Aiatolá Ali Khamenei: “DISCURSO DE ABERTURA DA 16ª. CONFERÊNCIA DO MOVIMENTO DOS NÃO ALINHADOS”
“Em nome de Alá, o Benéfico, o Generoso.
Todas as honras a Alá, Senhor dos Dois Mundos. Que a paz e todas as bênçãos desçam sobre o maior e mais confiável Mensageiro, todos seus descendentes, companheiros seletos e todos os seus profetas e enviados divinos.
Saúdo nossos honrados hóspedes, líderes e delegações representantes dos Estados membros do “Movimento dos Não Alinhados”, e todos demais participantes deste grande encontro internacional.
Reunimo-nos aqui para continuar um movimento, com a ajuda e a orientação de Deus, para dar-lhe nova vida e energia, consideradas as atuais condições e necessidades do mundo. O “Movimento dos Não Alinhados” foi fundado há quase 60 anos, graças à inteligência e à coragem de uns poucos líderes políticos atentos e responsáveis que sabiam das condições e circunstâncias de seu tempo.
Nossos hóspedes reuniram-se aqui, vindos de diferentes pontos geográficos, uns mais próximos, outros mais distantes, de diferentes nacionalidades e povos, com características ideológicas, culturais e históricas diferentes. Mas, como Ahmad Sukarno, um dos fundadores desse Movimento, disse na famosa “Conferência de Bandung” em 1955, o fundamento do “Movimento dos Não Alinhados” não é geográfico ou racial, nem a unidade de religião; o fundamento do “Movimento dos Não Alinhados” é a unidade de carências e necessidades. Naquele momento, os estados membros do “Movimento dos Não Alinhados” careciam de um elo que os protegesse contra as redes autoritárias, arrogantes e insaciáveis; hoje, com o progresso e a disseminação dos instrumentos de hegemonia, essa carência ainda existe.
Gostaria de destacar mais uma verdade. O Islã nos ensinou que, apesar das diferenças raciais, linguísticas e culturais, todos os seres humanos partilham a mesma natureza, que os encaminha na direção da pureza, da justiça, da generosidade, da compaixão e da cooperação. Essa natureza humana universal é que – quando consegue afastar-se com segurança das motivações enganosas – conduz os seres humanos na direção do monoteísmo e da compreensão da transcendente essência de Deus.
Essa luminosa verdade tem tal poder que serve como base para a fundação de sociedades livres e orgulhosas delas mesmas, e que, ao mesmo tempo, alcançam progresso e justiça para muitos. Ela permite que a luz da espiritualidade ilumine todos os projetos materiais da humanidade e, assim, permite que os homens criem para eles mesmos, sobre a Terra, paraísos de bem-estar, antecipação do paraíso que depois virá, prometido por muitas religiões. E é essa verdade comum e universal que pode oferecer os fundamentos da irmandade e da cooperação fraterna entre nações e povos que pouco ou nada tenham de semelhança entre eles, em termos de estruturas externas, passado histórico ou localização geográfica.
Sempre que a cooperação internacional for baseada nesse tipo de fundamento, os governos poderão construir relações entre eles, não baseadas no medo, nem construídas sob ameaças, ou por ganância, ou baseadas na disputa entre interesses unilaterais, ou que brotam da mediação de indivíduos traiçoeiros e venais, mas baseadas em interesses partilhados entre todos e – mais importante – que visam a atender a interesses de toda a humanidade. Assim, os governantes podem dar paz às próprias consciências despertas e alargadas e podem garantir paz também à consciência dos seus povos.
Essa ordem baseada em valores é o exato oposto da ordem baseada na força hegemônica, que tem sido ostentada, propagandeada e capitaneada pelas potências ocidentais nos últimos séculos; e pelo governo agressivo e autoritário dos EUA, hoje.
Caros visitantes e hóspedes, hoje, passadas já quase seis décadas, os principais valores do “Movimento dos Não Alinhados” permanecem vivos e firmes: valores como o anticolonialismo, a independência econômica e política, o não alinhamento com blocos de poder, e, sempre crescentes e aprimoradas, solidariedade e cooperação entre os estados membros. As realidades do mundo contemporâneo não mostram fartura desses valores. Mas o desejo coletivo manifestado, somado a esforços amplos e firmes para mudar as realidades de hoje e realizar aqueles valores, embora carregados de desafios, são promissores e recompensadores.
No passado recente, assistimos ao fracasso das políticas da era da Guerra Fria e ao unilateralismo que se seguiu àquelas políticas. Aprendidas as lições dessa experiência histórica, o mundo está em transição para uma nova ordem internacional. E o “Movimento dos Não Alinhados” pode, aí, desempenhar um novo papel. A nova ordem terá de ser baseada na participação de todas as nações e em direitos iguais para todas. Como membros desse movimento, nossa solidariedade é necessidade óbvia no atual momento, para estabelecer essa nova ordem.
Felizmente, a visão geral dos desenvolvimentos globais promete um sistema multifacetado, no qual os tradicionais blocos de poder são substituídos por grupos de países, culturas e civilizações de diferentes origens econômicas, sociais e políticas. Os importantes eventos cuja ocorrência testemunhamos nas últimas três décadas mostram claramente que a emergência de novas potências coincidiu com o declínio das velhas potências. Essa gradual transição de poder oferece aos países não alinhados importante ocasião para desempenhar papel significativo no palco mundial e para preparar o terreno para nova governança global, justa e realmente participativa.
Apesar das muitas perspectivas e orientações, nós, Estados membros desse “Movimento de Não Alinhados”, conseguimos preservar por muito tempo nossa solidariedade e os laços que nos ligam no quadro de nossos valores partilhados. Não é realização pequena ou desimportante. Esses laços e nossa solidariedade podem preparar o terreno para a transição para uma nova ordem humana e justa.
