresceu porque descobriu novas reservas. A Companhia saiu da terra, foi para águas rasas, das águas rasas, foi para águas profundas e agora, a Petrobras descobriu o pré-sal. A Petrobras pretende crescer 9% por ano, até 2020.

Repórter: Isso ajuda a fortalecer a posição geopolítica brasileira?

Gabrielli:
Fortalecer não sei dizer. Entretanto, muda a posição geopolítica sim. O país será fonte extremamente importante de fornecimento de petróleo para o mundo. Atualmente, exportamos em torno de 586 mil barris por dia. A produção total é dois milhões. Em 2020, a Petrobras irá exportar 2,3 milhões de barris.

Repórter: A Petrobras chegará a exportar mais do que consome?

Gabrielli:
A Companhia já exporta porque a produção é maior do que consumo.

Repórter: Qual o consumo interno do País.

Gabrielli:
2,2 milhões de barris por dia.

Repórter: Exporta 580 mil barris por dia. Vai chegar ao ponto nominal de o País exportar mais do que consome?

Gabrielli:
Não. Em 2020 a Petrobras vai exportar 2,3 milhões de barris e seu consumo será 3 milhões de barris.

Repórter: Seremos um dos principais exportadores?

Gabrielli:
Não sei dizer. O que é importante dizer é que o mercado brasileiro consome hoje 2,2 milhões de barris por dia. O Brasil está no segundo grupo de países consumidores de petróleo no mundo. Só existem quatro que consomem mais de 3 milhões de barris/dia: EUA, Japão, Índia e China.

Repórter: Não dá para ter uma estimativa?

Gabrielli:
O que é relevante é que, enquanto na Europa, Japão e EUA cai a demanda de petróleo por per capita, no Brasil, na China, na Índia, na África, América do Sul e nos antigos países da URSS cresce. Essa é a grande mudança significativa no mercado de petróleo do mundo. O consumo per capita de produtos derivados de petróleo, dos países emergentes está em crescimento.

Repórter: Esse declínio é estagnação econômica ou é fonte alternativa?

Gabrielli:
É o declínio da estagnação econômica. A distribuição de renda atingiu patamar bastante alto. A saída da pobreza é intensiva em energia. Exige processo de substituição mais acelerado, de intensificação da eficiência energética mais acelerada.

Repórter: O que a Petrobras pode fazer para ajudar no País no momento de crise?

Gabrielli:
A Petrobras, hoje, é a empresa que mais cresce no Brasil, que mais compra, anunciou o maior plano de investimentos do mundo, é a segunda exportadora do Brasil é, talvez, a maior pagadora de impostos do Brasil. No programa da Petrobras, tem uma cadeia de fornecedores que envolve 1 milhão de postos de trabalho. A Companhia está fazendo enorme investimento na montagem de uma rede nacional de pesquisa de desenvolvimento nas universidades brasileiras. A Petrobras é a maior treinadora de mão de obra do País, junto com o PROMINP, Programa de Formação de Mão de Obra para Indústria do Petróleo, treinando 280 mil profissionais para a cadeia de fornecedores de petróleo e gás. A Petrobras é a maior financiadora da cultura brasileira e dos programas sociais do Brasil. A Companhia tem o maior programa de apoio a programas ambientais do País.

Repórter: Existe intervenção do governo na gestão da Petrobras?

Gabrielli:
O Conselho de Administração da Petrobras, que é um conselho ativo e que se reúne mensalmente, define os pontos estratégicos e as decisões-chave da empresa. E o governo tem a maioria no conselho. Então, é óbvio, que tem influência, como os acionistas controladores de todas as empresas fazem.

Repórter: No aspecto político existe isso?

Gabrielli:
O que há é alinhamento de longo prazo dos interesses dos acionistas não controladores com o governo. O governo quer que a Petrobras cresça, que a Petrobras gere lucro, que a Petrobras permita que o mercado seja estável, que a Petrobras tenha fluxo de caixa mais estável, que pague bons dividendos. Agora, é claro que o governo não quer que a Petrobras perturbe o mercado, que a Petrobras crie problemas. Por isso, é que temos de ser um pouco esquizofrênicos, temos de combinar ambos os interesses e andar numa linha fina de ajuste de uma empresa que tem múltiplos interesses. A Petrobras é empresa com enorme relação com a sociedade brasileira. A Companhia tem força de trabalho forte, poderosa, eficiente, competente e com movimento sindical forte. A Petrobras tem que atender às autoridades políticas do País porque a Companhia tem atividades em três mil municípios do País. A Petrobras é a principal arrecadadora de impostos de todos os estados brasileiros. A Petrobras tem relação direta com a máquina pública. A Petrobras tem que atender aos acionistas. A Petrobras tem milhares de fornecedores. A Petrobras tem clientes da Companhia e da Petrobras distribuidora, que tem 7000 postos de distribuição de gasolina, diesel e derivados, que tem relação direta com os consumidores. A Petrobras tem demanda direta com o mundo artístico, esportivo, das ONGs. A Petrobras tem que se equilibrar entre todos esses interesses.

Repórter: O país vive uma série de escândalos relacionados ao loteamento político de cargos. Há loteamento de cargos na Petrobras?

Gabrielli:
A diretoria da Petrobras é, basicamente, a mesma há oito anos. Da diretoria da Petrobras, o único terceirizado é o presidente. Agora, dizer que não tem influência política… Você acha que a Exxon atua de forma diferente do governo americano? Que a BP atua de forma diferenciada do que o governo inglês quer? Que a Total atua de forma diferente do que o governo francês quer? Nos Estados Unidos, as empresas não negociam com o governo, mas não destoam nas grandes questões políticas. Mas é claro que, no dia a dia, sim, como também a Petrobras.

