quinta-feira, 11 de agosto de 2011
É TEMPO DE INVESTIGAR A “FOX NEWS”
MENTIRAS, FACTÓIDES E ASSASSINATOS DE REPUTAÇÃO - O MÉTODO “FOX NEWS” DE JORNALISMO
“Desde o surgimento do escândalo da ‘News Corporation’ no Reino Unido, jornalistas do outro lado do Atlântico têm buscado casos similares nas propriedades de Rupert Murdoch na América.
Essa investigação é certamente bem-vinda, e se for descoberto que sua corporação quebrou leis nos EUA assim como no Reino Unido, então os prêmios jornalísticos vão aparecer. Mas parece-me que essas histórias têm deixado de lado duas propriedades do portfolio de Murdoch que merecem o máximo de atenção.
Uma delas é o “New York Post”. Sob o controle de Murdoch, o “Post” passou a traficar o tipo de jornalismo de tablóide malicioso e sensacionalista praticado pelo agora-defunto “News of the World”, e o “Sun”. O jornal passou a destruir (e construir) políticos, atacar inimigos, e ridicularizar cidadãos comuns. O ápice de sua amoralidade se deu na recente cobertura do caso Dominique Strauss-Kahn, quando suas capas passaram, em questão de dias, de tratá-lo como "pervertido" e passaram a rotular sua acusadora como "prostituta" (pelo que ela está processando o jornal).
Ainda assim, os pecados do “Post” são pequenos se comparados com aquela que é a jóia da coroa de Murdoch na América, a “Fox News”.
Desde o seu lançamento em 1996, a “Fox” teve um profundo e tóxico efeito sobre a imprensa e na política do país. Com uma audiência diária de 2 milhões -mais do que a CNN e MSNBC combinadas- ela se tornou o maior porta-voz do Partido Republicano. "Os Republicanos pensavam que a ‘Fox’ trabalhava para nós, e agora estão descobrindo que nós trabalhamos para a ‘Fox’", observou David Frum, um ex-acessor de George W. Bush.
A “Fox” colocou diversos pré-candidatos a presidente republicanos em seu quadro de funcionários, e permitiu que tantos outros usassem sua programação para levantar fundos. Depois de aparecer no programa de Sean Hannity, por exemplo, o candidato ao senado de 2010 Sharron Angle celebrou ter levantado mais de $40,000 antes mesmo de ter deixado o estúdio.
A “Fox” ajudou a promover o “Tea Party” e amplificar sua mensagem. Nos dias que precediam as reuniões do “Tea Party” em 15 de abril de 2009, a “Fox” divulgou mais de 100 notas promocionais em sua cobertura sobre o movimento. ("Americanos indignados com impostos", dizia um; "Eles lutam por seu futuro"). A publicidade sem fim dada ao “Tea Party”, por sua vez, ajudou a vitória republicana nas eleições parlamentares de 2010. (...)
Ao contrário do “News of the World”, não há indicação (pelo menos até agora) de que a “Fox” tenha se engajado em atividades ilegais. Mas o que ela fez foi violar todos os padrões éticos e jornalísticos. Ela alimentou teorias conspiratórias, mentiras deslavadas, acusou o Presidente Obama de terrorista, espalhou relatórios falsos de que ele teria estudado em uma escola islâmica, ofereceu espaço para Donald Trump para questionar a cidadania do presidente, e promoveu o "Climagate", uma falsa controvérsia a respeito de emails vazados por especialistas em clima da Universidade de East Anglia na Inglaterra.
De acordo com uma pesquisa de opinião realizada 6 meses após a invasão do Iraque, 67% dos espectadores da “Fox News” acreditavam que Saddam Hussein havia trabalhado junto com a al-Qaeda; outro relatório mostrava que 60% dos espectadores da “Fox” acreditavam que a maior parte dos cientistas haviam concluído que o aquecimento global não estava acontecendo. (...)
“Politicians and journalists who criticize or challenge ‘Fox’ often find themselves targeted. I know this from personal experience. In early 2009, I wrote a piece for the ‘Columbia Journalism Review’ about the troubling excesses and outrages perpetrated during the 2008 presidential campaign by the right-wing media, including radio talk-show hosts, bloggers, and, most egregiously, ‘Fox’, which repeatedly sought to tie Obama to Bill Ayers, Louis Farrakhan, ACORN, and the like”.