As atuais condições globais oferecem ao “Movimento dos Não Alinhados” oportunidade que talvez não volte a aparecer. Nosso pensamento é que a sala de controle do mundo não deve ser administrada pelo desejo de poder ditatorial com que a administram os interesses e desejos de uns poucos países ocidentais.
Tem de ser possível estabelecer e preservar um sistema participativo de administração dos assuntos internacionais que seja global e democrático. É o que querem e do que carecem todos os países que, direta ou indiretamente, foram agredidos por ações de países tão hegemônicos quanto violentos e agressivos.
A estrutura e os mecanismos do Conselho de Segurança da ONU são hoje ilógicos, injustos e absolutamente não-democráticos. Vê-se ali flagrante modalidade de ditadura, antiquada e obsoleta, cujo prazo de validade já se esgotou. Mediante repetido abuso daqueles mecanismos impróprios, os EUA e seus cúmplices têm conseguido mascarar seus atos de injustificável agressão, travestindo-os com conceitos “nobres” e impondo-os à força, ao mundo. Aqueles mecanismos preservam os interesses do ocidente, apresentando-os como se implicassem “direitos humanos”. Os EUA interferem militarmente em outros países, mascarando a intervenção em nome de alguma “democracia”. Atacam populações indefesas em vilas e cidades, bombardeando inocentes, como se isso fosse “combater o terrorismo”. Da perspectiva dos EUA, a humanidade divide-se em cidadãos de primeira e de segunda classe.
A vida humana na Ásia, África e América Latina vale nada; só é valiosa e cara nos EUA e na Europa Ocidental. A segurança de EUA e Europa é artigo importante; a segurança do resto da humanidade vale nada. Tortura e assassinato são permitidos e absolutamente inatingíveis pela lei, se o torturador e o assassino é os EUA ou os sionistas ou algum de seus fantoches. Nada agita a consciência deles: mantêm prisões secretas em várias partes do mundo, em vários continentes, nos quais prisioneiros, aos quais se nega qualquer defesa ou advogado, nega-se até o direito de ser julgado em tribunal legal, vivem em condições abjetas, inadmissíveis. O bem e o mal são valores definidos seletivamente, viciosamente. Impõem seus próprios interesses a nações livres, como se alguma “lei internacional” existisse especialmente para legalizar o que é injusto. Impõe sua dominação e suas exigências, como se fossem exigência de alguma “comunidade internacional”. Usando sua própria rede de imprensa, comunicação e mídia, exclusiva e organizada, conseguem mascarar como verdade a falsidade e suas mentiras; a opressão que impõem, são apresentadas como esforços para promover alguma justiça. Ao mesmo tempo, apresentam como se fossem mentiras todas as declarações e informações verdadeiras que exponham a falsidade e a simulação; e chamam de “rogue” toda demanda legítima.
Amigos, essa situação daninha e viciosa não pode continuar. Todos se cansaram dessa estrutura internacional viciosa. O movimento dos 99% do povo contra os centros de riqueza e poder nos EUA, e os protestos populares que se alastram na Europa Ocidental contra as políticas econômicas dos respectivos governos mostram que o povo começa a perder a paciência. É necessário remediar essa situação irracional. Elos de conexão firmes, lógicos, abrangentes, entre os estados membros do “Movimento dos Não Alinhados”, podem ter importante função na ação de encontrar remédio.
Honrado público presente, a paz e a segurança internacional estão entre as questões cruciais do mundo contemporâneo; eliminar as catastróficas armas de destruição em massa é necessidade urgente e demanda universal. No mundo de hoje, a segurança é necessidade partilhada – e não há espaço para discriminação.
Ninguém, dos que mantêm armas anti-humanidade em seus arsenais, pode, de modo algum, declarar-se padrão exemplar de guardião da segurança global. Sequer são capazes de proteger a própria segurança e a segurança dos seus cidadãos.
Máxima infelicidade é ver que países que mantêm os maiores arsenais de bombas nucleares do planeta ainda não deram qualquer sinal de disposição genuína para desmontar esses arsenais e apagar essas armas anti-humanidade de suas doutrinas militares. De fato, aqueles países ainda consideram aquelas armas como instrumento útil para usar como ameaça – e como importante padrão que define a posição política e internacional, de força, dos países “atômicos”. É indispensável rejeitar e condenar completamente esse conjunto de ideias.
Armas nucleares nem garantem autoproteção e segurança, nem são fator que consolide algum poder político. Não passam de ameaças diretas tanto à segurança quanto a qualquer poder político. Os eventos dos anos 1990s mostraram que a posse de armas nucleares sequer conseguiu manter no poder um regime como o da antiga União Soviética. E hoje se veem alguns países expostos a trágicas ondas de mortal insegurança, apesar das suas bombas atômicas.
A República Islâmica do Irã define o uso de armas químicas e similares como pecado grave e imperdoável.
Propusemos a ideia do “Oriente Médio livre de armas nucleares” e continuamos comprometidos com ela. Não implica abrir mão de nosso direito de usar a energia atômica para finalidades pacíficas e para produzir combustível atômico. Em estrito respeito à legislação internacional, todos os países têm direito de usar energia nucelar para finalidades pacíficas. Todos os países devem poder empregar essa importante fonte de energia para várias finalidades vitais, em benefício do país e de seu povo, sem ter de depender de fornecedores para exercer esse direito.
