segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O “MERCADO” QUER QUE A PETROBRAS SEJA O QUE A VALE FOI...

Por Brizola Neto

“O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse sexta-feira à Agência [norte-americana de notícias] Reuters que a balança de derivados de petróleo da empresa terá déficit até 2015, em meio à crescente demanda e à limitação na capacidade de refino. Ou seja, que a empresa terá de importar derivados de petróleo para satisfazer o consumo brasileiro.

De outro lado, o que não ficou expresso, é que, com nossa crescente produção de óleo bruto, teremos de exportá-lo, sem poder refiná-lo aqui.

As pessoas menos informadas dizem: que absurdo, importar derivados e exportar petróleo.

E é mesmo, mas é uma situação da qual não se pode fugir a curto prazo. E que, de quebra, ainda é agravada pela crise do etanol.

Isso é resultado da herança maldita de duas eras que o Brasil atravessou. A que ficou conhecida como “década perdida”, os anos 80 –Governos Figueiredo e Sarney– e o "neoliberalismo" –Collor e Fernando Henrique.

Até que a Refinaria do Nordeste, a Abreu e Lima, comece a funcionar no ano que vem, serão 32 anos sem que uma só nova refinaria tenha sido agregada ao parque de refino da Petrobras.

O motivo? Dois, basicamente. O primeiro, é que uma refinaria custa caríssimo –dependendo do tido e capacidade, entre 10 e 20 bilhões de dólares– consome não menos de quatro ou cinco anos para ser implantada. Tanto que você não vê nenhuma ‘multi’ falando em fazer refinaria no Brasil. Negativo, querem é concessão para furar poços e extrair petróleo. Beneficiá-lo é coisa para “gente fina”, em país desenvolvido.

A segunda razão, claro, é que o país –na recessão ou na “roda presa”-, não crescia e, assim, etanol e gás natural completavam as necessidades que surgiam, basicamente o transporte automotivo e a geração sazonal de energia.

Escrevi, quinta-feira (28), sobre o assunto, um texto que explicava que a Petrobras luta para corrigir esse crime cometido contra o Brasil. E luta contra o mercado, ávido por lucros rápidos, que não tem compromisso com o desenvolvimento harmônico do Brasil.

O texto, na íntegra, pode ser lido no blog ‘Projeto Nacional’, mas transcrevo aqui um trecho:

O Brasil precisa, desesperadamente, de novas refinarias de petróleo para chegar perto –chegar perto, prestem atenção– da demanda interna.

Sob pena de se tornar exportador de petróleo bruto e importador de petróleo refinado.

Igualzinho ao que a “lógica de mercado” nos fez viver [com a Vale], exportando ferro e importando aço.

A Petrobras fez das tripas coração para cumprir seu papel de empresa de mercado, sem deixar de ser empresa de país, do nosso país.

Cortou onde podia cortar. Reduziu e restringiu aos ótimos negócios suas operações no exterior. Está sofrendo com a falta de ação no mercado de etanol e, como se não bastasse, tendo de investir num setor onde a operação foge de sua cultura empresarial.

Porque, vocês sabem, como o álcool é negócio privado, onde vale o preço de mercado, enquanto que a gasolina, para a Petrobras, tem preço “de governo”.

A Petrobras está segurando a rebordosa nos preços da gasolina nas refinarias e enfrentando toda a sanha dos que procuram e acham espaço na mídia para bater na nossa petroleira.

O que eles não dizem é que querem que ela se lixe para o Brasil, como durante dez anos fez a Vale.

É por isso que refino de petróleo é uma palavra maldita para o ‘mercado’.

E bendita para o Brasil
.”

FONTE: escrito por Brizola Neto e publicado no seu blog “Tijolaço”  (http://www.tijolaco.com/o-mercado-quer-que-a-petrobras-seja-o-que-a-vale-foi/).

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