Hugo Chávez caminha, sexta-feira, com as filhas María Gabriela e Rosa Virginia, em Havana, onde está sendo tratado
Por Brizola Neto
“A nossa imprensa costuma apresentar Hugo Chávez como um bronco, um desqualificado e, sobretudo, um ditador, embora ele tenha enfrentado –e vencido– uma dezena de eleições em seus 11 anos, quase 12 de poder.
Ele é, de fato, a mais perfeita encarnação do que o elitismo costuma chamar de populista.
Não apenas fala com o povo, mas fala ao povo, de uma maneira que, longe de ser simplória, é marcada permanentemente por preocupação didática, histórica e continental.
É a ele, desde sua ascensão ao poder, em 99, antes mesmo de Lula, que se deve o fato de a América Latina ter voltado a ser uma peça no cenário geopolítico mundial, e isso é algo que todo raciocínio honesto, mesmo que não simpático a ele, precisa admitir.
E, de alguma forma, admite, mesmo quando se percebe imensa “torcida” midiática internacional para que seu estado de saúde se agrave e ele seja forçado a deixar o cenário político-eleitoral do país.
Torcida, é verdade, também cheia de medo. Os efeitos do drama pessoal que vive o presidente venezuelano podem enfraquecê-lo fisicamente, mas o ampliam politicamente.
Porque ele tornou-se referência para os venezuelanos –tanto para os que o apoiam quanto para os que o combatem-, mas também para os que, sem uma atitude ou outra, perceberam que seu país passou a existir como algo além de uma grande jazida petrolífera [norte-americana].
E para a América Latina, porque provou que é possível sobreviver ao confronto com a grande potência, meio século depois de Cuba ter sido a pioneira sobrevivente.
Mesmo que –e isso parece improvável, hoje– a doença o fragilize para o embate eleitoral de 2012, quando buscará a reeleição, restaria à oposição ter vencido um homem abalado por um mal que não é político, mas humano.
Mas o que parece vir de agora por diante é diferente. O Chávez enfraquecido fisicamente pelas cirurgias que enfrentou e o tratamento que enfrentará não se enfraquecerá politicamente por isso, ao contrário.
As limitações físicas só aumentam sua percepção como símbolo, como o sol do poente aumenta a sombra que alguém projeta. E se Chávez vencer essa batalha médica, irá mais forte do que estava para a batalha eleitoral.”
FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com/ate-a-direita-tem-medo-da-doenca-de-chavez/).
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