Repórter: A Petrobras destoa do governo? Em que assuntos?

Gabrielli:
Em alguns detalhes, sim. Nós temos, por obrigação fiduciária, de viabilizar coisas que não dão prejuízo, por exemplo. Como gestores, nós respondemos como pessoas físicas. Não podemos fazer nada que dê prejuízo à companhia.

Repórter: Já houve algum pedido que a Companhia entendeu que teria prejuízo?

Gabrielli:
Às vezes, você tem projetos que não são viáveis economicamente, mas há a pressão da opinião pública, da sociedade à qual você tem de resistir.

Repórter: Pressão do governo também?

Gabrielli:
Também, mas eu diria que não é o dominante. Nós temos em nosso portfólio mais de 3 mil projetos, sendo 688 com mais de US$ 25 milhões. E são projetos que adicionam valor. Em oito anos, a Petrobras saiu de US$ 14 bilhões de valor de mercado para US$ 258 bilhões hoje. Você não adiciona valor se tiver projeto dominante sem rentabilidade. Então, você tem de ter gestão que leve em conta esse conjunto de interesses que eu mencionei. Nós somos empresa que tem múltiplos grupos de interesse. E você tem de atender uma posição que represente a maioria desses grupos, que às vezes são contraditórios, são conflitantes.

Repórter: Você já teve que dizer não para algum tipo de projeto?

Gabrielli:
Já. Cito o exemplo do projeto da siderúrgica do Ceará, por exemplo. A solução que o Ceará encontrou é melhor do que a anterior, que é uma siderúrgica mais adequada para a disponibilidade de recursos que o Ceará tem.

Repórter: E pedidos da base aliada do governo?

Gabrielli:
Isso não tem, não existe. A coisa do varejo é irrelevante. A Petrobras passou por uma CPI ano passado que chegou a suas conclusões.

Repórter: Como é sua relação com a presidente Dilma?

Gabrielli:
É uma relação de trabalho excelente nos últimos oito anos e meio, porque começamos a trabalhar ainda na transição. Como numa relação de duas pessoas que se respeitam, duas pessoas que têm posições firmes, são relações que, em certos momentos, são mais amorosas e, em outros momentos, mais odiosas, o que é absolutamente normal. No dominante, é uma relação extremamente positiva: eu tenho muito respeito à presidenta Dilma e acredito que ela também tenha respeito a mim. Neste momento, eu tenho de obedecer à presidenta, ela é minha chefa. Neste momento, ela estará certa sempre. Ela foi presidente do Conselho por sete anos.

Repórter: Ela já gritou com o senhor?

Gabrielli:
Ela gritou, mas não é verdade que eu chorei, muito menos no banheiro, como andaram publicando. Mas que ela já gritou comigo, já. E eu já gritei com ela também. Hoje, eu não posso gritar porque ela é minha chefa.

Repórter: É mais fácil administrar a Petrobras no governo Dilma ou no governo Lula? Existe essa diferença?

Gabrielli:
Não tem muita diferença. O Conselho é praticamente o mesmo. O que mudou foi a saída da presidenta Dilma, entrou o Guido Mantega como presidente e agora o Palocci que ficou uma reunião e entrou a Miriam Belchior.

Repórter: A Petrobras é melhor administrada no governo PT do que foi no governo Fernando Henrique?

Gabrielli:
Não diria que é melhor administrada porque não posso falar de mim. Nos últimos oito anos, a Companhia deu um salto de qualidade em algumas direções importantes: primeiro, a Companhia fortaleceu o sistema Petrobras, diminuindo a fragmentação do período anterior. Segundo, a Petrobras foi muito mais ativa na atividade de exploração e produção, particularmente, na atividade exploratória, aumentando o portfólio exploratório. Terceiro, a Companhia voltou, firmemente, a investir no crescimento da capacidade de refino, quarto, a Petrobras diversificou as atividades na área de gás e energia, quanto na área de biocombustíveis. Quinto, a Companhia consolidou política de relação com a sociedade, valorizando os processos mais transparentes e mais competitivos do acesso aos recursos para o apoio a cultura, aos recursos para projetos sociais, esportes e as questões ambientais. Sexto, a Petrobras redefiniu o seu modelo de negócios, de tal maneira que a Companhia enfatizou a organização em unidades operacionais, voltadas para a produção, separou novos projetos de operações com a produção corrente, com isso, deu foco grande aos investimentos e ela aumentou, substancialmente, o volume de investimentos, com a perspectiva de crescer. A Petrobras saiu de um investimento médio anual de US$ 5 bilhões, em 2003, para investir, em 2010, US$43 bilhões. Hoje, 52% da força de trabalho da Petrobras tem menos de dez anos na Companhia, 46% com mais de vinte anos e 3% entre dez e vinte anos.

Repórter: E seus planos políticos?

Gabrielli:
Pode escrever aí de forma peremptória: não serei candidato em 2012. Não há a menor possibilidade de José Gabrielli ser candidato em 2012.

Repórter: Fica na Petrobras?

Gabrielli:
Não sei. Eu posso ser demitido a qualquer momento.

Repórter: E em 2014?

Gabrielli:
Está muito longe ainda para decidir.”

FONTE: entrevista com o presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli de Azevedo, realizada e publicada pela revista Época e transcrita no blog “Fatos e Dados”, da Petrobras (http://fatosedados.blogspetrobras.com.br/2011/08/15/presidente-da-petrobras-fala-a-revista-epoca/#more-42957)

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