Pás para turbinas feitas pela TECSIS chegam a Olimpia, Washinghton, EUA
TECNOLOGIA BRASILEIRA NÃO É MOINHO DE VENTO
Por Brizola Neto
“Exceto pelo ‘Estadão’, que publicou uma boa matéria, quase não teve destaque nos jornais um negócio de extrema importância: o acordo que vai permitir a sobrevivência de uma empresa brasileira com tecnologia de ponta, numa área estratégica para o Brasil e para o mundo: a energia eólica.
É mercado que está crescendo de forma gigantesca no Brasil. O Brasil possui 44 parques eólicos em operação, todos construídos com incentivos do Programa de Infraestrutura (PROINFRA).
Segundo a ‘Carta Capital’, “apesar do grande potencial dos ventos que sopram por aqui, os turboélices geram apenas 0,5% da energia produzida no País. A expectativa é de que esse cenário mude daqui para frente. Nos últimos dois anos, o governo federal contratou a construção de 141 novos empreendimentos, que serão entregues entre 2012 e 2013″.
O potencial brasileiro está atraindo grandes empresas, e não pratico a xenofobia de não dizer que são bem-vindas, se vêm para gerar energia limpa, pouco agressiva –agressivo, sempre é– ao meio ambiente.
Mas há duas questões importantes a considerar.
Uma, a de que esse mercado tem, necessariamente, de estar articulado com a política energética nacional e com a geração hídrica que é a base de nossa matriz de energia elétrica. Por quê? Porque a geração eólica não permite armazenar energia, como fazem as barragens das hidrelétricas, e seu fornecimento apresenta oscilações. Bom para nós é que, especialmente no Nordeste, o regime de ventos mais intensos coincide com o período de seca que baixa o nível –e a capacidade geradora– das usinas hidrelétricas.
A segunda é de que não podemos deixar de dominar, aqui, essa tecnologia. E é aí que entra a importância da TECSIS, uma empresa que produz as gigantescas pás –algumas com 50 metros de comprimento– que exigem apuradíssima engenharia e tecnologia de materiais para reunirem extrema leveza e resistência.
São, a rigor, como asas de avião. E a TECSIS nasceu justamente da criatividade e perseverança de um engenheiro aeronáutico, formado pelo ITA [do Comando da Aeronáutica], Bento Koike, filho de uma família japonesa que veio ao Brasil para escapar da recessão pós-guerra. Bento é um cara discretíssimo, segundo um dos poucos textos que encontrei sobre ele. Até para achar fotos dele é difícil, tamanha é sua aversão aos holofotes que se voltam para um projetista e empresário que tem seus produtos comprados pelas mais avançadas empresas do mundo, como a GE, a Alston e a Siemens, e já vendeu mais de 30 mil pás, capazes de gerar tanta energia como Itaipu, que não fica tirando onda de “gênio” e curte mesmo é, além da filharada, fazer bem o seu trabalho. Com a ajuda, essencialmente, de seus colegas de ITA.
Em 2007, ele disse á “Época Negócios” que “o sucesso da TECSIS pode ser atribuído a uma engenharia muito competente e criativa”. E segue a revista, contando que “reza a lenda que, na TECSIS, só entram formandos do ITA. É uma quase-verdade. “Vou deixar muita gente chateada se disser que são todos do ITA. Então, digo que são do ITA e de outras escolas de ponta.”, diz Bento.
Sua empresa, diante das dificuldades que enfrentou, não saiu degolando os funcionários. No início do ano passado, teve de apelar para um “lay-off” , regime no qual os trabalhadores ficam afastados da fábrica, mas continuam recebendo seus salários e fazem cursos de qualificação. O salário pago aos afastados é integral. A faixa até R$ 800 é paga com verbas do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e o restante foi complementado pela empresa. A TECSIS manteria o emprego dos cerca de 3.500 funcionários. A empresa conseguiu antecipar pedidos e, em poucos dias, voltou todo o pessoal para a linha de montagem.
Agora, com a reestruturação que envolveu o BNDES, a UNIPAR, o grupo ESTATER e os credores da empresa, a TECSIS vai ter gás para se consolidar como uma das líderes deste mercado, que só tende a crescer.
Parabéns ao Bento Koike e a todos os brasileiros que estão mostrando que desejar que este país seja líder não é perseguir moinhos de vento, embora possa ser fazê-los.
PS: Em respeito à discrição do Bento Koike, a foto que vai no post é de suas pás de turbinas. Mas que ele fique sabendo que ia uma ótima, em que ele é só sorrisos. E não por causa dos negócios, mas pelo novo filhote que chegou”.
FONTE: escrito por Brizola Neto em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com/31558/) [título e imagens adicionados por este blog]
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