quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O PROBLEMA "WALL STREET" DO BRASIL


Por Mark Weisbrot (norte-americano, doutorado em economia pela Universidade de Michigan, codiretor do “Center for Economic and Policy Research”, em Washington, D.C)

Tirando os interesses do setor financeiro, não há razões para sacrificar crescimento para reduzir a inflação

“A economia brasileira está crescendo mais devagar, mas o governo está reduzindo seus gastos para aumentar seu superávit primário, algo que pode desacelerar a economia ainda mais.

A produção industrial caiu 1,6% em junho, e a atividade econômica caiu pela primeira vez desde 2008.

Embora as cifras mensais sejam erráticas e não necessariamente indiquem qualquer tendência, o quadro maior provoca perguntas sobre se a política seguida pelo governo é apropriada, diante dos crescentes riscos e ventos contrários na economia global. Não me interprete mal. A política e os resultados econômicos do Brasil desde que Lula foi eleito, em 2002, têm tido uma melhora imensa em relação a FHC.

Este [FHC], que foi objeto de muito amor e afeto em Washington por ter implementado as políticas neoliberais do "Consenso de Washington", presidiu sobre um fracasso econômico. A economia cresceu meros 3,5% por pessoa durante seus oito anos. A performance de Lula foi imensamente melhor; com crescimento per capita de 23,5%, com aumento real de 60% no salário mínimo e reduções consideráveis no desemprego e na pobreza. Realmente, não existe comparação. É provável que o mandato de Dilma tenha resultados ainda melhores.

Mas o Brasil tem um problema estrutural que é semelhante a um dos problemas maiores que temos nos EUA: o setor financeiro é grande demais e detém poder excessivo.

Como esse setor não tem muito interesse no crescimento e desenvolvimento -é muito mais obcecado por seus próprios lucros e por minimizar a inflação-, seu controle sobre o Banco Central e a política macroeconômica impede o Brasil de realizar seu potencial. E o potencial do país é imenso: entre 1960 e 1980, a economia brasileira cresceu 123% por pessoa. Se o Brasil tivesse mantido esse ritmo de crescimento, os brasileiros hoje teriam padrões de vida europeus.

A inflação está em queda no Brasil no momento -nos últimos três meses foi de 4% ao ano, contra 7% no ano passado. Tirando os interesses estreitos do setor financeiro, não existem razões para sacrificar crescimento ou emprego para reduzir a inflação. O setor financeiro é também o maior vilão por trás da sobrevalorização do real, que está prejudicando a indústria e o setor manufatureiro brasileiros. O Banco Central combate a inflação elevando o valor do real, com isso barateando as importações. Mesmo quando o governo tenta puxar o real para baixo, a nível mais competitivo, o fato de o setor financeiro negociar com vários derivativos impede de fazê-lo.

Entre os anos 2002 e 2011, a Argentina cresceu 90%, o Peru, 77%, e o Brasil, 43%. Não há razão pela qual o Brasil não possa ter uma das economias de mais rápido crescimento da região, ou mesmo do mundo.

Nos últimos quatro anos, o setor financeiro do Brasil cresceu cerca de 50%, três vezes mais que o setor industrial. Hoje, os salários dos gerentes de alto nível estão mais altos que os dos EUA.

Isso não é apenas um enorme desperdício de recursos -é muito mais destrutivo ainda devido à influência política desse setor.”

FONTE: escrito por Mark Weisbrot, norte-americano, doutorado em economia pela Universidade de Michigan, codiretor do “Center for Economic and Policy Research”, em Washington, D.C). Publicado na Folha de São Paulo com tradução de Clara Allain  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft3108201114.htm) [imagem do Google adicionada por este blog].

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