Alguns países ocidentais os quais, eles mesmos, mantêm arsenais de bombas atômicas e são culpados, portanto, dessa prática ilegal, desejam monopolizar a produção de combustível nuclear. Movimentos clandestinos estão em processo hoje, para consolidar um monopólio permanente da produção e venda de combustível nuclear, em centros que têm autorização internacional, mas que, de fato, são controlados por uns poucos países ocidentais.
Amarga ironia de nosso tempo é que o governo dos EUA, que comanda o maior e mais mortal arsenal de bombas atômicas anti-humanidade e de outras armas de destruição em massa – e o único país, em toda a história do mundo, culpado de ter usado bombas atômicas em situação de guerra – tanto faça para aparecer como paladino da oposição à proliferação dessas armas.
Os EUA e seus aliados ocidentais armaram o regime sionista usurpador: deram armas atômicas àquele regime e, assim, criaram a maior e mais terrível ameaça que pesa hoje sobre toda essa região sensível. Mas os mesmos, cínicos, mentirosos, falsos, não admitem que países independentes usem a energia nuclear para finalidades pacíficas; de fato, opõem-se furiosamente, com toda sua força, à produção de combustível nuclear para emprego em equipamentos usados em pesquisa médica, farmacológica e outras finalidades pacíficas. Usam, como pretexto, o medo de que esses países venham a produzir armas atômicas.
No caso da República Islâmica do Irã, os próprios mentirosos sabem perfeitamente que mentem, mas as mentiras e os mentirosos são ‘autorizados’ pelo tipo de política que praticam, absolutamente carente de qualquer traço, mínimo que fosse, de espiritualidade. Estado, governo e governantes que fazem ameaças nucleares em pleno século 21, sem se envergonharem do que fazem e dizem... por que se envergonhariam de mentir ao mundo?
Reafirmo que a República Islâmica jamais buscou produzir armas nucleares. Reafirmo também que jamais desistimos ou desistiremos do direito, que é do povo do Irã, de usar energia nuclear para finalidades pacíficas. Nosso ‘motto’ é e sempre foi: “Energia nuclear para todos e armas nucleares para ninguém.”
Insistiremos sempre em cada um desses dois conceitos. Sabemos que quebrar o monopólio de alguns países ocidentais produtores de energia nuclear – nos termos definidos pelo “Tratado de Não Proliferação” – é tarefa que interessa a todos os países independentes inclusive aos membros do “Movimento dos Não Alinhados”.
A bem-sucedida experiência da República Islâmica, na resistência contra a agressão e as pressões dos EUA e seus cúmplices, já nos convenceu firmemente de que a resistência de nação decidida a resistir pode vencer todas as hostilidades, provocações e desamizades, e abrir caminho para que os resistentes alcancem seus mais altos objetivos. Os amplos avanços que o Irã obteve nos últimos 20 anos são fatos bem conhecidos de muitos e repetidamente atestados por observadores internacionais oficiais. Tudo o que fizemos aconteceu sob sanções e pressões econômicas, e contra intensivas campanhas de propaganda, de que são meios e agentes as redes de imprensa, comunicação e notícias apadrinhadas pelo sionismo e pelos EUA.
As sanções, definidas como “debilitantes”, quando não como “paralisantes” por comentaristas néscios, não só não nos paralisaram como, ao contrário, nos obrigaram a dar passos mais firmes, a firmar nossa vontade, e aprofundaram nossa convicção de que nossas análises são corretas e que o Irã é mais forte do que supõem os inimigos. Tantos de nós viram, com os próprios olhos, o quanto Deus nos ajuda sempre, para superar esses desafios!
Honrados hóspedes, considero necessário falar aqui sobre importante questão que, embora seja questão dessa nossa região, tem dimensões que avançam muito além dos nossos limites e influenciam políticas globais há, já, várias décadas. Refiro à gravíssima questão da Palestina.
Em versão resumida, começou por um terrível complô ocidental, dirigido pela Inglaterra nos anos 1940s. Um país independente, com clara e conhecida identidade histórica, chamado “Palestina”, foi roubado do povo que ali vivia e, mediante invasão, guerra, matança, massacres, foi entregue a um grupo de pessoas das quais a maioria eram imigrantes de países europeus.
Essa quase inacreditável usurpação – que, nos primeiros anos, foi acompanhada de massacres de aldeãos que viviam indefesos em cidades e vilas palestinas, e que foram ou assassinados ou expulsos de suas casas e cidades e vilas e terras e empurrados para países vizinhos, como párias – continuou por mais de 60 anos; praticamente os mesmos crimes repetem-se até hoje. Essa é uma das questões mais importantes a exigir ação firme de toda a comunidade humana.
Durante todos esses anos, líderes políticos e militares do regime sionista ocupante não negaram a prática de seus crimes: assassinatos, destruição de casas e propriedades, prisão e tortura de homens, mulheres e até de crianças, humilhação e insultos contra a nação palestina, tentativas que o regime sionista sempre fez, na intenção de destruí-la, atacando até os campos de refugiados palestinos em países vizinhos, nos quais vivem milhões de palestinos. Os nomes de Sabra e Shatila, Qana e Deir Yasin estão gravados fundo na história de nossa região, marcados pelo sangue do povo oprimido da Palestina.
Mesmo hoje, 65 anos depois, o mesmo tipo de crimes marca o tratamento que recebem os Palestinos que restam nos territórios ocupados pelos ferozes lobos sionistas. Cometem crime após crime, e criam novas crises para toda a região. Raramente se passa um dia sem notícias de assassinatos, ferimentos, prisão de jovens que avançam para defender a própria terra e a própria honra e protestam contra a destruição de suas casas e pomares.
