terça-feira, 7 de dezembro de 2010

PELA 1ª VEZ EM 20 ANOS, PARAGUAI LIDERA EXPANSÃO REGIONAL

IMPULSIONADO PELO ‘BOOM’ DA CONSTRUÇÃO CIVIL E PELA SUPERSAFRA, PAÍS DEVERÁ TER ALTA DE 10% DO PIB EM 2010

Empresas brasileiras como Camargo Corrêa, Petrobras e Itaú avançam pelo país vizinho em setores de infraestrutura e finanças

“Impulsionado pela supersafra e pelo boom da construção civil, o Paraguai deve registrar no ano crescimento de 10% do PIB (Produto Interno Bruto), o melhor índice estimado na América do Sul.

Terceira menor economia do subcontinente -à frente apenas da Guiana e do Suriname-, o país lidera a expansão regional pela primeira vez nas últimas duas décadas, depois de se retrair 3,8% no ano passado.

O resultado positivo de 2010 é explicado principalmente pelo clima favorável, que permitiu uma colheita recorde de soja, duas vezes maior que a do ano anterior, quando a seca castigou o campo.

A exportação de 65% da produção para a União Europeia e a Ásia garantiu a entrada de US$ 1,7 bilhão no país. O ano também foi generoso com a pecuária que pode expandir em quase 50% as vendas de carne bovina, sobretudo para o mercado chileno.

Os dólares captados pelo campo também chegaram a alguns setores industriais e de serviços, segundo os índices do Ministério da Fazenda. As vendas de material de construção, por exemplo, tiveram crescimento de 17% na comparação ano a ano.

"Assunção hoje é um canteiro de obras. O setor privado investe em residências e salas comerciais. E os projetos do governo só estão em ritmo lento porque falta material de construção", afirma Cléber Ceroni, diretor da fábrica de cimento que está sendo instalada pelo Grupo Camargo Corrêa nos arredores de Assunção.

Em parceria com investidores locais, a empresa brasileira quer suprir, a partir de 2012, a demanda crescente do país, que importa 20% do cimento que consome.

O sistema financeiro paraguaio também refletiu a expansão econômica. Os bancos emprestaram até setembro 46% mais do que no mesmo período de 2009.

Segundo o banco Itaú, que mantém 22 agências no país, o dinheiro foi destinado principalmente ao agronegócio, à construção civil e ao consumo. O banco brasileiro diz que tem planos "ambiciosos" para o Paraguai e pretende ampliar a rede no interior. "Aqui, tudo está por fazer e este é o melhor momento", afirma o CEO do banco no país, Claudio Yamaguti.

Já a Petrobras, que detém um quarto do mercado de combustível e lubrificantes, diz que vendeu um volume 16% maior neste ano, comparado a 2009.

O ministro da Fazenda, Dionisio Borda, comemora também um aumento nos investimentos e atribui a recuperação econômica à política fiscal anticíclica adotada no ano passado pelo governo do presidente Fernando Lugo, que aumentou os gastos públicos para reduzir o impacto da seca e da crise mundial.

DESIGUALDADE

O aumento das riquezas do país registrado neste ano, no entanto, não deve ter impacto significativo nos indicadores sociais, segundo o economista da Cepal Osvaldo Kacef. A baixa carga tributária -em torno de 12% do PIB- dificulta a implementação de políticas públicas.

"O crescimento não faz mais do que replicar a foto da distribuição da renda, que é extremamente desigual no Paraguai. A debilidade do Estado impossibilita também o crescimento em longo prazo, porque não há boa saúde e boa educação para formar recursos humanos necessários para o avanço", afirma.

O país é o penúltimo entre os sul-americanos, conforme o ranking de IDH divulgado pela ONU neste mês. Em torno de 18% vivem na miséria.

Para o consultor econômico Ricardo Silvero, o Estado paraguaio mantém uma estrutura tributária anacrônica, que estimula a evasão fiscal e beneficia o topo da pirâmide. Os paraguaios não pagam imposto de renda pessoal e a incidência sobre a atividade produtiva é baixa.

"Uma fazenda, não importa o tamanho, paga o equivalente a uma passagem de ônibus por ano de cada hectare. Com esse sistema, é impossível construirmos um Estado mais moderno e uma sociedade mais justa."

FONTE: reportagem de Gustavo Hennemann, de Buenos Aires, publicada na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me0612201009.htm).

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