Por Miguel do
Rosário
“Em seu artigo de domingo, publicado no ‘Globo’ e
no ‘Estadão’, Fernando Henrique Cardoso dá mostras mais uma vez de seu talento
incomparável para textos adiposos, enfadonhos e convenientes aos interesses
norte-americanos. Só mesmo um blogueiro político para se aventurar nesse mar de
colesterol entreguista. FHC ainda é o principal “mentor” da oposição e, por
isso, temos a dolorosa obrigação de acompanhar seus textos.
Ele aponta seu dedo
pernóstico e gorduroso para todos os problemas brasileiros, mas não aborda nada
em profundidade.
Por outro lado, seus
artigos têm uma utilidade sim: eles são como que um resumo de tudo que a mídia
falou e pensou e defendeu nas últimas duas semanas, além de sinalizar as
últimas tendências do neoliberalismo tupi. Quando ele fala, por exemplo, que “fingimos não ver que o arco do
pacífico é um contrapeso à inércia brasileira“, FHC sintetiza uma
ideia: esqueçamos esses pruridos de soberania e independência; entreguemos
nosso destino aos patrões do norte.
FHC também resume
seu pensamento sobre os juros:
“Antes os governistas se
gabavam da baixa de juros (“Ah, esses tucanos, sempre de mãos dadas com os
juros altos!”, diziam. De repente, é o governo do PT que comanda nova arrancada
dos juros. E nem assim aprendem que não é a vontade do governante que dita
regras nos juros, mas muitas vontades contraditórias que se digladiam no
mercado”.
Novamente, o
ex-presidente confunde a bolas. Estamos criticando, sim, pesadamente, o governo
Dilma pela alta nos juros, mas o que FHC faz aqui é, ao atribuir a decisão ao
“mercado”, defender mais uma vez a entrega da nossa soberania econômica às
forças alienígenas aos interesses nacionais. E, só para refrescar a memória,
fiz um gráfico com a evolução dos juros dos últimos anos. Dilma, apesar dos
tropeços do Banco Central dos últimos meses, ainda pode se gabar de ter baixado
os juros. Seu governo, até aqui, ofereceu aos brasileiros os menores juros de
sua história. Sem falar na pressão que ela fez para a queda também dos spreads
bancários, um fator fundamental, visto que o juro real ao consumidor é uma soma
do juro básico do Banco Central (taxa SELIC) com o 'spread' de cada banco.
Por compaixão aos
leitores (e a mim mesmo), agora me limitarei a comentar e analisar a primeira
frase do texto.
“Não é preciso muita
imaginação, nem entrar em pormenores, para nos darmos conta de que atravessamos
uma fase difícil no Brasil.”
Talvez seja
implicância minha, mas, em minha opinião, nunca vi um início de texto tão ruim.
Já é vulgar começar um texto com “não é preciso”, mas tudo bem. Entretanto,
abrir um texto com uma chamada à falta de imaginação do leitor, me parece de um
mau gosto atroz.
Em seguida, fala que
não precisa entrar em pormenores. Ou seja, não há necessidade de apresentar
dados, contrapontos, argumentos lógicos. É uma postura vergonhosa para alguém
que se pretende acadêmico e cientista social. É claro que é preciso entrar em
“pormenores”!
É como se ele
dissesse aos leitores: “Prezados
leitores, mesmo sendo burros, ou antes, justamente por serem burros e
manipulados, vocês entenderão as baboseiras que vou dizer; não preciso entrar
em detalhes, porque vocês são trouxas e vão acreditar em qualquer coisa”.
Quanto à “fase
difícil” vivida pelo Brasil, aí se trata de uma platitude. Não quer dizer nada.
Desde que Cabral aportou por aqui vivemos uma “fase difícil”. Uma das mais angustiantes,
por exemplo, foi a era tucana, e o leitor de boa memória sabe muito bem do que
estou falando: juros alucinantes,
recessão, desemprego, alienação de estatais estratégicas, subserviência
internacional, ausência de programas sociais relevantes, esperança zero no
futuro.
E vai mais um
gráfico que preparei especialmente para ilustrarmos “a dificuldade que vivemos”:
Bem, talvez a fase
difícil mencionada pelo tucano seja a dele mesmo, agora que suas maracutaias
estão expostas no excelente livro de Palmério Dória, intitulado ‘O Príncipe da
Privataria’…”
FONTE:
escrito por Miguel do Rosário em seu blog “Tijolaço” (http://tijolaco.com.br/index.php/a-franqueza-adiposa-de-fernando-henrique/).
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