sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A EMBRAER E O GATO


               “GATO ESCALDADO TEM MEDO DA ÁGUA FRIA”

Este blog vê com preocupação a notícia seguinte, aparentemente boa (sobre a divisão da EMBRAER em duas empresas). Ao final da postagem explico por que lanço o alerta:

EMBRAER DEVE FATURAR US$ 5,25 BILHÕES ESTE ANO, ESTIMA PRESIDENTE DA EMPRESA


“A Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) vai encerrar 2010 com uma receita de cerca de US$ 5,25 bilhões, resultado inferior ao do ano passado, mas acima da expectativa da empresa. O número foi anunciado (14 dez) pelo presidente da Embraer, Frederico Curado.

“O mercado internacional continua ainda com dificuldade. Então, a receita está um pouco menor. Mas o importante é que os resultados abaixo da receita, a produtividade, a rentabilidade e a geração de caixa, vêm se preservando mesmo nos anos de dificuldade”, disse. Segundo Curado, 2011 deve apresentar um pequeno crescimento em comparação a este ano, embora tenha preferido não citar números.

Para 2011, a Embraer aposta na criação de uma nova unidade, voltada para a área de defesa e segurança. “O Brasil hoje tem visão de longo prazo na área de defesa. A Estratégia Nacional de Defesa estabelece claramente o fortalecimento da indústria. Todos os países que têm uma indústria desenvolvida, como a Itália, Alemanha, França e Inglaterra, têm uma empresa forte por trás”, explicou.

Segundo Curado, a empresa pretende entrar nessa área não somente produzindo aviões, mas também no controle de voos, por exemplo. “As forças tecnológicas que a empresa dispõe hoje podem, com facilidade, migrar para outras aplicações que não especificamente avião”, disse.

De acordo com Luíz Carlos Aguiar, que será o presidente da Embraer Defesa e Segurança, a nova unidade deve começar a funcionar em janeiro, com previsão de faturamento de R$ 1,5 bilhão. Segundo ele, além da fabricação de aviões, a nova unidade também pode atuar no sistema de proteção de fronteiras do país, por exemplo. “Acho que a Embraer tem capacidade de gestão e de tecnologia para que consigamos fazer isso”.

FONTE: reportagem de Elaine Patricia Cruz publicada pela Agência Brasil (edição: Aécio Amado) (http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia1;jsessionid=544EE277027D4C69A01401157A90A296?p_p_id=56&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-1&p_p_col_count=1&_56_groupId=19523&_56_articleId=1121713)


GATO ESCALDADO TEM MEDO DA ÁGUA FRIA

OBSERVAÇÃO ADICIONAL DESTE BLOG:

Sobre o assunto, repito alerta que já publiquei na postagem de domingo, 12 de dezembro de 2010, intitulada “MALDADE (NOVAMENTE) NA DIVISÃO DA EMBRAER EM DUAS?“:

“ALERTA DESTE BLOG PARA O UFANISTA (?) ANÚNCIO: “EMBRAER CRIA UNIDADE PARA ÁREA MILITAR E JÁ PREVÊ RECEITA DE R$ 1,5 BI EM 2011”

Este blog vê com preocupação essa notícia aparentemente boa (sobre a divisão da EMBRAER em duas empresas).

Isso porque, nos anos 90, no governo FHC/PSDB/PFL-DEM, em situação semelhante, quase houve grave perda para o Brasil.

A EMBRAER, então já privatizada e controlada principalmente por braço do banco Bozano com sede em paraíso fiscal no Caribe (hoje, o Bozano é do banco espanhol Santander) também quis separar a parte civil (aviões regionais de passageiros) da parte militar. Na época, de militar, havia somente o difícil (por falta de recursos) final da produção do AMX.

Acidentalmente, veio a ser descoberto que a agenda oculta neoliberal nessa separação era facilitar o fechamento em São José dos Campos da produção de aviões regionais no Brasil e a sua reimplantação nos EUA. As justificativas eram “estar mais perto do principal cliente”, “diminuir custos logísticos” , “racionalização”, “melhor gestão empresarial” e outras desculpas bonitas. A empreitada seria em parceria com a sueca SAAB, que, na época, também produzia aviões turboélice para vôos regionais. A SAAB também instalaria sua linha de produção nos EUA, associada à EMBRAER.

