Li hoje no site “vermelho” o seguinte texto e entrevista do jornal gaucho “Zero Hora”:
''É absurdo comparar a queda num trimestre no Brasil com a queda anual de outros países. É inequívoco que estamos em melhores condições e que o governo é solução. No passado, o governo sempre fazia parte do problema, porque vinha a crise e, no dia seguinte, o governo quebrava'', argumenta a ministra Dilma Rousseff em entrevista a Carolina Bahia e Klécio publicada nesta quinta-feira (19) pelo Zero Hora. Veja a íntegra, inclusive a abertura em que o jornal atribui a Dilma um ''ato falho'' por dizer que ''ainda'' não está em campanha.
Dilma Rousseff faz jus à fama de impaciente. Diante da dificuldade encontrada por uma assessora para abrir as cortinas do gabinete, a ministra-chefe da Casa Civil não hesita.
Puxa, ela mesma, a corda das persianas verticais, permitindo a entrada da luz necessária às fotografias. Em pé, corpo retilíneo e com os olhos mirando a câmera, a escolhida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para disputar a Presidência em 2010 interrompe o espocar dos flashes com uma súbita curiosidade sobre a sucessão ao Piratini.
''Quem vocês acham que vai ser o candidato do PMDB ao governo do Estado?'', perguntou a ministra, que conversava com Zero Hora no 4º andar do Palácio do Planalto.
Passava das 13h30min de ontem e a ministra nem sequer havia encostado na xícara de café que esfriava sobre a ampla mesa oval da sala de reuniões da Casa Civil. Loquaz, respondeu com didatismo as perguntas sobre os efeitos da crise financeira na economia do país e as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Negou com veemência que seja pré-candidata ao Planalto, mas demonstrou um acentuado interesse nas articulações eleitorais. Dilma acha que o candidato do PMDB ao Piratini será o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, evita opinar sobre a turbulência política do governo Yeda Crusius e não considera o ex-governador Olívio Dutra fora da disputa.
''Isso (a desistência de Olívio) não está definido completamente'', pontua a ministra, prometendo telefonar para Olívio nos próxima dias.
É com retração calculada que Dilma faz comentários políticos. Impecável vestindo uma blusa de seda com decote traspassado e calça preta, o pescoço adornado por um colar de pérolas, a ministra se esforça para deixar claro que o governo não está antecipando a sucessão presidencial. Atribuiu à oposição, que a acusa de percorrer o país em campanha, a intenção de paralisar o governo. Mas comete um ato falho ao negar o caráter eleitoreiro de sua atribulada agenda.
''Não me sinto pré-candidata porque eu não estou ainda em campanha'', despista, sem notar que o “ainda” soa como confissão de que aceitou a incumbência do presidente Lula.
Enquanto fala, Dilma ajeita o cabelo com insistência e mantém o movimento frenético das mãos. Sua empolgação com o PAC tonifica os trejeitos. À frente de um ambicioso plano de habitação, anuncia casas populares a um valor simbólico para quem ganha até dois salários mínimos (R$ 930). Assegura que haverá crescimento econômico em 2009, prevê uma taxa de juros de um dígito até o final do ano e professa uma tese sobre a crise internacional que deverá guiar sua campanha em 2010.
''O GOVERNO É SOLUÇÃO, NÃO É PROBLEMA''.
Só o que não tem solução para Dilma é a exposição a que está sendo submetida. Resignada, revela que até o labrador Nêgo, presente do ex-ministro José Dirceu e seu companheiro de caminhadas matinais pela Península dos Ministros, tem se sentido estressado pela perseguição dos fotógrafos. Vaidosa, a ministra recorreu a uma cirurgia plástica que lhe rejuvenesceu as feições no início do ano, pratica musculação e evita carboidratos. Não esconde a irritação, porém, quando supostas relações íntimas são motivo de especulação na imprensa.
''É engraçado. Parece que os homens não têm vida amorosa'', reclama, assegurando que não teve nenhum namorado nos últimos meses.
ZERO HORA – Como a senhora encontra tempo para gerenciar o PAC, supervisionar a área energética, administrar a burocracia da máquina federal e ainda viajar pelo país?
DILMA ROUSSEFF – Sempre foi assim. De 2007 para cá, a partir do PAC, nós viajamos pelos 27 Estados. Em alguns estivemos mais de uma vez.
ZH – Mas antes essas viagens não tinham tanta visibilidade. É a sua candidatura à Presidência que chama mais a atenção?