E o regime sionista, que ainda não foi punido por seus crimes e causa conflitos, há décadas, e faz guerras desastrosas, mata, ocupa territórios árabes e organiza o estado de terror na região e no mundo... é ele, o próprio regime sionista, quem rotula de “terroristas” o povo palestino que, ainda e sempre, defende os próprios direitos usurpados. E as redes de imprensa, comunicações e mídia, que são propriedade do sionismo, muitos dos veículos da mercenária imprensa-empresa ocidental só fazem repetir a grande mentira que os sionistas inventam e divulgam; e violam, assim valores éticos e morais sem consideração aos quais o compromisso jornalístico nada é. E líderes políticos que se dizem defensores de direitos humanos, mantêm os olhos fechados para os crimes dos sionistas e apoiam esse regime criminoso e, desavergonhadamente, assumem o papel de defensores dos sionistas.
Nossa posição é que a Palestina pertence aos palestinos e que a ocupação continuada é injustiça enorme e intolerável, além de grave ameaça à paz e à segurança globais. Todas as soluções sugeridas e adotadas pelos ocidentais e aliados para “resolver o problema da Palestina” deram em nada, e continuarão a dar em nada também para o futuro.
Oferecemos proposta para solução justa e inteiramente democrática. Todos os palestinos – os atuais cidadãos e os que foram forçados a emigrar, mas preservaram a identidade palestina, inclusive muçulmanos, cristãos e judeus – devem votar num referendum cuidadosamente organizado e supervisionado para ser plenamente transparente e confiável, mediante o qual escolherão o sistema político que desejam para seu país; e todos os palestinos que há anos padecem os sofrimentos do exílio devem voltar ao país para também votar nesse referendum; isso feito, os palestinos redigirão uma Constituição; e, então, haverá eleições. A paz estará, afinal, estabelecida.
Quero agora dar um bem-intencionado conselho aos políticos dos EUA que sempre aparecem para defender e apoiar o regime sionista. Até o presente, esse regime só criou incontáveis problemas também para vocês. Apresentou aos povos dessa região uma imagem de intolerância e ódio, que se agrega à própria imagem de vocês; mostra-os ao mundo como cúmplices dos crimes de ocupação e usurpação praticados pelos sionistas. O custo material e moral que pesa sobre o governo e o povo dos EUA, pelo apoio que alguns políticos norte-americanos dão aos sionistas, é espantosamente alto, e muito mais alto ainda poderá ser no futuro.
Considerem, portanto, a proposta de um referendum palestino, que lhes foi encaminhada pela República Islâmica. Em seguida, em decisão corajosa, salvem-se vocês mesmos dessa situação impossível, sem saída, na qual se vêem, hoje, aliados ao regime sionista ocupante e usurpador. Não há dúvidas que o povo dessa região e os homens e mulheres de pensamento justo e livre em todo o mundo acolherão com satisfação a notícia.
Distintos hóspedes, gostaria agora de voltar ao meu ponto inicial. As condições globais são sensíveis; o mundo passa por conjuntura histórica crucial. Pode-se prever que logo nascerá uma nova ordem mundial. O “Movimento dos Não Alinhados”, no qual se incluem quase dois terços da comunidade mundial, pode desempenhar papel importante na modelagem desse futuro.
A realização desta grande conferência em Teerã é, por si mesma, evento importante, a ser levado em consideração. Ao unirmos nossos recursos e nossas competências e capacidades, os membros do “Movimento dos Não Alinhados” podemos criar novo e duradouro papel histórico, na direção de salvar o mundo da falta de segurança; dos perigos das guerras; e das ameaças da hegemonia.
Esse objetivo só é alcançável mediante a cooperação abrangente entre todos nós. Há entre nós alguns países muito ricos; há países que gozam de importante influência internacional. É absolutamente possível encontrar soluções para muitos problemas mediante cooperação econômica e no campo da informação, das comunicações e da mídia, e mediante a troca de experiências que nos ajudem a melhorar e avançar. Precisamos fortalecer nossa determinação Temos de nos manter fieis aos nossos objetivos.
Não temos o que temer das potências provocadoras e arrogantes, cada vez que nos fazem caretas e gritam, supondo que nos metem medo; nem temos de sorrir em resposta, cada vez que nos sorriem. Temos, para nosso apoio e suporte, o desejo de Deus e suas leis.
Temos muito a aprender do que se viu acontecer ao campo comunista, há duas décadas. E também temos a aprender do fracasso das políticas da assim chamada “democracia liberal ocidental” hoje. Os sinais do fracasso daquelas políticas são hoje bem visíveis nas ruas da Europa e dos EUA e nos problemas econômicos insolúveis nos quais se debatem aqueles países.
Por fim, temos de considerar como grande oportunidade o “Despertar Islâmico” na região e o fim dos governos ditatoriais no Norte da África, que sempre foram governos dependentes dos EUA e cúmplices do regime sionista. Podemos ajudar a aumentar a “produtividade política” do “Movimento dos Não Alinhados” na governança global. Podemos preparar um documento histórico, que vise a provocar mudança nessa governança e contribua como ferramenta de governo e administração. Podemos construir planos para efetiva cooperação econômica e definir paradigmas de relacionamento cultural entre nós. E criar um secretariado ativo e mobilizado para o “Movimento dos Não Alinhados” será ajuda significativa, importante para que se alcancem os outros objetivos.
Muito obrigado.”
FONTE: discurso proferido na abertura da 16ª. conferência do “MOVIMENTO DOS NÃO ALINHADOS” pelo Aiatolá Ali Khamenei, Líder Supremo da República Islâmica do Irã. Fornecido pelo “The Office of the Supreme Leader Sayyid Ali Khamenei”. Postado por Castor Filho no blog “Redecastorphoto (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/08/aiatola-ali-khamenei-discurso-de.html).