Políticos e jornalistas que criticavam ou questionavam a “Fox” frequentemente se tornavam alvo. Eu sei disso por experiência pessoal -no começo de 2009, escrevi um artigo para o “Columbia Journalism Review” sobre os excessos durante as eleições presidenciais de 2008, incluindo radio, bloggers, e, mais extensivamente, a “Fox”, que repetidamente tentou ligar Obama com Bill Ayers [NT: terrorista norte-americano da década de 70]; Louis Farrakhan [NT: líder da Nação Islâmica nos EUA]; ACORN [NT: associação comunitária de esquerda, falida em 2010]; etc.
[Isso tudo lembra a campanha midiática feita contra Dilma, com direito a capa com ficha falsa de terrorista, questionamentos religiosos, e ligações com grupos radicais de esquerda.]
A única pessoa a regularmente questionar a rede de televisão foi Jon Stewart. Noite após noite, seu "Daily Show" apontava os exageros da rede. (...) No show do último dia 27, Stewart ridicularizou o esforço da rede para negar que o assassinato em massa na Noruega havia sido feito por um cristão, apesar das declarações do próprio assassino, e um documento de 1500 páginas pedindo para o "ocidente recuperar o reino de cristo dos infiéis". A prontidão de Stewart para questionar a “Fox” (bem como a MSNBC e CNN quando merecido) ajudou a estabelecer sua reputação como o maior crítico da mídia nos EUA.
O que explica a reticência da maior parte dos jornalistas com relação à “Fox”? Medo sem dúvida é um fator. Ninguém quer ser emboscado por uma das equipes de filmagem ou atacado em um show de televisão. Alguns jornalistas se preocupam que, se eles investigarem a “Fox”, eles serão acusados de ser de esquerda. Outros negam a influência da “Fox”. Os críticos de televisão do “New York Times” dedicam mais atenção aos “reality shows” do que à “Fox” (ou a qualquer outro canal de notícias).
Mas a influência da “Fox” parece estar aumentando, e isso se tornou preocupantemente aparente durante o debate sobre o aumento do teto da dívida. A intransigência e o extremismo demonstrados por muitos republicanos no congresso foram possibilitados ou forçados pela “Fox” e seus comentaristas no rádio e televisão. (...)
O cone de silêncio sobre a “Fox” por parte das outras organizações de mídia ajudou a rede a avançar sua agenda. É tempo de quebrar isso. Existe tanta coisa sobre a “Fox” que merece ser investigado. De que natureza são seus laços com o Partido Republicano? Com o “Tea Party”? Aos “think tanks” conservadores, lobbies, e organizações comerciais? No ano passado, a “News Corporation” deu $1.25 milhões à Associação de Governadores Republicanos, e $1 milhão à Câmara Americana de Comércio; como isso afetou sua cobertura?
Também devemos examinar o que parece ser a natureza orquestrada da programação da “Fox”. Em dezembro passado, um email vazado mostrou ordens para que os jornalistas da emissora "evitem dizer que o planeta aqueceu (ou resfriou) em qualquer frase sem apontar em seguida que tais teorias são baseadas em dados que críticos questionam". Durante a campanha de 2008, um memorando apontava as referências de Obama ao socialismo, liberalismo, marxismo e marxistas em seu livro "Sonhos de meu Pai". (...)
No ano passado, o “New York Times” enviou três repórteres investigativos a Londres para vasculhar as práticas do “News of the World”. Depois de cinco meses de relatório, eles produziram uma história que, junto com outra investigação do “Guardian”, ajudou a criar o escândalo sobre o jornal. Por que não devotar esforços similares à “Fox”, um canal muito mais influente em território nacional?
No Reino Unido, foi preciso a revelação de um esquema de “hack” de telefones para dar um duro golpe contra o estilo-Murdoch de jornalismo. O que será necessário aqui?”
FONTE: originariamente publicado em http://www.nybooks.com/blogs/nyrblog/2011/jul/30/its-time-scrutinize-fox/; e postado por Luis Nassif em seu portal (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/e-tempo-de-investigar-a-fox-news#more) [imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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2 comentários:
Como uma pessoa ou um Blog pde mentir tanto desse jeito?
Ao Lincoln Rodrigues,
Se você sabe a verdade do que ocorre nos EUA, e que todas essas informações obtidas pela própria imprensa norte-americana são mentirosas, por favor as divulgue. Será furo de reportagem.
Maria Tereza
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