[OBS deste blog ‘democracia&política’:
Na escolha do caça que exercerá a 1ª linha da defesa aérea brasileira por várias décadas (os Mirage e os F-5 operaram na FAB mais de 40 anos), é preciso muita confiança nos compromissos assumidos pelo país provedor.
Os EUA têm vários antecedentes pelo mundo de não cumprirem seus contratos por súbitas e hipócritas falsas razões de segurança nacional. Por exemplo, não entregaram por mais de 10 anos os F-16 que o Paquistão comprou e já havia pagado. De repente, deixaram de fornecer os indispensáveis suprimentos para os F-16 que a Venezuela comprou, imobilizando no chão definitivamente toda a frota. E muitos outros exemplos. Além disso, são fortes e abusivas as limitações norte-americanas para passagem de tecnologia que permita, ao menos, a autonomia brasileira na operação e manutenção dos aviões norte-americanos que possam ser lá comprados.
O presidente Lula, olho no olho com Sarkozy, chegou a pensar que os franceses eram diferentes, mais confiáveis. Manifestou preferência pelo Rafale francês. Decepção. Sarkozy demonstrou ser igual aos norte-americanos, nada confiável. Pois incentivou Lula a alcançar o acordo com o Irã em 2010 e, imediatamente após o sucesso da diplomacia brasileira, ignorou o Acordo de Teerã e aliou-se aos EUA e Israel para novas e mais duras sanções ao Irã por conta de um “eventual desejo futuro do Irã em desenvolver armas atômicas”. Também foi moleque ao não cumprir outro compromisso assumido. Ele pedira a intervenção de Lula para a libertação de jornalista francesa presa no Irã. A contrapartida da França seria simplesmente Sarkozy telefonar agradecendo para Mahmoud Ahmadinejad.. Lula conseguiu a libertação, mas Sarkozy não cumpriu a sua parte. Isso contaminou ainda mais a confiança brasileira nos franceses.
Assim, para a competição FX-2 da FAB, a situação está ficando mais difícil. O Gripen é bom e não há antecedentes de falta de palavra dos suecos. Mas o avião, para as dimensões da missão a cumprir no Brasil, é o mais limitado, especialmente em raio-de-ação e capacidade de levar armamentos a grandes distâncias.
Os russos, apesar de seus ótimos aviões e até com custos unitários menores, haviam sido afastados da competição, provavelmente por não garantirem o acesso tecnológico à manutenção, operação e ‘up grade’ das aeronaves e à incerteza política da manutenção do apoio logístico por muitas décadas.
Desenvolver um caça nacional, com a Embraer, é dispendiosíssimo, com sucesso não garantido, e já é impraticável por consumir uns 15 a 20 anos até a entrada em operação. Está difícil.
Essas reflexões me retornaram ao ler ontem notícias sobre a esfarrapada justificativa dos norte-americanos de, surpreendentemente, cancelarem a compra dos Super Tucanos, por “faltar documentação” (que não havia sido imaginada, nem solicitada à Embraer).
Vejamos a postagem do blog “Tijolaço”]:
PROTECIONISMO É RUIM SÓ QUANDO É NOSSO
Super Tucanos
Por Brizola Neto“A decisão dos EUA de cancelar a compra dos aviões Super Tucano (20 unidades, com possibilidade de chegar a 55 aeronaves) para treinamento de sua Força Aérea não tem nenhuma razão formal ou burocrática.
É o bom e velho protecionismo em ação.
A Embraer cumpriu todas as regras: associou-se a uma empresa americana, ia produzir lá 80% da aeronave – aqui, nossas exigências de conteúdo nacional raramente superam os 65% - e não havia questões de tecnologia a transferir.
Ao contrário, aliás, o fato de o avião da Embraer contar com sistema inercial de voo, computador de bordo, motor, hélice, e outros sistemas de origem norte-americana foi a razão para aquele país impedir-nos de vendê-lo à Venezuela.
Mas, na hora de ceder à pressão do lobby da Beechcraft e da Lockheed, aí os aviões não são “suficientemente americanos”...
E é claro que isso tem a ver com a questão da compra dos caças do programa FX-2, no qual os americanos querem nos vender os F-22 da Boeing.
E os bobocas aqui dizendo que o que vale é a “análise técnica” dos aviões. A oficial-aviadora Eliane Cantanhêde, da esquadrilha da “Folha”, então, é brevetada nisso.
A possibilidade de um avião desses ser prejudicado em combate por um fiapo tecnológico é tão perto de zero que não é possível nem imaginá-la.
Mas o poder gerado pela transferência de tecnologia e pela capacidade nacional de realizar, em ponto maior, projetos bem sucedidos como o do Super Tucano é evidente.
E tecnologia, no poder bélico hoje, como em todos os tempos, é a verdadeira arma. Abrir mão dela é desarmar-se.
O que não seria mau, se todos o fizessem. Mas não fazem.”
FONTE: escrito por Brizola Neto em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com/protecionismo-e-ruim-so-quando-e-nosso/). [Imagem, trecho inicial entre colchetes e vídeo (YouTube) adicionados por este blog 'democracia&política'].