“Em nome de Alá, o Benéfico, o Generoso.
Todas as honras a Alá, Senhor dos Dois Mundos. Que a paz e todas as bênçãos desçam sobre o maior e mais confiável Mensageiro, todos seus descendentes, companheiros seletos e todos os seus profetas e enviados divinos.
Saúdo nossos honrados hóspedes, líderes e delegações representantes dos Estados membros do “Movimento dos Não Alinhados”, e todos demais participantes deste grande encontro internacional.
Reunimo-nos aqui para continuar um movimento, com a ajuda e a orientação de Deus, para dar-lhe nova vida e energia, consideradas as atuais condições e necessidades do mundo. O “Movimento dos Não Alinhados” foi fundado há quase 60 anos, graças à inteligência e à coragem de uns poucos líderes políticos atentos e responsáveis que sabiam das condições e circunstâncias de seu tempo.
Nossos hóspedes reuniram-se aqui, vindos de diferentes pontos geográficos, uns mais próximos, outros mais distantes, de diferentes nacionalidades e povos, com características ideológicas, culturais e históricas diferentes. Mas, como Ahmad Sukarno, um dos fundadores desse Movimento, disse na famosa “Conferência de Bandung” em 1955, o fundamento do “Movimento dos Não Alinhados” não é geográfico ou racial, nem a unidade de religião; o fundamento do “Movimento dos Não Alinhados” é a unidade de carências e necessidades. Naquele momento, os estados membros do “Movimento dos Não Alinhados” careciam de um elo que os protegesse contra as redes autoritárias, arrogantes e insaciáveis; hoje, com o progresso e a disseminação dos instrumentos de hegemonia, essa carência ainda existe.
Gostaria de destacar mais uma verdade. O Islã nos ensinou que, apesar das diferenças raciais, linguísticas e culturais, todos os seres humanos partilham a mesma natureza, que os encaminha na direção da pureza, da justiça, da generosidade, da compaixão e da cooperação. Essa natureza humana universal é que – quando consegue afastar-se com segurança das motivações enganosas – conduz os seres humanos na direção do monoteísmo e da compreensão da transcendente essência de Deus.
Essa luminosa verdade tem tal poder que serve como base para a fundação de sociedades livres e orgulhosas delas mesmas, e que, ao mesmo tempo, alcançam progresso e justiça para muitos. Ela permite que a luz da espiritualidade ilumine todos os projetos materiais da humanidade e, assim, permite que os homens criem para eles mesmos, sobre a Terra, paraísos de bem-estar, antecipação do paraíso que depois virá, prometido por muitas religiões. E é essa verdade comum e universal que pode oferecer os fundamentos da irmandade e da cooperação fraterna entre nações e povos que pouco ou nada tenham de semelhança entre eles, em termos de estruturas externas, passado histórico ou localização geográfica.
Sempre que a cooperação internacional for baseada nesse tipo de fundamento, os governos poderão construir relações entre eles, não baseadas no medo, nem construídas sob ameaças, ou por ganância, ou baseadas na disputa entre interesses unilaterais, ou que brotam da mediação de indivíduos traiçoeiros e venais, mas baseadas em interesses partilhados entre todos e – mais importante – que visam a atender a interesses de toda a humanidade. Assim, os governantes podem dar paz às próprias consciências despertas e alargadas e podem garantir paz também à consciência dos seus povos.
Essa ordem baseada em valores é o exato oposto da ordem baseada na força hegemônica, que tem sido ostentada, propagandeada e capitaneada pelas potências ocidentais nos últimos séculos; e pelo governo agressivo e autoritário dos EUA, hoje.
16ª. Conferência dos Países Não Alinhados - Teerã, 30/8/2012
Caros visitantes e hóspedes, hoje, passadas já quase seis décadas, os principais valores do “Movimento dos Não Alinhados” permanecem vivos e firmes: valores como o anticolonialismo, a independência econômica e política, o não alinhamento com blocos de poder, e, sempre crescentes e aprimoradas, solidariedade e cooperação entre os estados membros. As realidades do mundo contemporâneo não mostram fartura desses valores. Mas o desejo coletivo manifestado, somado a esforços amplos e firmes para mudar as realidades de hoje e realizar aqueles valores, embora carregados de desafios, são promissores e recompensadores.
No passado recente, assistimos ao fracasso das políticas da era da Guerra Fria e ao unilateralismo que se seguiu àquelas políticas. Aprendidas as lições dessa experiência histórica, o mundo está em transição para uma nova ordem internacional. E o “Movimento dos Não Alinhados” pode, aí, desempenhar um novo papel. A nova ordem terá de ser baseada na participação de todas as nações e em direitos iguais para todas. Como membros desse movimento, nossa solidariedade é necessidade óbvia no atual momento, para estabelecer essa nova ordem.
Felizmente, a visão geral dos desenvolvimentos globais promete um sistema multifacetado, no qual os tradicionais blocos de poder são substituídos por grupos de países, culturas e civilizações de diferentes origens econômicas, sociais e políticas. Os importantes eventos cuja ocorrência testemunhamos nas últimas três décadas mostram claramente que a emergência de novas potências coincidiu com o declínio das velhas potências. Essa gradual transição de poder oferece aos países não alinhados importante ocasião para desempenhar papel significativo no palco mundial e para preparar o terreno para nova governança global, justa e realmente participativa.
Apesar das muitas perspectivas e orientações, nós, Estados membros desse “Movimento de Não Alinhados”, conseguimos preservar por muito tempo nossa solidariedade e os laços que nos ligam no quadro de nossos valores partilhados. Não é realização pequena ou desimportante. Esses laços e nossa solidariedade podem preparar o terreno para a transição para uma nova ordem humana e justa.
