sábado, 15 de agosto de 2009

DIFERENÇA ENTRE ARTHUR VIRGÍLIO E SARNEY É O BIGODE

Do site Terra Magazine:

Salgado: Diferença de Virgílio e Sarney é o bigode

Reportagem de Marcela Rocha


"Mais atos secretos saem da caixinha de surpresas do Senado. Para o membro da Casa, Wellington Salgado (PMDB-MG), seu partido está mostrando que agora os senadores estão "todos com os mesmos problemas", "farinha do mesmo saco", acrescenta.

- José Sarney (PMDB-AP) e Arthur Virgílio (PSDB-AM) são irmãos xifópagos, aqueles que nascem com o mesmo corpo e duas cabeças. Embora tenham idades diferentes, são xifópagos. Se matar um mata os dois. O coração é um só: o da péssima administração do Senado. Irmãos xifópagos, só que um tem bigode e o outro não. (...) ou condena os dois, ou não condena nenhum. Se vão chamar isso de pizza ou de cassação geral, eu não sei.

Em junho, o Senado descobriu a existência de 663 atos secretos, número posteriormente reduzido para 511. Nesta quarta-feira última, foi divulgada a existência de mais 468 decisões semelhantes.

A Terra Magazine, o peemedebista explica como se dava o oferecimento dos cargos "secretos". Segundo ele, Agaciel Maia, ex-diretor geral do Senado, sabia das vagas ociosas e oferecia aos senadores, sem publicar o preenchimento depois.

- Isso só aconteceu de Antônio Carlos Magalhães pra frente. E isso é o que acabou com a administração do Senado.

Para ele, as acusações feitas ao Conselho de Ética da Casa, tanto contra Sarney, quanto contra Virgílio, são frutos da "péssima administração". E esta, fruto dos "poderes demais" dados a Agaciel. Salgado estima que entre 500 e 600 empregos tenham sido gerados no Senado por ato secreto. Sua sugestão é acionar o presidente da Casa para que "demita todos".

Veja a íntegra da entrevista:

Terra Magazine - Senador, o PMDB está sendo acusado de oportunismo pela nova divulgação dos atos secretos. O que o senhor acha disto?

Existia uma péssima administração do Senado.

Quando?

Sempre. O problema é que a administração do Senado é entregue a políticos.

Como assim?

Como os senadores são políticos, essas administrações foram entregues a políticos.

Ao longo da história, todos os administradores vieram administrando mal as situações e por administrarem mal, deram poderes a alguém como Agaciel Maia, por exemplo. Não vou julgar Agaciel, o que eu quero dizer é o seguinte: deram poderes pra ele, poderes demais.

O senhor acredita que os atos secretos são fruto disto, então?

O grande problema dos atos secretos será algo que o Sarney terá que resolver, tomar uma decisão quanto a isto. Quando se é senador, tem-se um determinado número de cargos para preencher, e é aquela história, pago o cara e ele trabalha no escritório em Belo Horizonte, por exemplo. Isto é normal.

Mas os atos secretos não dizem respeito somente às contratações dos gabinetes...

Então, o que aconteceu foi: da gestão do ACM para cá - e aí não se pode falar que é culpa do presidente da Casa por ter decidido pelas Mesas Diretoras dos partidos - começou a se criar cargos políticos na administração pública do Senado.

O senhor pode dar um exemplo?

Claro, cria-se cem cargos na gráfica, por exemplo. Mais 50 cargos na escola do Senado. O que aconteceu? Esses cargos passaram a ser preenchidos também por indicações políticas dos senadores. E o Agaciel, que foi diretor muito tempo, ao saber desses cargos disponíveis, ele começava a disponibilizar esses serviços para o senadores indicarem pessoas para colocar nos cargos. Essas pessoas não trabalhavam na administração pública.

Não?

Não, essas pessoas estavam registradas na gráfica, mas estavam trabalhando lá em Belo Horizonte, por exemplo. Isto criou uma desorganização tremenda na Casa.

Passou-se então a fazer em todo o Senado o que se fazia nos gabinetes?

Exatamente. Mas no gabinete do senador isto é possível, na administração pública do Senado não é possível.

Então, para o senhor, Agaciel fazia no Senado o mesmo que Arthur Virgílio fez no gabinete dele?

Exato. Mas, no gabinete pode fazer porque o senador é político e tem cargos políticos a serem preenchidos no local onde estão suas bases eleitorais. Só que Agaciel não fazia isto pra ele mesmo porque ele não era político. Como ele tinhas as informações dos cargos vagos, ele preenchia com indicações de senadores e para os outros senadores não ficarem sabendo ele fazia às escondidas, os atos secretos.

O que o senhor sugere?

Tem que acabar com esses cargos. Já devem ter entre 500 ou 600 cargos preenchidos dessa forma. Isso só aconteceu do ACM pra frente. E isto é o que acabou com a administração do Senado.

O que fazer?

O Sarney tem que acabar com esses cargos que não são concursados.

O senhor fala em demissão?

Ué, demitir oras. Sim, falo em demissão. Eles não trabalham naquilo que são contratados, mas são politicamente registrados. Só que isto significaria um desgaste político ao Sarney.

Senador, então não é um problema só administrativo...

Esses erros eram de origem administrativa. Se tivesse um ponto no Senado, o Arthur não teria mantido um funcionário na Espanha. É um erro administrativo. Sabe, aparece um ato secreto contra o Sarney, entram com denúncia e representação, mas que mais tem ato secreto na Casa é o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), se você calcular "atos secretos/dia", ele bate o recorde, entendeu?

O senhor disse em entrevista que "Virgílio não poderia exigir uma ética que nem ele mesmo conseguia cumprir". Alguém consegue, senador?

O que eu quis dizer é que a ética praticada pelo senado não é essa que o Arthur fala e que o Sérgio Guerra fala. A ética praticada era essa balbúrdia, essa desorganização total. Então não adianta vir fazer o discurso na tribuna e quando mostram que nem eles praticavam a ética que cobravam, dizem que é o PMDB que está denunciando, chantageando. O PMDB está mostrando que aqui todo mundo está com os mesmos problemas. Mas a casa já está melhorando.

Já?

É que de repente virou um caos político por causa de 2010. O maior erro do PSDB foi ter tornado a denúncia de Virgílio uma questão partidária, uma representação. Mas sou do PMDB e sei que o meu partido não ia ficar calado no momento que vira uma questão partidária. Uma nova ética está entrando no Senado e ela vem da sociedade.

Para aplicarmos essa nova ética precisamos lapidar e tratar com respeito o presidente da Casa, um homem histórico.

Falta respeito?

São os mesmos problemas entre todos os senadores. É tudo farinha do mesmo saco. Estão juntos os dois, são irmãos xifópagos.

Arthur e Sarney?

Sim, sim, irmãos xifópagos, aqueles que nascem com o mesmo corpo e duas cabeças.

Embora tenham idades diferentes são xifópagos, se matar um mata os dois, o coração é um só: o da péssima administração do Senado. Irmãos xifópagos, só que um tem bigode e o outro não.

Irmãos xifópagos...

Os erros cometidos são os mesmos, ou condena os dois, ou não condena nenhum. Se vão chamar isso de pizza ou de cassação geral, eu não sei".

FONTE: site "Terra Magazine" do jornalista Bob Fernandes, em 15/08/2009

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