Travestidos, enrolados na bandeira nacional, os controladores (banqueiros) da EMBRAER aqui fingiam ser brasileiros e nacionalistas, proclamando que, com a divisão que propunham, “a empresa nacional ganharia maior porte internacional” e que tiveram o cuidado patriótico de a parte militar permanecer no Brasil “por ser estratégica”, “indispensável braço industrial da FAB”, por haver “compromisso da empresa com a Defesa Nacional”. Tudo blá, blá, blá para enganar os ingênuos.

A realidade seria outra, diferente do enganoso cenário por eles propagandeado. O resultado seria a morte por inanição da parte aqui remanescente, do tal “braço militar estratégico”, nossa única indústria aeronáutica. Ele teria futuro de falência garantido naquele governo demotucano obcecado em reduzir ao mínimo o Estado Nacional e em também levar ao mínimo as nossas Forças Armadas. No governo e na mídia predominava o conceito de que, no “mundo moderno, com a globalização, Forças Armadas no Brasil para quê?”. Havia muito tempo, a empresa já não recebia novas encomendas de aviões para a FAB. Esta, coitada, por sua vez, quase nada podia voar, “canibalizava” os obsoletos aviões sobreviventes e obrigava-se a “meio expediente”. Não recebia recursos nem mesmo para a espartana alimentação de seus integrantes, dispensados para não almoçarem. Não era permitido um centavo sequer para novas aquisições de aeronaves na EMBRAER.

A dolosa divisão da empresa em militar e civil e a posterior transferência total da parte civil para os EUA foram tratadas com muita confidencialidade entre os controladores da empresa (especialmente pelo banco “Bozano Privatization”, com sede nas Bermudas, Caribe) e o então Ministério da Indústria e Comércio e a Presidência da República. Mas isso vazou e este blog veio a saber por leitor testemunha da trama. O que fez não dar certo aquela tramoia antinacional foi a coincidência feliz da desistência da parceira sueca SAAB de ir para os EUA.

Hoje, como trágica consequência dos vendavais neoliberais que destruíram o patrimônio público e grandes empresas brasileiras, a maioria quase absoluta dos controladores da EMBRAER é estrangeira. Praticamente, a totalidade das ações ordinárias da “empresa nacional” está em mãos estrangeiras e de seus "laranjas" nacionais contratados para "agir em nome e por conta" deles (o controlador banco Bozano publicamente se ofereceu para isso). Essas ações dão direito à propriedade e controle da empresa, além dos dividendos. Foram vendidas na Bolsa de Nova York. Em outras palavras, os proprietários e controladores da EMBRAER hoje são majoritariamente estrangeiros. Frente à essa realidade, a pseudoproteção da “golden share” e o limite de votos de estrangeiros nas Assembléias Gerais são restrições ridiculamente inócuas, facilmente contornáveis. São medidas de enfeite para acalmar e enganar os brasileiros incautos.

Portanto, hoje está ainda mais forte e presente o risco de decisões contrárias aos interesses nacionais.

Por isso, me preocupo ao ler a notícia sobre a divisão da EMBRAER, que parece boa, até ufanista, mas pode esconder, de novo, minúscula semente de estratégica ‘jogada’ danosa aos interesses brasileiros.

FONTE DA OBSERVAÇÃO ADICIONAL: texto publicado neste blog em 12 de dezembro   (http://democraciapolitica.blogspot.com/2010/12/maldade-na-divisao-da-embraer-em-duas.html).

Um comentário:

Marco Anunciação disse...

Devemos lembrar que no caso de sistemas para defesa de fronteira já temos o sistema SIVAM (aliás, por que ninguém mais fala nele?), onde a empresa ATECH desenvolveu e com sucesso, sistemas simples e de fácil operação.
Atentos ficaremos.