As atuais condições globais oferecem ao “Movimento dos Não Alinhados” oportunidade que talvez não volte a aparecer. Nosso pensamento é que a sala de controle do mundo não deve ser administrada pelo desejo de poder ditatorial com que a administram os interesses e desejos de uns poucos países ocidentais.
Tem de ser possível estabelecer e preservar um sistema participativo de administração dos assuntos internacionais que seja global e democrático. É o que querem e do que carecem todos os países que, direta ou indiretamente, foram agredidos por ações de países tão hegemônicos quanto violentos e agressivos.
A estrutura e os mecanismos do Conselho de Segurança da ONU são hoje ilógicos, injustos e absolutamente não-democráticos. Vê-se ali flagrante modalidade de ditadura, antiquada e obsoleta, cujo prazo de validade já se esgotou. Mediante repetido abuso daqueles mecanismos impróprios, os EUA e seus cúmplices têm conseguido mascarar seus atos de injustificável agressão, travestindo-os com conceitos “nobres” e impondo-os à força, ao mundo. Aqueles mecanismos preservam os interesses do ocidente, apresentando-os como se implicassem “direitos humanos”. Os EUA interferem militarmente em outros países, mascarando a intervenção em nome de alguma “democracia”. Atacam populações indefesas em vilas e cidades, bombardeando inocentes, como se isso fosse “combater o terrorismo”. Da perspectiva dos EUA, a humanidade divide-se em cidadãos de primeira e de segunda classe.
A vida humana na Ásia, África e América Latina vale nada; só é valiosa e cara nos EUA e na Europa Ocidental. A segurança de EUA e Europa é artigo importante; a segurança do resto da humanidade vale nada. Tortura e assassinato são permitidos e absolutamente inatingíveis pela lei, se o torturador e o assassino é os EUA ou os sionistas ou algum de seus fantoches. Nada agita a consciência deles: mantêm prisões secretas em várias partes do mundo, em vários continentes, nos quais prisioneiros, aos quais se nega qualquer defesa ou advogado, nega-se até o direito de ser julgado em tribunal legal, vivem em condições abjetas, inadmissíveis. O bem e o mal são valores definidos seletivamente, viciosamente. Impõem seus próprios interesses a nações livres, como se alguma “lei internacional” existisse especialmente para legalizar o que é injusto. Impõe sua dominação e suas exigências, como se fossem exigência de alguma “comunidade internacional”. Usando sua própria rede de imprensa, comunicação e mídia, exclusiva e organizada, conseguem mascarar como verdade a falsidade e suas mentiras; a opressão que impõem, são apresentadas como esforços para promover alguma justiça. Ao mesmo tempo, apresentam como se fossem mentiras todas as declarações e informações verdadeiras que exponham a falsidade e a simulação; e chamam de “rogue” toda demanda legítima.
Amigos, essa situação daninha e viciosa não pode continuar. Todos se cansaram dessa estrutura internacional viciosa. O movimento dos 99% do povo contra os centros de riqueza e poder nos EUA, e os protestos populares que se alastram na Europa Ocidental contra as políticas econômicas dos respectivos governos mostram que o povo começa a perder a paciência. É necessário remediar essa situação irracional. Elos de conexão firmes, lógicos, abrangentes, entre os estados membros do “Movimento dos Não Alinhados”, podem ter importante função na ação de encontrar remédio.
Honrado público presente, a paz e a segurança internacional estão entre as questões cruciais do mundo contemporâneo; eliminar as catastróficas armas de destruição em massa é necessidade urgente e demanda universal. No mundo de hoje, a segurança é necessidade partilhada – e não há espaço para discriminação.
Ninguém, dos que mantêm armas anti-humanidade em seus arsenais, pode, de modo algum, declarar-se padrão exemplar de guardião da segurança global. Sequer são capazes de proteger a própria segurança e a segurança dos seus cidadãos.
Máxima infelicidade é ver que países que mantêm os maiores arsenais de bombas nucleares do planeta ainda não deram qualquer sinal de disposição genuína para desmontar esses arsenais e apagar essas armas anti-humanidade de suas doutrinas militares. De fato, aqueles países ainda consideram aquelas armas como instrumento útil para usar como ameaça – e como importante padrão que define a posição política e internacional, de força, dos países “atômicos”. É indispensável rejeitar e condenar completamente esse conjunto de ideias.
Armas nucleares nem garantem autoproteção e segurança, nem são fator que consolide algum poder político. Não passam de ameaças diretas tanto à segurança quanto a qualquer poder político. Os eventos dos anos 1990s mostraram que a posse de armas nucleares sequer conseguiu manter no poder um regime como o da antiga União Soviética. E hoje se veem alguns países expostos a trágicas ondas de mortal insegurança, apesar das suas bombas atômicas.
A República Islâmica do Irã define o uso de armas químicas e similares como pecado grave e imperdoável.
Propusemos a ideia do “Oriente Médio livre de armas nucleares” e continuamos comprometidos com ela. Não implica abrir mão de nosso direito de usar a energia atômica para finalidades pacíficas e para produzir combustível atômico. Em estrito respeito à legislação internacional, todos os países têm direito de usar energia nucelar para finalidades pacíficas. Todos os países devem poder empregar essa importante fonte de energia para várias finalidades vitais, em benefício do país e de seu povo, sem ter de depender de fornecedores para exercer esse direito.
