Folha propõe uma guerra civil no Brasil [seria por encomenda externa?]
Por J. Carlos de Assis, economista, doutor pela Coppe/UFRJ
"O editorial pornográfico da 'Folha de S. Paulo' divulgado no domingo, propondo, entre outras aberrações, cortes nos gastos orçamentários compulsórios como Previdência Social, Educação e Saúde, ultrapassa qualquer limite em termos de chantagem contra a Nação, jamais praticada em nome das classes dominantes brasileiras e de seus associados internacionais. De fato, o objetivo oculto por trás da obsessão do "orçamento equilibrado" é atender aos interesses do setor bancário e financeiro à custa do suor e do sangue dos brasileiros.
A "Folha", na realidade, está construindo as condições para a guerra civil no país.
Ela prega a ruptura não só da Constituição, mas do que resta do pacto solidário construído no Brasil desde a Era Vargas, e que resistiu inclusive à ditadura militar, tendo sido consideravelmente ampliado na democracia. O editorial é o mais descarado apelo ao retrocesso que as classes dominantes brasileiras jamais tiveram a ousadia de propor. Não tem qualquer compromisso com os interesses reais da população brasileira. É o enxovalhamento do povo.
Em grave crise financeira, a "Folha" chutou o pau da barrada: perdido por um, pedido por mil. Talvez acredite que um novo governo, qualquer que seja, trate financeiramente a Grande Imprensa ainda melhor do que tem feito o atual. No seu nível de irresponsabilidade, empurra milhões de pessoas para uma revolta contra as instituições, mediante a sonegação de direitos básicos que pareciam irreversíveis.
Em grave crise financeira, a "Folha" chutou o pau da barrada: perdido por um, pedido por mil. Talvez acredite que um novo governo, qualquer que seja, trate financeiramente a Grande Imprensa ainda melhor do que tem feito o atual. No seu nível de irresponsabilidade, empurra milhões de pessoas para uma revolta contra as instituições, mediante a sonegação de direitos básicos que pareciam irreversíveis.
Sabemos perfeitamente que uma guerra civil não começa como guerra civil. Começa com um estado de pré-convulsão social, do tipo instigado pela "Folha", vai para a convulsão, depois para os atentados, depois para a guerrilha. Só depois vem a guerra. E é quando os militares entram para por ordem na casa, a seu modo!
Diante desse ataque da direita radical empreendido pela "Folha", e em face do derretimento das instituições do Estado que ela expõe, o desafio que se coloca às forças progressistas é buscar formas concretas de fortalecer o estado solidário na base da sociedade, juntando as forças do empresariado industrial autêntico, não picareta, com as forças organizadas dos trabalhadores. O grande lance é a construção de pacto social negociado diretamente entre essas classes, e cujas proposições concretas sejam levadas ao Governo para aplicação em alternativa ao sistema vigente de total subserviência ao rentismo não produtivo.
Em termos teóricos, nosso desafio é fazer a revolução burguesa-industrial e a revolução social simultaneamente. A revolução burguesa, sim, porque o sistema atual coloca a indústria como escrava de um sistema financeiro de agiotagem que estrangula a capacidade de investimento, inovação e expansão do setor industrial privado. A revolução social porque, se voltarmos ao crescimento econômico, o que é perfeitamente possível, podemos não só defender como expandir o estado de bem-estar social como base da estabilidade social e política do país.
O editorial da "Folha" é um acinte porque coloca a perspectiva de uma tragédia quando temos alternativas promissoras à mão. É uma estupidez econômica achar que temos de fazer superávit primário ou evitar níveis mesmo baixos de déficit. As economias norte-americana, inglesa e japonesa vivem de déficits desde 2008. A norte-americana teve déficits gigantescos de 2009 ao ano passado (até 10% do PIB), do que resultou uma firme retomada do crescimento. Nós reduzimos o superávit primário em 2009 e 2010, e tivemos crescimento especular de 7,5% em 2010.
Não é esse déficit insignificante de 30 bilhões de reais, usado pela "Folha" para chantagear o país e forçar o abandono do projeto social brasileiro, que constitui um desarranjo da economia. O problema da economia é a ausência de um programa de investimento público, mesmo que deficitário. O déficit público de hoje, quando bem operado para investimentos em infraestrutura, torna-se crescimento do PIB e da receita amanhã. Em outras palavras, ele se paga por si mesmo como ensina há 80 anos a boa doutrina keynesiana.
