Arno Augustin
“O governo federal poupou em junho R$ 10 bilhões para pagar juros da dívida, quantia recorde para o mês. O 'Superávit primário' de R$ 55 bilhões no semestre atinge 67% da meta total de 2011, enquanto investimentos levam R$ 15 bilhões, 22% do previsto até dezembro. Para o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, o superávit tem motivo para ser festejado, pois evita superaquecimento da economia, controla inflação e impede aumentos maiores de juros pelo Banco Central.
Por André Barrocal
O governo federal economizou, de janeiro a junho, R$ 55 bilhões em dinheiro que coletara da sociedade em tributos, para destinar ao pagamento de juros da dívida pública, de acordo com informações divulgadas na segunda-feira (25/07) pela Secretaria do Tesouro Nacional.
A quantia equivale a 67% dos R$ 81 bilhões que o governo planeja represar no ano todo com a mesma finalidade. Somente em junho, foram economizados R$ 10 bilhões, um recorde no mês. Em 12 meses, foram R$ 109 bilhões, outro recorde. Já os gastos federais com obras e investimentos em geral somaram, no semestre, R$ 15 bilhões, 22% do total de R$ 67 bilhões previstos para 2011.
Esse resultado do manejo dos recursos pode incomodar quem gostaria de ver o governo investindo mais na superação de deficiências brasileiras, como os gargalos de infraestrutura ou a erradicação da miséria.
Mas é desempenho que tem motivo para ser comemorado, na avaliação do Tesouro, gestor dos recursos. “Contribui para que as pressões inflacionárias sejam menores sem que a gente tenha a mesma necessidade de política monetária que teríamos”, disse o secretário Arno Augustin.
Tradução: a Fazenda acredita que, ao guardar o dinheiro arrecadado sem devolvê-lo à sociedade na forma de investimentos ou outros gastos, ajuda a conter a atividade econômica e, com isso, a alta de juros (“necessidade de política monetária”) por parte do Banco Central (BC). Sem tamanho ajuste fiscal, o BC teria subido o juro numa proporção maior do que fez nas cinco vezes seguidas em que tomou tal decisão em 2011.
O BC concorda com a análise, que faz parte de estratégia traçada desde o fim do ano passado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e que foi chancelada pela presidenta Dilma Rousseff no início de 2011.
Ao usar o represamento de recursos no combate da inflação, o governo tira proveito do crescimento –é a atividade que gera arrecadação– sem desanimar trabalhadores e empresários com juros muito mais altos.
Dessa forma, quando as pressões inflacionárias sumirem, a economia não terá sido sacrificada, trabalhadores e empresários não terão perdido a confiança sobre o futuro do país, e a taxa de juros será menor, facilitando sua redução a patamares mais compatíveis com as observadas no resto do mundo.
O governo tem se esforçado para propagandear as benesses anti-inflacionárias de um “superávit primário” robusto, por causa da batalha contra o “mercado”, que sustenta [e alimenta] expectativas de inflação em alta [para obter maiores Selic e, assim, maiores ganhos nas suas aplicações financeiras], a despeito da ação da Fazenda e do BC.
A entrevista de Arno Augustin, com ênfase no aspecto anti-inflacionário do superávit primário e a declaração de que o corte de R$ 50 bilhões do orçamento no início do ano não será atenuado, é um exemplo disso.
Outro exemplo foi dado pelo Banco Central recentemente, em seu relatório trimestral de inflação. Pela primeira vez, o banco dedicou espaço especial a cálculos sobre o impacto do superávit primário no ritmo econômico, os quais apontam relação direta e inversamente proporcional entre ajuste fiscal e o crescimento.”
FONTE: reportagem de André Barrocal publicada no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=18118) [trechos entre colchetes adicionados por este blog].
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