Alguns países ocidentais os quais, eles mesmos, mantêm arsenais de bombas atômicas e são culpados, portanto, dessa prática ilegal, desejam monopolizar a produção de combustível nuclear. Movimentos clandestinos estão em processo hoje, para consolidar um monopólio permanente da produção e venda de combustível nuclear, em centros que têm autorização internacional, mas que, de fato, são controlados por uns poucos países ocidentais.
Amarga ironia de nosso tempo é que o governo dos EUA, que comanda o maior e mais mortal arsenal de bombas atômicas anti-humanidade e de outras armas de destruição em massa – e o único país, em toda a história do mundo, culpado de ter usado bombas atômicas em situação de guerra – tanto faça para aparecer como paladino da oposição à proliferação dessas armas.
Os EUA e seus aliados ocidentais armaram o regime sionista usurpador: deram armas atômicas àquele regime e, assim, criaram a maior e mais terrível ameaça que pesa hoje sobre toda essa região sensível. Mas os mesmos, cínicos, mentirosos, falsos, não admitem que países independentes usem a energia nuclear para finalidades pacíficas; de fato, opõem-se furiosamente, com toda sua força, à produção de combustível nuclear para emprego em equipamentos usados em pesquisa médica, farmacológica e outras finalidades pacíficas. Usam, como pretexto, o medo de que esses países venham a produzir armas atômicas.
No caso da República Islâmica do Irã, os próprios mentirosos sabem perfeitamente que mentem, mas as mentiras e os mentirosos são ‘autorizados’ pelo tipo de política que praticam, absolutamente carente de qualquer traço, mínimo que fosse, de espiritualidade. Estado, governo e governantes que fazem ameaças nucleares em pleno século 21, sem se envergonharem do que fazem e dizem... por que se envergonhariam de mentir ao mundo?
Reafirmo que a República Islâmica jamais buscou produzir armas nucleares. Reafirmo também que jamais desistimos ou desistiremos do direito, que é do povo do Irã, de usar energia nuclear para finalidades pacíficas. Nosso ‘motto’ é e sempre foi: “Energia nuclear para todos e armas nucleares para ninguém.”
Insistiremos sempre em cada um desses dois conceitos. Sabemos que quebrar o monopólio de alguns países ocidentais produtores de energia nuclear – nos termos definidos pelo “Tratado de Não Proliferação” – é tarefa que interessa a todos os países independentes inclusive aos membros do “Movimento dos Não Alinhados”.
A bem-sucedida experiência da República Islâmica, na resistência contra a agressão e as pressões dos EUA e seus cúmplices, já nos convenceu firmemente de que a resistência de nação decidida a resistir pode vencer todas as hostilidades, provocações e desamizades, e abrir caminho para que os resistentes alcancem seus mais altos objetivos. Os amplos avanços que o Irã obteve nos últimos 20 anos são fatos bem conhecidos de muitos e repetidamente atestados por observadores internacionais oficiais. Tudo o que fizemos aconteceu sob sanções e pressões econômicas, e contra intensivas campanhas de propaganda, de que são meios e agentes as redes de imprensa, comunicação e notícias apadrinhadas pelo sionismo e pelos EUA.
As sanções, definidas como “debilitantes”, quando não como “paralisantes” por comentaristas néscios, não só não nos paralisaram como, ao contrário, nos obrigaram a dar passos mais firmes, a firmar nossa vontade, e aprofundaram nossa convicção de que nossas análises são corretas e que o Irã é mais forte do que supõem os inimigos. Tantos de nós viram, com os próprios olhos, o quanto Deus nos ajuda sempre, para superar esses desafios!
Honrados hóspedes, considero necessário falar aqui sobre importante questão que, embora seja questão dessa nossa região, tem dimensões que avançam muito além dos nossos limites e influenciam políticas globais há, já, várias décadas. Refiro à gravíssima questão da Palestina.
Em versão resumida, começou por um terrível complô ocidental, dirigido pela Inglaterra nos anos 1940s. Um país independente, com clara e conhecida identidade histórica, chamado “Palestina”, foi roubado do povo que ali vivia e, mediante invasão, guerra, matança, massacres, foi entregue a um grupo de pessoas das quais a maioria eram imigrantes de países europeus.
Essa quase inacreditável usurpação – que, nos primeiros anos, foi acompanhada de massacres de aldeãos que viviam indefesos em cidades e vilas palestinas, e que foram ou assassinados ou expulsos de suas casas e cidades e vilas e terras e empurrados para países vizinhos, como párias – continuou por mais de 60 anos; praticamente os mesmos crimes repetem-se até hoje. Essa é uma das questões mais importantes a exigir ação firme de toda a comunidade humana.
Durante todos esses anos, líderes políticos e militares do regime sionista ocupante não negaram a prática de seus crimes: assassinatos, destruição de casas e propriedades, prisão e tortura de homens, mulheres e até de crianças, humilhação e insultos contra a nação palestina, tentativas que o regime sionista sempre fez, na intenção de destruí-la, atacando até os campos de refugiados palestinos em países vizinhos, nos quais vivem milhões de palestinos. Os nomes de Sabra e Shatila, Qana e Deir Yasin estão gravados fundo na história de nossa região, marcados pelo sangue do povo oprimido da Palestina.
Mesmo hoje, 65 anos depois, o mesmo tipo de crimes marca o tratamento que recebem os Palestinos que restam nos territórios ocupados pelos ferozes lobos sionistas. Cometem crime após crime, e criam novas crises para toda a região. Raramente se passa um dia sem notícias de assassinatos, ferimentos, prisão de jovens que avançam para defender a própria terra e a própria honra e protestam contra a destruição de suas casas e pomares.