Se não conseguirmos construir um grande pacto social para superarmos a crise econômica e política, e se em lugar disso, intimidado pela "Folha", o Governo implementar um programa regressivo do tipo proposto por ela, já sabemos o endereço onde os doentes sem cobertura de saúde, os idosos e aposentados despojados de direitos previdenciários, os estudantes pobres sem condições de pagar faculdades, a turma do Bolsa Família e os sem casa e tantos outros pobres devem procurar ajuda: vão todos para a porta da "Folha", esperando que ela os reenvie para a proteção do sistema bancário!"
FONTE: escrito por J. Carlos de Assis, no "Desenvolvimentistas". O autor é economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor do recém-lançado “Os Sete Mandamentos do Jornalismo Investigativo”, Ed. Textonovo, SP. Artigo publicado no site "Viomundo" (http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/j-carlos-de-assis-folha-esta-construindo-as-condicoes-para-a-guerra-civil-no-pais.html) [Título e entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política']
Diante desse ataque da direita radical empreendido pela "Folha", e em face do derretimento das instituições do Estado que ela expõe, o desafio que se coloca às forças progressistas é buscar formas concretas de fortalecer o estado solidário na base da sociedade, juntando as forças do empresariado industrial autêntico, não picareta, com as forças organizadas dos trabalhadores. O grande lance é a construção de pacto social negociado diretamente entre essas classes, e cujas proposições concretas sejam levadas ao Governo para aplicação em alternativa ao sistema vigente de total subserviência ao rentismo não produtivo.
Em termos teóricos, nosso desafio é fazer a revolução burguesa-industrial e a revolução social simultaneamente. A revolução burguesa, sim, porque o sistema atual coloca a indústria como escrava de um sistema financeiro de agiotagem que estrangula a capacidade de investimento, inovação e expansão do setor industrial privado. A revolução social porque, se voltarmos ao crescimento econômico, o que é perfeitamente possível, podemos não só defender como expandir o estado de bem-estar social como base da estabilidade social e política do país.
O editorial da "Folha" é um acinte porque coloca a perspectiva de uma tragédia quando temos alternativas promissoras à mão. É uma estupidez econômica achar que temos de fazer superávit primário ou evitar níveis mesmo baixos de déficit. As economias norte-americana, inglesa e japonesa vivem de déficits desde 2008. A norte-americana teve déficits gigantescos de 2009 ao ano passado (até 10% do PIB), do que resultou uma firme retomada do crescimento. Nós reduzimos o superávit primário em 2009 e 2010, e tivemos crescimento especular de 7,5% em 2010.
Não é esse déficit insignificante de 30 bilhões de reais, usado pela "Folha" para chantagear o país e forçar o abandono do projeto social brasileiro, que constitui um desarranjo da economia. O problema da economia é a ausência de um programa de investimento público, mesmo que deficitário. O déficit público de hoje, quando bem operado para investimentos em infraestrutura, torna-se crescimento do PIB e da receita amanhã. Em outras palavras, ele se paga por si mesmo como ensina há 80 anos a boa doutrina keynesiana.
Se não conseguirmos construir um grande pacto social para superarmos a crise econômica e política, e se em lugar disso, intimidado pela "Folha", o Governo implementar um programa regressivo do tipo proposto por ela, já sabemos o endereço onde os doentes sem cobertura de saúde, os idosos e aposentados despojados de direitos previdenciários, os estudantes pobres sem condições de pagar faculdades, a turma do Bolsa Família e os sem casa e tantos outros pobres devem procurar ajuda: vão todos para a porta da "Folha", esperando que ela os reenvie para a proteção do sistema bancário!"
FONTE: escrito por J. Carlos de Assis, no "Desenvolvimentistas". O autor é economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor do recém-lançado “Os Sete Mandamentos do Jornalismo Investigativo”, Ed. Textonovo, SP. Artigo publicado no site "Viomundo" (http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/j-carlos-de-assis-folha-esta-construindo-as-condicoes-para-a-guerra-civil-no-pais.html) [Título e entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política']
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