Refinarias: mais caras e de retorno mais lento que poços de petróleo, são vitais para não exportarmos apenas óleo bruto, com menos valor e menos lucro
Por Brizola Neto
“A [agência norte-americana de notícias] Reuters anuncia que a “Petroleira francesa Total (está) de olho em pré-sal do Brasil“. Ela e todas as outras, apesar das regras que adotamos para o marco regulatório da exploração das novas jazidas. Com o petróleo nas alturas, ganhar uma pequena porcentagem já é um lucro imenso. E o petróleo no mundo, a não ser –e olhe lá– onde é conquistado pela guerra, já não é uma atividade do tipo “pega e vai levando”, sem deixar nada para os países.
Salvo, é claro, com sultanatos e tucanatos, além de países como os EUA, desesperadamente sedentos por óleo, a exploração de petróleo é algo que tem regras de participação estatal nos resultados muito severas.
Com a entrada em produção das áreas do pré-sal, o Brasil vai mudar de patamar na atividade petrolífera. Em lugar da sonhada, sofrida e buscada autossuficiência, passaremos a ser exportadores.
A decisão que temos de tomar –e que a Presidenta Dilma já deixou claro qual será– é de que seremos exportadores: de petróleo bruto ou de produtos refinados, com maior valor agregado.
A escolha parece óbvia. Mas chegar a ela não é algo simples.
Explica-se: por incrível que pareça, achar e extrair petróleo é uma atividade mais barata e de retorno mais rápido do que refiná-lo.
Uma refinaria para processara 250 mil barris/dia custa entre dez e 15 bilhões de dólares. Um poço pioneiro como o de Tupi –que é caríssimo, pela profundidade e características geológicas– custa cerca de US$ 200 mil. Os poços seguintes, pelo conhecimento da primeira perfuração, caem para 20 a 30% disso. Quarenta poços, entre os de produção e os de reinjeção de gás, nos níveis de produção encontrados ali, suprem com muitas sobras uma refinaria daquele porte, a um investimento muito menor e que começa a se pagar muito mais rapidamente.
Todo o custo do investimento em refino, hoje, é bancado pela Petrobras, que detém o monopólio, na prática, das atividades de refino.
Para atender ao refino de seis milhões de barris diários, projeção de produção da Petrobras para 2020, precisamos triplicar, pelo menos, nossa capacidade de refino. E isso não é fácil, não é rápido e não é barato, além de ser ambientalmente complexo (e caro) adequar e compensar as atividades poluidoras.
Em uma megaobra como a refinaria de Itaboraí, o Comperj, processará “apenas” 300 mil barris dia, apenas dez vezes o que é produzido pelo primeiro megapoço do pré-sal a entrar em produção, o ‘9-RJS-660’, no campo de Lula, que jorrou uma média de 28.436 barris de óleo por dia no mês de maio. E logo haverá outros semelhantes, junto dele, interligados ao navio-plataforma (FPSO) ‘Angra dos Reis’.
Precisamos, portanto, criar um fundo de financiamento ao refino de petróleo, que deve continuar a ser operado –como os poços do pré-sal– inteiramente pela Petrobras, mas pode e deve receber recursos de outras fontes. Duas delas parecem ser evidentes –os bônus de assinatura das empresas que se habilitem a prospectar petróleo– e um “bonus extra”, ligado ao sucesso –e ao volume– das descobertas e parte dos polêmicos royalties do petróleo.
Ao se tornarem “cotistas” das novas e rentáveis refinarias, com parte da propriedade delas, Estados e municípios iriam se tornar sócios –com renda permanente– da atividade petrolífera, sem que o país dispersasse recursos com a distribuição de pequenas migalhas, que não produziriam efeito econômico algum.
Esse pode ser um caminho para a solução do impasse nos royalties, se os nossos políticos conseguirem superar a síndrome do “dono da galinha dos ovos de ouro”, que estripou a pobrezinha para ganhar muito e rápido.
Mas talvez seja esperar muito. Porque, se os sábios da ANP –que saem em dezembro de seus mandatos– estão correndo para licitar novas áreas de um petróleo que nem temos como explorar de imediato, senão entregando aos estrangeiros, como é que a gente vai esperar que o prefeito de Santa Maria do Sapato Descalço entenda que é melhor ganhar sempre do que arrumar um dinheirinho rápido às vésperas de deixar o cargo?”
FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com/e-nas-refinarias-ninguem-quer-investir/).
domingo, 10 de julho de 2011
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