E o regime sionista, que ainda não foi punido por seus crimes e causa conflitos, há décadas, e faz guerras desastrosas, mata, ocupa territórios árabes e organiza o estado de terror na região e no mundo... é ele, o próprio regime sionista, quem rotula de “terroristas” o povo palestino que, ainda e sempre, defende os próprios direitos usurpados. E as redes de imprensa, comunicações e mídia, que são propriedade do sionismo, muitos dos veículos da mercenária imprensa-empresa ocidental só fazem repetir a grande mentira que os sionistas inventam e divulgam; e violam, assim valores éticos e morais sem consideração aos quais o compromisso jornalístico nada é. E líderes políticos que se dizem defensores de direitos humanos, mantêm os olhos fechados para os crimes dos sionistas e apoiam esse regime criminoso e, desavergonhadamente, assumem o papel de defensores dos sionistas.
Nossa posição é que a Palestina pertence aos palestinos e que a ocupação continuada é injustiça enorme e intolerável, além de grave ameaça à paz e à segurança globais. Todas as soluções sugeridas e adotadas pelos ocidentais e aliados para “resolver o problema da Palestina” deram em nada, e continuarão a dar em nada também para o futuro.
Oferecemos proposta para solução justa e inteiramente democrática. Todos os palestinos – os atuais cidadãos e os que foram forçados a emigrar, mas preservaram a identidade palestina, inclusive muçulmanos, cristãos e judeus – devem votar num referendum cuidadosamente organizado e supervisionado para ser plenamente transparente e confiável, mediante o qual escolherão o sistema político que desejam para seu país; e todos os palestinos que há anos padecem os sofrimentos do exílio devem voltar ao país para também votar nesse referendum; isso feito, os palestinos redigirão uma Constituição; e, então, haverá eleições. A paz estará, afinal, estabelecida.
Quero agora dar um bem-intencionado conselho aos políticos dos EUA que sempre aparecem para defender e apoiar o regime sionista. Até o presente, esse regime só criou incontáveis problemas também para vocês. Apresentou aos povos dessa região uma imagem de intolerância e ódio, que se agrega à própria imagem de vocês; mostra-os ao mundo como cúmplices dos crimes de ocupação e usurpação praticados pelos sionistas. O custo material e moral que pesa sobre o governo e o povo dos EUA, pelo apoio que alguns políticos norte-americanos dão aos sionistas, é espantosamente alto, e muito mais alto ainda poderá ser no futuro.
Considerem, portanto, a proposta de um referendum palestino, que lhes foi encaminhada pela República Islâmica. Em seguida, em decisão corajosa, salvem-se vocês mesmos dessa situação impossível, sem saída, na qual se vêem, hoje, aliados ao regime sionista ocupante e usurpador. Não há dúvidas que o povo dessa região e os homens e mulheres de pensamento justo e livre em todo o mundo acolherão com satisfação a notícia.
Distintos hóspedes, gostaria agora de voltar ao meu ponto inicial. As condições globais são sensíveis; o mundo passa por conjuntura histórica crucial. Pode-se prever que logo nascerá uma nova ordem mundial. O “Movimento dos Não Alinhados”, no qual se incluem quase dois terços da comunidade mundial, pode desempenhar papel importante na modelagem desse futuro.
A realização desta grande conferência em Teerã é, por si mesma, evento importante, a ser levado em consideração. Ao unirmos nossos recursos e nossas competências e capacidades, os membros do “Movimento dos Não Alinhados” podemos criar novo e duradouro papel histórico, na direção de salvar o mundo da falta de segurança; dos perigos das guerras; e das ameaças da hegemonia.
Esse objetivo só é alcançável mediante a cooperação abrangente entre todos nós. Há entre nós alguns países muito ricos; há países que gozam de importante influência internacional. É absolutamente possível encontrar soluções para muitos problemas mediante cooperação econômica e no campo da informação, das comunicações e da mídia, e mediante a troca de experiências que nos ajudem a melhorar e avançar. Precisamos fortalecer nossa determinação Temos de nos manter fieis aos nossos objetivos.
Não temos o que temer das potências provocadoras e arrogantes, cada vez que nos fazem caretas e gritam, supondo que nos metem medo; nem temos de sorrir em resposta, cada vez que nos sorriem. Temos, para nosso apoio e suporte, o desejo de Deus e suas leis.
Temos muito a aprender do que se viu acontecer ao campo comunista, há duas décadas. E também temos a aprender do fracasso das políticas da assim chamada “democracia liberal ocidental” hoje. Os sinais do fracasso daquelas políticas são hoje bem visíveis nas ruas da Europa e dos EUA e nos problemas econômicos insolúveis nos quais se debatem aqueles países.
Por fim, temos de considerar como grande oportunidade o “Despertar Islâmico” na região e o fim dos governos ditatoriais no Norte da África, que sempre foram governos dependentes dos EUA e cúmplices do regime sionista. Podemos ajudar a aumentar a “produtividade política” do “Movimento dos Não Alinhados” na governança global. Podemos preparar um documento histórico, que vise a provocar mudança nessa governança e contribua como ferramenta de governo e administração. Podemos construir planos para efetiva cooperação econômica e definir paradigmas de relacionamento cultural entre nós. E criar um secretariado ativo e mobilizado para o “Movimento dos Não Alinhados” será ajuda significativa, importante para que se alcancem os outros objetivos.
Muito obrigado.”
FONTE: discurso proferido na abertura da 16ª. conferência do “MOVIMENTO DOS NÃO ALINHADOS” pelo Aiatolá Ali Khamenei, Líder Supremo da República Islâmica do Irã. Fornecido pelo “The Office of the Supreme Leader Sayyid Ali Khamenei”. Postado por Castor Filho no blog “Redecastorphoto (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/08/aiatola-ali-khamenei-discurso-de.html).
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