DILMA – Não. Há um tratamento meio desequilibrado a respeito do governo. Nós governamos o país e não uma só região. Temos obrigação de estar em todos os lugares do país. Há uma tentativa da oposição de barrar o exercício de governar. Estamos fazendo obras porque temos consciência de que o PAC pode funcionar como um grande instrumento de combate à crise.
ZH – A senhora diz que a oposição quer impedir o governo de governar. Mas essa superexposição está cada vez mais atrelada à candidatura. Como a senhora vê isso?
DILMA – A minha superexposição estará atrelada ao fato de que atualmente estamos colhendo o que plantamos. São as obras que estão em andamento no governo. É um momento de exposição do governo. Para nós, não interessa fazer campanha eleitoral antes do ano que vem, independentemente de quem seja o candidato.
ZH – A senhora já se considera uma pré-candidata?
DILMA – Não me sinto pré-candidata porque eu não estou ainda em campanha. O governo não está fazendo campanha. O que a oposição quer é que não façamos atos de governo, porque nós temos uma política de enfrentamento da crise. Sabemos que a crise não começou no Brasil e não se deve à fragilidade do país. Pelo contrário. No auge da crise, em 2008, ela nos pega com emprego, PIB, salário e todas as grandes variáveis econômicas crescendo.
ZH – A queda no PIB no último trimestre do ano passado surpreendeu?
DILMA – Nós estávamos crescendo a 6,8% até o terceiro trimestre do ano passado. Tivemos uma queda no quarto trimestre, mas é absurdo comparar a queda num trimestre no Brasil com a queda anual de outros países. É inequívoco que estamos em melhores condições e que o governo é solução. No passado, o governo sempre fazia parte do problema, porque vinha a crise e, no dia seguinte, o governo quebrava. Hoje temos espaço fiscal, monetário e uma grande oportunidade de fazer a redução dos juros da economia sem comprometer a estabilidade. Estamos buscando um crescimento positivo.
ZH – A Selic chega a um dígito até o final do ano?
DILMA – Esperamos que sim. Mas o tamanho e o timing é uma questão que afeta ao Banco Central. Acredito que se a gente for seguir a expectativa de mercado, sem dúvida chega a um dígito. É o que está sendo desenhado e tem margem para acontecer.
ZH – Alguns especialistas falam em PIB perto de 1%. A senhora não arrisca?
DILMA – Tem cardápio para todos os gostos. Mas temos condições de sustentar crescimento produtivo mais forte no segundo semestre, neutralizando o efeito do último trimestre. Sabemos que houve excesso de medo no Brasil. O pessoal se antecipou e fez férias coletivas e demissões.
ZH – A crise não torna ainda mais difícil o cumprimento das metas do PAC, principalmente com os parceiros da iniciativa privada se retraindo?
DILMA – Por parte do governo, não. O PAC é um dos requisitos para que a gente possa sair melhor da crise. Os parceiros inclusive têm no PAC uma grande oportunidade, com pagamento garantido. O que torna o PAC um fator antirrecessivo é a ampliação de oportunidades de investimento para o setor privado. Nós pagamos em dia e garantimos o financiamento.
ZH – O presidente Lula não adianta o debate eleitoral para 2010 quando apresenta a senhora como candidata em seus discursos?
DILMA – Não conheço essa apresentação. Vocês me mostram onde ele diz isso. O presidente Lula jamais fez isso.
ZH – Ele diz “ela é minha preferida, ela é uma boa gestora” .
DILMA – Eu não posso assumir como sendo do presidente as especulações da imprensa. Isso se torna uma situação difícil. O que o presidente tem dito é que sou uma boa gestora e a mãe do PAC. O resto é especulação. A nossa prioridade é governar.
ZH – Incomoda, por exemplo, ir à missa do padre Marcelo Rossi e as pessoas atribuírem isso a uma possível campanha?
DILMA – Ele me convidou. Eu não sou crente, não tenho nenhum terço bizantino na mão. Mas acho muito bonito.
ZH – Quando as medidas do plano habitacional serão anunciadas? Há recursos para fazer um milhão de casas em dois anos?
DILMA – Até o final de março ele sai. Vai ser um mix de crédito e subsídio. Não posso dizer o valor do programa ainda, mas não faltarão recursos. Já negociamos com todas as empresas umas cinco vezes para avaliar nossas condições de fazer um milhão de casas. Chamamos todos os governadores, prefeitos, movimentos sociais.
ZH – Vocês vão implantar projeto-piloto em alguma região?
DILMA – Não. O centro do programa são as empresas aprovadas. Os Estados e municípios vão participar também. Nós estamos pedindo aos Estados e municípios que puderem que contribuam com áreas e com a exoneração do ICMS e ISS.
ZH – A classe média também será beneficiada?
