sábado, 1 de agosto de 2009

BRASIL VENCE OUTRA BATALHA

“Em meio à guerra contra o agravamento da pandemia de gripe suína, a vitória brasileira em um campo de batalha bastante específico merece comemoração. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) entregou ontem ao Ministério da Saúde 150 mil kits para tratamento da gripe A (H1N1) totalmente fabricados no Brasil. O remédio é feito a partir de fosfato de oseltamivir, mesmo princípio ativo do Tamiflu, medicamento que vem sendo usado no tratamento da doença. Nessa primeira leva, 5 mil kits serão encaminhados à Secretaria estadual de Saúde do Rio. O restante segue para outros estados. Mais que um marco científico, trata-se de um avanço econômico e social para o país.

O medicamento nacional ficou pronto um dia antes do previsto, e será transportado aos estados em caminhões contratados pelo Ministério da Saúde. De acordo com a Farmanguinhos (a unidade de medicamentos da Fiocruz), as 1,5 milhão de cápsulas foram desenvolvidas a partir de um estoque de 9 toneladas do princípio ativo compradas em 2006, por ocasião da gripe aviária. O produto não poderá ser comercializado – seu uso está restrito a hospitais e centros de tratamento. O ministério ainda não fez os cálculos da economia que será feita com a encomenda nacional, mas as cifras ficam em segundo plano diante do marco de independência frente aos laboratórios estrangeiros que o ato representa.

É bem verdade que o governo ainda aguarda a chegada de mais 800 mil kits de uma multinacional farmacêutica até o final de setembro. Mas o primeiro passo rumo ao antiviral 100% nacional foi dado, atestando uma vez mais o grau de excelência dos pesquisadores brasileiros. Trata-se de mais uma vitória na coleção de conquistas da Fiocruz.

Em fevereiro, o laboratório da fundação já havia conseguido produzir o medicamento genérico feito a partir do Efavirenz – uma das 17 drogas que compõem o coquetel anti-Aids. O feito só foi possível devido ao licenciamento compulsório do medicamento (uma autorização outorgada pelo Estado para que terceiros possam explorar a patente sem o consentimento do titular, desde que atendidos os requisitos legais). A media havia sido decretada pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, em maio de 2007, apesar da grita generalizada da indústria farmacêutica internacional.

No caso do antiviral Tamiflu, não foi necessária a quebra de patente. O governo brasileiro havia recebido um documento de licença voluntária do laboratório Roche, ainda à época do surto de gripe aviária, há três anos. Segundo o ministério, o princípio ativo guardado pode gerar nove milhões de tratamentos. Em caso de aumento significativo de casos da nova gripe, Farmanguinhos pode pedir apoio aos laboratórios da marinha, do Exército e da Aeronáutica, para a produção de mais kits. Desde o início da epidemia de gripe A (H1N1), o ministério distribuiu 70 mil tratamentos de Tamiflu pelo país. A luta contra a doença persiste – agora com o reforço de uma arma nacional.”

FONTE: texto publicado no Jornal do Brasil de 31/07/2009.

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