sexta-feira, 18 de março de 2011

OBAMA NÃO É O CARA


Por Mair Pena Neto

“A eleição de Barack Obama foi importante para os Estados Unidos e para o mundo após a ressaca dos anos Bush e como contraponto a movimentos conservadores perigosos, estilo ‘Tea Party’, mas sua figura, por enquanto, é para consumo interno e não para discurso na Cinelândia.

Obama tem feito esforços louváveis, como ampliar a cobertura de saúde aos americanos, mas na política externa deixa a desejar. Durante sua campanha à presidência dos EUA, prometeu fechar a prisão de Guantánamo, em território cubano, e não só não cumpriu, como proibiu a transferência de suspeitos de terrorismo presos lá [sem amparo da Justiça] para julgamento nos EUA. Centenas de pessoas continuam presas em Guantánamo sem acusação formal, sem acesso a advogados e a julgamento.

O seu governo foi uma barreira na tentativa de resolução da questão nuclear iraniana, promovida pelo Brasil e pela Turquia, e pressionou constantemente o Brasil a condenar o Irã na ONU, enquanto não levantava uma objeção sequer aos governos [de Israel], da Tunísia, Egito, Líbia ou Bahrein, só para citar os mais convulsionados recentemente por revoltas populares contra dominações despóticas. Obama manteve o mesmo critério seletivo sempre adotado pelos EUA para suas condenações a outros governos.

Na relação comercial, os produtos brasileiros são altamente taxados, enquanto os EUA subsidiam sua produção agrícola de forma lesiva à concorrência internacional. Não raro é preciso ir à Organização Mundial de Comércio, onde o Brasil obteve condenações importantes à política protecionista dos EUA.

O que justifica, então, um discurso público de Obama no Rio, em plena Cinelândia, palco de grandes manifestações políticas de nossa história? Nada, além do interesse norte-americano de vender mais produtos ao Brasil e mostrar que dá alguma importância ao país e à América Latina, além da Quarta Frota que nos ameaça.

Para atrair público, haverá show musical, e “espelhinhos” já estão sendo distribuídos aos “índios”, como iPads ofertados pela embaixada dos EUA. É tudo jogo de cena, com o deslumbramento da mídia tupiniquim, que aproveita para reforçar seu discurso do que seria uma mudança de orientação da política externa brasileira com a substituição de Lula por Dilma.

Nos últimos anos, o Brasil passou a ter política externa soberana, que elevou sua importância no cenário internacional e incomodou os Estados Unidos. As questões que realmente importam entre Brasil e EUA serão debatidas por seus diplomatas. Obama não tem nada a dizer ao povo brasileiro. Seria bom que a UNE e outros setores organizados aproveitassem a irreverência do Carnaval recém-encerrado para protestos bem humorados. Afinal, a praça ainda é do povo, apesar do forte esquema de segurança que está sendo montado na Cinelândia.”

FONTE: escrito por Mair Pena Neto, jornalista carioca. Trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil, Agência Estado e Agência Reuters. No JB foi editor de política e repórter especial de economia. Publicado no site “Direto da Redação” (http://www.diretodaredacao.com/noticia/obama-nao-e-o-cara) [trechos entre colchetes adicionados por este blog].

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