DILMA – O programa contempla famílias que ganham até 10 salários mínimos (R$ 4.650). O resto, o mercado faz. Uma pessoa com dois salários mínimos não consegue pagar uma casa. Quem ganha entre três e seis salários, nós vamos dar financiamento subsidiado. De seis a 10, nós vamos dar estímulo, reduzindo seguro de vida e criando fundo garantidor
ZH – Como a senhora reage à declaração do senador Fernando Collor, que disse que vai fiscalizar as obras do PAC?
DILMA – Ele é presidente da Comissão de Infraestrutura e eu vejo como normal essa fiscalização. Ele representa, nesse caso, o Legislativo. E, pela Constituição, ele tem todo o direito de fiscalizar.
ZH – Para o governo, o melhor não teria sido a eleição da senadora Ideli Salvatti (PT-SC) para a comissão?
DILMA – Não cabe ao governo ficar falando o que o Senado deve ou não deve fazer. Não estou preocupada nem um pouco. Nós temos de respeitar a autonomia dos poderes.
ZH – Como a senhora está vendo esse momento do PMDB, essas denúncias de corrupção?
DILMA – Eu acho que o PMDB é um partido importante no cenário nacional. Quem tem experiência política e jornalística deve saber que corrupção não é monopólio de ninguém. A necessidade de uma reforma política é algo institucional. Não existe ninguém acima de qualquer suspeita. Todos nós temos que ser fiscalizados. Eu não acho que se resolve um problema fazendo a estigmatização de ninguém, nem dizendo que uma instituição é pior do que a outra.
ZH – A senhora ainda considera que o PMDB é o parceiro ideal para a manutenção desse governo a partir de 2010?
DILMA – O PMDB é fundamental para a governabilidade do país. Ele é um dos grandes partidos, é um partido centro, que tem uma grande trajetória de lutas democráticas importantes. Acho que essa aliança entre todos os partidos que integram a base, formam uma aliança fundamental. Um país com a nossa diversidade e complexidade não pode ser dirigido por uma única força política.
ZH – O apetite do PMDB por cargos não está afastando esses outros aliados? Alguns partidos falam em lançar o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) à eleição de 2010.
DILMA – Não acredito. Mesmo que haja lançamento de candidaturas, nenhum partido vai deixar de fazer aliança para governar o Brasil.
ZH – O PMDB é o vice dos sonhos?
DILMA – Não sei, acho que não é hora de discutir isso.
ZH – Tem muita gente querendo ser o Dilmo da Dilma?
DILMA – Isso é uma brincadeira do Geddel (Vieira Lima, ministro da Integração Nacional ligado ao PMDB).
ZH – Como está a sua aceitação no PT? Há resistência de alguns setores?
DILMA – Ninguém é unanimidade. Tenho uma boa relação com o PT. Acho o partido muito tranquilo no que se refere à discussão com o governo, à participação conosco. Tenho tido uma convivência bastante estreita com a legenda.
ZH – Para as eleições de 2010, a senhora acha importante que o presidente continue ditando o rumo das candidaturas?
DILMA – O governo não está discutindo palanque com ninguém.
ZH – Mas os partidos não estão?
DILMA – Não posso falar por eles.
ZH – Como a senhora analisa a retirada do ex-governador Olívio Dutra da sucessão ao Piratini?
DILMA – Não falei com ele ainda. O que Olívio decidir fazer acarretará, sem dúvida, impacto na eleição. Mas isso não está definido completamente.
ZH – A senhora está acompanhando a crise política e os escândalos no Estado?
DILMA – Não tenho acompanhado de perto para me manifestar. De qualquer maneira, é uma crise que ainda está sob investigação. Então temos que esperar o resultado para poder falar. Ou você se precipita e condena gente inocente, ou se precipita e inocenta gente culpada. Vamos deixar a investigação correr.
ZH – A senhora teria colocado em dúvida essa suposta bisbilhotagem atribuída ao delegado Protógenes Queiroz. A senhora ficou chateada com as informações de que sua vida íntima foi alvo de espionagem?
DILMA – Não é questão de ficar chateada. Neste caso, é visível um preconceito contra a mulher. Estou desconfiada de que homem não tem vida amorosa. O que me intrigou é o seguinte: eu não tive vida amorosa nesse período do grampo. Então o grampo não tinha base real. Acho que tem um problema sério de preconceito.
ZH – A senhora está preparada para enfrentar golpes baixos?
DILMA – Para ter golpe baixo, é preciso haver algo baixo.
ZH – A oposição aposta no pior?
DILMA – Segmentos dela sim, mas há segmentos lúcidos, que não fazem isso porque sabem que serão afetados.”
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