sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O WIKILEAKS SERÁ O NOVO IRAQUE DA ERA DIGITAL?


Com advogados, o fundador do WikiLeaks Julian Assange fala a imprensa em frente a tribunal de Londres

Terra Magazine

Por Emerson Damasceno, de Fortaleza (CE)

“Nos últimos dias, a diplomacia dos EUA parece vir se equivocando reiteradamente no assunto Wikileaks. Proposital ou não, a conduta do Departamento de Defesa - que resolveu processar o Twitter a fim de obter provas relativas ao vazamento de informações pelo cablegate (divulgação de documentos secretos da diplomacia dos EUA por parte do site Wikileaks) -, produziu arestas até onde não se esperava. A ação movida pelo governo americano não somente pediu o acesso aos dados do Wikileaks e de outros possíveis acusados de vazamento de informações secretas, mas também aos seus mais de 630 mil seguidores no Twitter (e este Terra Magazine foi o primeiro portal a divulgar a informação aqui no Brasil), os quais, segundo informação dada pelo site de Julian Assange, e não confirmada ou negada pelos EUA, também teriam os seus IP's entregues ao governo americano pelo Twitter.

Na Islândia, onde uma congressista também já havia oferecido apoio público ao site de Julian Assange, a reação à divulgação de que a deputada Birgitta Jonsdottir seria uma das investigadas pelo governo do Tio Sam causou indignação até no primeiro ministro. No parlamento europeu, um influente grupo também exigiu que o governo de Barack Obama seja convidado a prestar informações da ação à União Européia, pois, segundo eles, a investigação de tais dados do Twitter fere várias leis internas no continente. O grupo, chamado de ‘Aliança de Democratas e Liberais para a Europa’, possui 85 membros e é o terceiro maior do Parlamento Europeu.

As declarações de Assange e seus advogados também miram no sentido de contrapor mais ainda a América ao resto do mundo, mormente à Europa. Nesta semana, quando compareceu a mais uma audiência na Inglaterra - onde cumpre prisão domiciliar -, referente ao processo de extradição movido pela Suécia por uma acusação de estupro (processo que sua defesa alega ter natureza política), o fundador do Wikileaks disse temer a pena de morte nos EUA, acusando o governo da Suécia de um possível complô com os EUA. Vale lembrar do fato de que o Wikileaks somente começou a ser bombardeado e ganhar mais atenção quando divulgou, ainda antes dos telegramas diplomáticos norte-americanos, vídeos e informações comprometedoras de ações militares no Iraque e Afeganistão.

Ao dar seguimento à iniciativa de atingir Assange, os apoiadores do Wikileaks e até os seguidores no Twitter (incluindo, por exemplo, um adolescente curioso nas Ilhas Maldivas), o governo dos EUA deu um sinal claro de que não deverá voltar atrás. A posição de Barack Obama deve ser ainda mais confusa. Se de um lado processar o Wikileaks e Assange poderá implicar em críticas internas (O ‘New York Times’ foi um dos jornais que publicou os documentos ligados ao Cablegate), poupá-lo seria também dar mais munição aos Republicanos que exigem a cabeça de Assange, principalmente quando o comparam a terroristas como Bin Laden. A justaposição de normas internas às normas internacionais, além de apimentar o caso também irá dar muito pano para a manga dos juristas dedicados ao Direito Internacional.

O que se pode esperar de todo esse embróglio, não se sabe ao certo. Mas caso o governo dos EUA assim prossiga, poderá encontrar mais resistência do que teve quando decidiu invadir o Iraque atrás das tão famosas armas de destruição em massa, nunca encontradas, aliás. É certo que Julian Assange e o famoso Wikileaks não tenham também nenhuma arma semelhante às mãos, mas a briga iniciada pelo Governo Obama põe um capítulo inicial numa nova era da diplomacia, é provável. Nela, o poder da informação revela-se mais potente do que qualquer outra munição conhecida. Países como a China, Cuba, Irã e Coréia do Norte não querem uma internet livre, é certo e indiscutível. Os dissidentes desses países e a blogueira Yoani Sánchez que o digam. Mas a maior democracia do mundo, entretanto, quando assume uma postura que parece se alinhar a tais países que controlam os meios de comunicação, causa uma certa surpresa, principalmente quando lembramos que foi nos Estados Unidos que ocorreu o Watergate, cujo sufixo agora se empresta ao Wikileaks e seu amargo cablegate.”

FONTE: escrito por Emerson Damasceno, advogado e poeta. Especialista e apaixonado por direito eletrônico, além do direito desportivo que o fez correr o mundo durante uma década. Blogueiro desde 2002, divide o tempo entre o trabalho, as mídias sociais e a 4social, sua última criação. Publicado no portal Terra Magazine, do jornalista Bob Fernandes (http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4886896-EI17490,00-O+Wikileaks+sera+o+novo+Iraque+da+Era+Digital.html).

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